A história de Sérgio: o Sousa Pinto

Sérgio Sousa Pinto é um senhor que encontramos sempre no café da rua, de há uns 20 anos para cá. É quase mobília. Está lá sempre, nunca falha, a compor a sala.

Antigamente, quando era mais jovem, o senhor Sérgio era um homem activo, dinamizador, pungente. Falava com toda a gente, ajudava a servir às mesas, deixava as maiores gorjetas e ainda era capaz de fazer o fecho – só na carolice.

Agora? Agora não. Não sei se foi da vida, não sei se lhe aconteceu alguma coisa, mas o velho Sérgio hoje não fala com ninguém a não ser com um puto de gravata, chamado Sebastião, que lá aparece e que pede sempre um copo de leite morninho (o Sérgio que só se sentava connosco, a malta do lúpulo, do tinto e da aguardente!). Sentam-se os dois, velho e adolescente, todos os dias no canto direito da sala – lugar taciturno, lúgubre e húmido. O Sérgio, hoje já sem a genica de outros tempos, lá vai resmungando umas coisas imperceptíveis. Imperceptíveis para nós que conhecemos o Sérgio há mais de 20 anos… mas o jovem que com ele se senta ri-se de tudo o que o Sérgio diz. Não admira que seja o Sérgio a pagar os copos de leite ao miúdo.

Quando era jovem, antes de se ir embora, o Sérgio dizia sempre:

  • Tenham um resto de bom dia, camaradas!

Hoje em dia, a única coisa que conseguimos perceber vinda dos lábios do Sérgio é, também, a despedida. Só que a memória não é mesma e as palavras já não saem iguais. Agora, antes de sair, o Sérgio grita sempre:

  • Eu sou afilhado do Mário Soares!

Não sei se é a ânsia de não se esquecer, não sei se é para nos relembrar, mas a verdade é que parece ser a única de que se orgulha na vida, pois é a única coisa que sai perfeita da sua boca. Não é bonito de relembrar, mas percebe-se a dicção.

E depois lá vão eles, o Sérgio agarrado à bengala a murmurar desalentos (bengala que diz, com orgulho, ter sido feita pelo mesmo madeireiro que fez a cadeira ao Botas) e o jovem Sebastião (que foi quem lhe ofereceu a bengala) ao lado a rir muito de tudo o que o Sérgio diz e não se percebe.

No outro dia, surpreendentemente, o Sérgio berrou a toda a gente no café uma frase que se ouviu inteira:

  • Eu sou um social-democrata!

E responde-lhe o Oliveira, um social-democrata:

  • Então eu sou um anarquista!

O Sérgio e o Sebastião nunca mais lá apareceram.

Comments

  1. José Ferreira says:

    Hum, o autor parece estar incomodado de não ter a clarividência do SSP… Quanto ao Sebastião para a idade não é assim burro de todo, era gajo para ser servido por eles para mim seria uma honra para o autor seria uma ofensa de tão reles figuras.

    • João L Maio says:

      Não… eu estou com inveja é de não ter a sorte do SSP! Tanta mediocridade e tantos anos a compor ramalhetes. A minha mediocridade só me chega para escrever aqui. É diferente.

    • João L Maio says:

      Quanto ao Sebastião… o José por acaso não é amigo dos pais do Bugalho, não? Para já, as únicas pessoas que conheço que gostam do Bugalho são os pais do moço, o SSP e quem lhe arranjou os tachos.

  2. Carlos Silva says:

    …o velho, o rapaz e o burro, em versão “social democrata”…!

  3. Carlos Silva says:

    O velho, o rapaz e o burro, em versão “social democrata” !

  4. JgMenos says:

    Pecado capital: não conforme ao corretês da cambada!

    • POIS! says:

      Pois, para ser mais correto…

      A história deveria ser intitulada:

      “O velho, o rapaz e o Menos”.

      Assim é que está bem!


  5. Lê-se isto e conclui-se que aquele vídeo viral (acerca das teses da iluminada vereador do Livre na CML) em que o Sousa Pinto reduz esta esquerda caviar ao ridículo (perigoso) que é, e sempre foi, acertou mesmo no paiol. O ridículo mata, de facto.

  6. POIS! says:

    Pois é!

    É um lunático, mas dentro da realidade. Que é a dele.

    Principalmente quando está possuído pelo espírito de Mário Soares, ninguém é mais realista. Costuma suceder depois do almoço.

  7. Paulo Marques says:

    Como sempre, se quem defende o anti-democrata são os fascistas, estou bem sem saber o que se passou na pocilga. Era qualquer coisa sobre Lisboa não merecer ser uma cidade como uma cidade europeia moderna?