O absurdo isolamento profiláctico

Há dias, um amigo disse-me para não facilitar em demasia, nem confiar em excesso pelo facto de estar vacinado, porque a vacina impede a forma grave da doença, mas não que possa contagiar ou ser contagiado. Até posso concordar, mas então para quê ser vacinado? No meu caso, que já levo de vida um pouco mais de meio-século, a simples possibilidade de prevenir doença grave, não é displicente. Mas um jovem ou adolescente, irá querer vacinar-se para quê? Se como todos sabemos a possibilidade de contrair doença grave, é ínfima, a não ser que tenha comorbilidades que o justifiquem…

Não falta quem apele à obrigação moral da população se vacinar, em nome da imunidade de grupo, embora haja quem afirme que é impossível atingir imunidade de grupo neste tipo de vírus. Nesta questão mais técnica, que não domino, ouço e leio argumentos com atenção, mas não entro na discussão.
Passemos então à frente da questão técnica e abordemos a questão moral. Só faz sentido que alguém se sacrifique pela sociedade, se receber algo em troca. Por exemplo, o facto de estar vacinado, já me permitiu utilizar o certificado digital, isentando-me da apresentação de teste, para frequentar locais públicos.
A decisão de vacinar adolescentes a partir dos 12 anos, como anteriormente a de vacinar jovens e apelar à sua adesão, só faz sentido se obtiverem algo em troca, a liberdade. Além do certificado digital, é fundamental que se coloque um ponto final ao inenarrável isolamento profiláctico. Percebo que se sujeite a quarentena quem está infectado, actualmente são 10 dias, mas sujeitar alguém a permanecer isolado durante 14 dias, só porque teve o que consideram ser um contacto de risco, sem o testar e na maioria das vezes sem estar infectado, descredibiliza o processo. Mais, até provoca que muitos evitem testar e quando o fazem, omitem informação, não se lembram com quem estiveram, evitando sujeitar familiares ou amigos a medida tão absurdamente estúpida.
Se falam em normalidade no começo do próximo ano escolar, é imperioso que não se mande uma turma inteira para casa, apenas porque um aluno assintomático testou positivo. E com ele os professores, deixando várias outras turmas sem aulas.
Que se deixem de histrionismo hipocondríaco e calmamente permitam que as pessoas aprendam a conviver com o vírus. Sem encerrar a economia ou encarcerar pessoas desnecessariamente, que só provocam revolta sem qualquer ganho prático. Pelo contrário, porque nesta fase, a maioria das pessoas contorna facilmente as regras.
Se, como nos dizem, o vírus vai continuar a circular na comunidade, durante os próximos anos, informem as pessoas e deixem-nas viver. Até porque todos temos um instinto de sobrevivência, não precisamos de governos e políticos para termos cuidado, mas de conhecimento adquirido pela informação rigorosa.

Comments

  1. Paulo Marques says:

    Porque a possibilidade de contrair efeitos graves do vírus é maior que contrair efeitos graves da vacina (cuidado com os viés nas amostras dos estudos, ou melhor, nas notícias sobre os mesmos), e porque os recursos hospitalares davam um jeitaço para outras coisas, já que os seus queridos ídolos recusam-se a sacrificar pela sociedade para que hajam mais, como em muitas outras coisas. Em troca, os jovens podem ter pais e avós mais anos em média, principalmente os imunocomprometidos, mas são escolhas.
    Quanto ao isolamento, talvez, ainda falta. Poderemos analisar o sucesso dos paraísos da liberdade que são Texas e Florida; para já corre mal, mas não deve ficar longe do possível no início, para um lado ou para o outro.

  2. Filipe Bastos says:

    “Só faz sentido que alguém se sacrifique pela sociedade, se receber algo em troca.”

    Só esta asserção permitia dias e dias de debate. O António de Almeida despacha-a num segundo. Ah, valente direitalha.

    • POIS! says:

      Ora bem!

      Então para que serviria a “mão invisível”? Ficava desempregada, a coitadinha? Dedicava-se a quê, a mãozinha? Francamente!

      Razão tinha o Candidato Vieira, que prometeu a cada português uma patinadora artística e a cada portuguesa um bailarino cubano.

      Assim é que se põe uma sociedade a funcionar!

      • luis barreiro says:

        tinha que aparecer o saudoso dos paredons.

        • POIS! says:

          Pois tinha!

          E na realidade apareceu e chama-se barreiro. Entre duas espreitadelas aos tuítes do Enviado Covidado veio aqui bostar, perdão, postar qualquer coisinha para a gente se divertir.

          Vá lá, é levezinho e não provoca efeitos secundários.

          • POIS! says:

            O barreiro quando vê a palavra cubano fica que nem pode! Aposto que fica a fumegar que nem um charuto!

  3. balio says:

    Excelente post. Concordo. É preciso acabar com os isolamentos e as quarentenas. As pessoas não devem ser impedidas de trabalhar por serem portadoras de um vírus que não causa doença a quase ninguém.

    • POIS! says:

      Pois claro!

      Até porque, mesmo com isolamento total, um tipo não está isento de transmitir o vírus. Quanto mais não seja, a si mesmo.

      Sim senhor! Li num tuite no faicebuque que já há casos!

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