Vem aí mais globalização selvagem

Por mais que o desequilíbrio e a insustentabilidade do actual modelo de globalização venham sendo demonstrados e denunciados, nunca foram motivo de desaceleração da mesma. A presente pandemia desmascarou, mesmo para quem nunca quis ver, o seu lado absurdo.

Poder-se-ia ingenuamente esperar que a visibilidade desse absurdo forçasse o início da urgente mudança de rumo da política comercial e de investimento da UE. Mas o contrário é o caso.

Segundo o Comissário do comércio Phil Hogan, “embora ultimamente a maioria dos nossos esforços se tenha concentrado na resolução da crise do coronavírus, também temos trabalhado para fazer avançar a nossa agenda de comércio aberto e justo, que continua a ser muito importante. A abertura, as parcerias e a cooperação serão ainda mais essenciais à medida que reconstruirmos as nossas economias após esta pandemia“. Para Hogen, devido à pandemia,  “precisamos de ainda mais acordos de comércio livre!”.

A conclusão, no passado dia 28 de Abril, das negociações com o México, o EU-Mercosul, UE-Nova Zelândia, UE-China, UE-Austrália, UE-Indonésia, para não falar nos secretos arranjinhos que estão a decorrer com os EUA, vão continuar a expandir pelo mundo a rede de tratados que a Comissão, com o beneplácito dos estados-membros, continua a negociar e assinar.

Ou seja, irão continuar a todo o vapor a desregulação, liberalização e privatização, cadeias de abastecimento que atendem exclusivamente ao critério do baixo preço, ignorando princípios de sustentabilidade e direitos humanos, e sem a contabilização de externalidades negativas, a subserviência ao mercado de todas as áreas, a progressão explosiva e descontrolada dos fluxos financeiros com a sua própria lógica especulativa e a submissão voluntária dos estados às poderosas multinacionais (global players), no âmbito de acordos de investimento que atribuem àquelas o direito de processar os segundos em tribunais privados ad hoc, quando estes tomam decisões que possam afectar os seus lucros presentes ou futuros (através do mecanismo ISDS).

O reforço dos mercados e dos ciclos económicos regionais e locais para uma economia mais resiliente, menos dependente de longas cadeias de abastecimento (relocalização), a protecção do clima, o reforço dos serviços públicos, a aplicação do princípio da precaução, o controlo dos fluxos financeiros e a garantia do direito dos estados a regular em favor do bem comum e do ambiente – sem estarem expostos ao pagamento de indemnizações gigantescas de milhares de milhões decididas em tribunais privados -, continuarão pois a ser sacrificados à religião do crescimento infinito.

Para meu grande espanto, até Wolfgang Schäuble, o detestado ex-ministro das finanças alemão e actual presidente do Bundestag, declarou recentemente que este tipo de globalização é “injusta” e “provavelmente exagerada”. Caramba, tanto lhe deram ouvidos durante a sinistra austeridade e, agora, que neste ponto se lhe fez luz, já não convém ouvir, não é?

Comments

  1. JgMenos says:

    Uma cadeia de aprovisionamento não longa tem na autarcia económica o seu ápex.
    Como tal não existe a níveis de viabilidade e desenvolvimento assinaláveis, o comércio, o imperialismo e o colonialismo sempre foram instrumentos de internacionalização.
    Admitindo ser o primeiro instrumento o que tem hoje melhores e mais aceitáveis meios de acção, o tema da sustentabilidade vem normalmente a par de limitar as oportunidades de benefício para as população mais carenciadas do mundo, e por esse facto mais ‘baratas’ em produções de baixa qualificação técnica.
    A prazo, o acréscimo dessas transacções vai erodindo a capacidade reivindicativa em salários de populações tornadas mais ‘caras’.

    A peocupação de sustentabilidade vem sendo invocada essencialmente pela questão do transporte a grande distância e da maior exploração de recursos.
    Sendo a primeira questão óbvia, quanto à segunda a obscuridade é total:
    – O óbvio acréscimo de consumo pelas populações ‘baratas’ beneficiadas é o problema?
    – A provável compensação em benefícios perdidos pelas populações ‘caras’ é o problema?
    – Quais os equilíbrios necessários, adimtindo que os níveis de consumo das populações ‘caras’ são impossíveis de alargar a todas as populações ‘baratas’.

    Aparte a esquerdalhada que diz tudo resolver sem nunca dizer como, não se conhecem propostas para solução do problema.

    • Albino manuel says:

      Vá viver para a serra da lousada. Estou farto de bobos.


    • Só há o pequeno problema da principal exportação ser o crédito (em moeda estrangeira, também desde as colónias) com condicionantes de não industrializar e não competir. Um pequeníssimo pormenor, claro. Aliado a uns fundos estruturais para olear o auto-colonialismo.

    • abaixoapadralhada says:

      O Pide Menor, tinha anteriormente o excelente costume de mandar umas bocas foleira e Salazarentas, mas era poupado a escrever.
      Agora já não há pachora para tanta prosa.
      Deixa essas letras todas para os liberoides. que têm que fazer prova de vida, oh nazi menor

      • JgMenos says:

        Tens toda a razão, debaixodassaias!
        É muita fruta para o teu limitado bestunto.
        E levou-te a escrever três parágrafos, sete linhas, deves estar exausto.


  2. ” —–negociações com o México, o EU-Mercosul, UE-Nova Zelândia, UE-China, UE-Austrália, UE-Indonésia, para não falar nos secretos arranjinhos que estão a decorrer com os EUA, vão continuar a expandir pelo mundo a rede de tratados que a Comissão, com o beneplácito dos estados-membros , continua a negociar e assinar….”

    Esta pandemia das negociatas da UE que refere, Ana Moreno, esta fidelidade ao deus capital com a qual nos atraiçoam,
    esta lógica especulativa e a submissão voluntária dos estados às poderosas multinacionais é tão ou mais perigosa e assassina ( e “contagiosa” ) que a real pandemia de vírus coroados que se irão reproduzir pelo planeta dos umanos em ambiente cada vez mais favorável em direcção à rendição da humanidade a uma realidade global devastadora .

    ….em dias tão aflitos e de futuro incerto, sentimos a grande revolta de não termos o poder que nos defenda o reforço do direito dos estados a regular em favor do bem comum e do ambiente.
    A própria Natureza demonstrou, e com as alterações climáticas que cada vez mais irão acontecer, que há que fazer um basta !! Mas não! absurdamente os interesses de mercado e seu poder inerente e a submissão e má formação humanista e política de quem supostamente nos deveria representar e cuidar…..comportam-se de maneira vil !

    Bem haja, Ana, por corajosa e persistentemente estar presente na denúncia desta realidade que em nada nos anima, debilitados e confinados em todos os sentidos que estamos . envio abraço solidário, ânimo, companheira, mesmo a rangermos os dentes de raiva …e desesperanças !

    • Pedro Vaz (Nacionalista) says:

      Coragem é falar do Grande Taboo…a imigração em massa para países Europeus ou de Euro-descendentes. Aí sim é que se vê quem tem coragem. Criticar a Globalização só do ponte de vista económico e muito fácil e não é preciso coragem nenhuma.

      • Paulo Marques says:

        E isso é para deixar de os ir buscar para as colheitas e deixar de mudar o regime de quem não quer viver sujeito a uma moeda estrangeira ou é só para fazer de conta?

    • Ana Moreno says:

      Abraço e a maior força, companheira Isabela!

  3. JgMenos says:

    A grande conquista da democracia é que a idiotice pode ser apregoada com entusiasmo que sempre há alguém que apoia e encoraja a sua manifestação.
    A sua grande derrota sucede quando quem tem o dever de combater a idiotice se demitir de o fazer à luz de uma democraticidade de tolerância e consensos que não excluem a idiotice.

    O que seria uma vantagem – combater a idotice – transforma-se num problema – proliferar a idiotice.

    • Democrata_Cristão says:

      E aos costumes, disse nada….

    • Paulo Marques says:

      Para isso é que estou todos os dias a perguntar-te onde pára a curva de Phillips, a inflacção, e o resto.

    • POIS! says:

      Ora pois ainda bem!

      Que existe alguém como JgMenos a apregoar profusamente, explorando militantemente a “grande conquista da democracia”.

      Avada camarante!

  4. Pedro Vaz (Nacionalista) says:

    Ana Moreno continua sem tocar no Grande Taboo…a imigração em massa para países Europeus ou de Euro-descendentes.

    • POIS! says:

      Pois que grande comentário!

      Escreveu Vaz no Dablioo Cê, quando estava completamente noo a higienizar o coo.

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