A credibilidade do mensageiro

Este gráfico mostra muitas coisas.

Mostra que a Hungria tem 18 mortos diários por milhão de habitantes. Também mostra que a taxa de vacinação neste país é 60%. Mostra que os correspondentes números para Portugal são aproximadamente 1 e 85%. Ilustra também que há um bom leque de países com a mesma mortalidade de Portugal, ou mais baixa, até, e com taxas de vacinação bastante inferiores. Em França, por exemplo, a mortalidade é práticamente nula, para uma taxa de vacinação de 70%. Ou no Chipre, com 60% da população vacinada, a mortalidade é aproximadamente a mesma de Portugal. Ou mais baixa, se quisermos ser picuinhas.

O gráfico mostra muitas coisas. Mas não mostra uma correlação entre taxa de vacinação e mortes, tal como é dito nas entrelinhas da legenda. Pelo contrário, todos aqueles países, como Chipre, França, Suécia, Itália, Espanha, Islândia e Malta, mostram a inexistência dessa correlação. Se a correlação existe ou não é outra discussão. Mas o exemplo escolhido para ilustrar a sua existência é anedótico.

Não pretendo afirmar que a vacina é inútil mas sim realçar que a falta de rigor e manipulação contagia a credibilidade do que seja factual. Tal como a arbitrariedade das opções políticas, a mentira mediática quebra a confiança depositada na mensageiro. De cada vez que ouço um Frois ou leio os Expressos da nossa comunicação social, pergunto-me de quem é mão que está a segurar os fios.

Este péssimo exemplo de jornalismo é de um artigo publicado na edição impressa do Expresso deste sábado. As linhas laranja e verde foram adicionadas por mim.

Comments

  1. balio says:

    Péssimo exemplo de jornalismo, de facto.
    Como já sabemos perfeitamente desde o princípio da pandemia, esta ataca diferentemente em alturas diferentes os diversos países (e, dentro dos países, diferentes regiões deles). Nuns países e numas alturas a pandemia é mais violenta, noutros países e noutras alturas é menos violenta. Portanto, é fútil comparar a violência da pandemia em diferentes países num determinado momento a atribuir essas diferentes violências a qualquer causa sob controle do Homem.

  2. Paulo Marques says:

    Ok, Fernando, imaginando que é tudo uma treta, continuam a faltar as perguntas difíceis. Quando voltarmos às 400 camas de UCI, retiramos capacidade onde? Cancro, vascular, gripe, deixa o quê para trás atirando milhões de horas extra só este ano para o lixo?
    E França, ou qualquer outro país prestes a passar a barreira, diz primeiro que não tem mérito para cama e/ou ventilador, à peste grisalha, aos preguiçosos desempregados, aos ciganos, faz-se a limpeza a quem?
    De facto, o verdadeiro flagelo foi ver a Luz vazia, mas sempre evitaram ver aquilo.

    • Paulo Marques says:

      Qual Fernando, Cordeiro. As minhas desculpas.

    • j. manuel cordeiro says:

      Estamos a falar (no post e no comentário) de coisas diferentes.

      • Paulo Marques says:

        Não, não estamos, embora eu esteja a simplificar grosseiramente, mas também acho isso do post.
        Se acha que esta forma de garantir capacidade é má, qual é a alternativa? Sim, contractar médicos e tal, mas com crescimento exponencial é comprar pouco tempo; e depois, deixa-se quem ficar em casa, a curar “a gripe” ou outra coisa qualquer?

  3. POIS! says:

    Diz J. Cordeiro:

    “O gráfico mostra muitas coisas. Mas não mostra uma correlação entre taxa de vacinação e mortes, tal como é dito nas entrelinhas da legenda. Pelo contrário, todos aqueles países, como Chipre, França, Suécia, Itália, Espanha, Islândia e Malta, mostram a inexistência dessa correlação. Se a correlação existe ou não é outra discussão. Mas o exemplo escolhido para ilustrar a sua existência é anedótico”.

    Ora bem, resolvi “pegar” no Excel e medi a correlação entre os dados que estão no gráfico. É certo que a leitura de dados foi um pouco “a olho” (e considerei todos os pontos, mesmo os que não têm país identificado), mas devolveu-me um resultado de 0,74822.

    Se estiver minimamente correto (teria de rever os dados, o que não fiz, mas creio que o panorama será esse), dizem os manuais que se trata de uma correlação forte.

    Ou seja: correlação existe ( e basta olhar para o gráfico para o concluir). Pode é dar-se maior ou menor importância às exceções. Aí cada um é como cada qual.

    • j. manuel cordeiro says:

      Louvo-lhe a pachorra 🙂
      A escolha da palavra “correlação” não foi a melhor.

      • Senhor José, a desculpa da escolha da palavra não foi a melhor é rasca e denota má fé e falta de ética da sua parte, vale tudo… possivelmente sabe o que significa correlação, pois que queria dizer é causalidade, relação causa efeito. Sim, eu sei que correlação e causalidade são coisas diferentes, mas digo-lhe uma coisa, correlação significa causalidade mais vezes do que não significa. Estes negacionistas têm de ser combatidos à bruta.

      • Paulo Marques says:

        Não, é correlação. Pode é dizer que os erros são demasiado grandes, e, pá, até concordo que a análise não tem grande certeza em termos de grau. Mas a tendência não nasceu, nem vai acabar, com este gráfico, foi um ano disto. Não são ciência, são análises rápidas a quente, mas tem sido previsora do resultado desta.

  4. A correlação até existe, possivelmente é 0.5 a 0.6, o que nestes sistemas complexos não é mau. Ou para o autor do post correlação é todos os pontos ficarem em cima da linha recta? Para um economista a correlação apresentada não é má, longe de ser perfeita, mas mostra uma correlação aí isso mostra. Por favor não distorçam os números como juristas de Coimbra, por favor não sejam umas bestas.

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading