Ainda não deve ser desta que ligamos a máquina de fumo para a entrada triunfal do salvador

Quando se emite uma opinião sobre Gouveia e Melo, todo o cuidado é pouco. Os portugueses são particularmente sensíveis e intolerantes quando lhes mexem nos D. Sebastiões que, como sabemos, tendem a desaparecer no nevoeiro para nunca mais voltar, deixando o país ao abandono, nas mãos dos sacanas dos portugueses.

Dito isto, e fazendo os possíveis por ser o mais cuidadoso possível, começando com um mui defensivo “o vice-almirante fez um excelente trabalho à frente da task force, e eu estou muito grato por isso”, aborde-se o elefante no meio da sala: a promoção de Gouveia e Melo a Chefe, desde ontem chefe de Estado-Maior da Armada, é um prémio que resulta de uma junção de factores, mas que, lido à luz da espuma dos dias, resulta mais da vontade de Costa e Marcelo cavalgarem a popularidade do militar, da necessidade de o premiar para agradar à opinião pública e de o manter ocupado e longe da arena política, do que propriamente da sua competência e percurso militar, que não ouso questionar. Porque a questão central é o timing – e vale a pena, a propósito, ler o Carlos Esperança, no Ponte Europa – não a competência do vice-almirante.

Na capa do Público de ontem podíamos ler, a propósito do acontecimento, que “Dois minutos bastaram para Gouveia e Melo assumir novo cargo”. Uma manchete que é todo um tratado à supremacia do vice-almirante, rigoroso, austero e trabalhador, que nem em dia de festa deixa de fazer as coisas depressa e bem, como há pouco quem. Não há espaço para discursos, croquetes ou floreados. Até Marcelo, o grande “catavento”, a nossa bimby presidencial da tudologia, entrou mudo e saiu calado. A frugalidade em todo o seu esplendor.

Parece-me, portanto, uma questão de tempo, até que Gouveia e Melo inicie a sua carreira política. Nada contra, até pode vir a ser um bom político. Escusava era de se ter descredibilizado com as lengalengas que nos serviu há meses, quando afirmava que não tinha talento ou aptidão para governar, ou quando pediu uma corda para se enforcar caso decidisse meter-se na política, para agora se desculpar com frases feitas como “o futuro a Deus pertence”, ou sugerir que, “por hipótese, podia criar um movimento de cidadania”. Confirma-se: Gouveia e Melo é humano, after all. Ainda não deve ser desta que ligamos a máquina de fumo para a entrada triunfal do salvador.

 

Comments

  1. Alexandre+Barreira says:

    …..o “rapaz” vai longe…….num futuro não muito longínquo……ainda o vamos ver como PR…..daquém e dalém mar…..!!!

  2. JgMenos says:

    Tudo muito mais simples:
    O pesporrente PS sempre quer dizer o mesmo: nós somos o Estado!

  3. CHEGA, Menos! says:

    O pesporrente Menos sempre quer dizer o mesmo:
    O Estado deve alimentar umas centenas de usurários e rentistas, a bem da economia de casino.
    Não fosses tu o verdadeiro Troll, e até acreditávamos seres alguém deste planeta.

  4. Imperador da Pontinha says:

    A vocação da marinha é mais a construção de campos de golfe…

  5. POIS! says:

    “Máquina de fumo”?

    Ná! É melhor um aspersor.

    O homem não é almirante?

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