A natureza política é composta por espécies que se cruzam habitualmente de forma endogâmica, com pontuais dissidências. Observando outros ecossistemas, sabemos que a variedade é fundamental para a preservação de uma espécie saudável, sem problemas de consanguinidade e liberta de malformações.
É, portanto, um favor que se faz à classe política não lhe oferecer uma maioria absoluta. Fica mais resistente às pragas e ervas daninhas. Se uma maioria simples já gera casos graves de nepotismo e de acentuada queda de vergonha na cara, imaginem-se estes seres libertos do travão parlamentar, mesmo que frouxo como na legislatura que agora terminou.
Diríamos que na cultura popular “o casamento entre primos dá filhos malucos”. Tudo por causa dos cromossomas, dizem.
Na vida política este tipo de ligações carnais tem-nos dado acima de tudo uma noção de “casta”. Não sei se é por António Costa descender duma casta superior, os brâmanes, mas nesta legislatura o PS fez uma recuperação “épica”, face ao poder perdido no período da Troika.
Se é perceptível a “olho nu” que o PSD é composto por espécies que se cruzam de forma endogâmica dentro do poder económico e financeiro, também é perceptível que o PS não podendo entrar nesses domínios tão facilmente, há excepções, claro, tente sobreviver de forma endogâmica no aparelho de Estado. Este tentação é transversal a todos os partidos, mas os socialistas têm uma máquina infernal.
Como o nosso poder económico nunca foi verdadeiramente autónomo e sustentável, viveu sempre de subsídios e apoios comunitários, quando não de esquemas fraudulentos, dominar o aparelho de Estado é fundamental para se ascender socialmente, enriquecer se possível, e em última instância perpetuar-se no poder.