O fim de um ciclo. O início de outro.

Fotografia: João L. Maio

Catarina Martins deu muito à esquerda portuguesa, fez crescer o Bloco de Esquerda (BE) como este nunca tinha crescido antes. Merece, portanto, todos os elogios dos democratas e dos militantes e eleitores do BE.

Perseverante, estóica e delicada, Catarina Martins deu um novo rumo ao BE e um novo rumo à esquerda. Colocou o BE no lugar onde este deve estar: perto das decisões que influenciam a vida das pessoas. Obrigou o Partido Socialista a pôr-se de joelhos, duas vezes. É verdade que, em certas alturas, se aproximou (ou quis aproximar) demasiadamente do poder, mas também é verdade que foi essa aproximação que amedrontou o PS e o obrigou a apostar as fichas todas na maioria absoluta, que hoje é mais empecilho do que virtude para os social-liberais do Largo do Rato. E é, também, graças ao trabalho de Catarina Martins enquanto coordenadora do BE que o PS, quando fala para dentro, tenta ser uma espécie de BE 2.0; enquanto que, quando governa, se mostra como uma espécie de PSD+IL.

Segue-se, presumivelmente, Mariana Mortágua na liderança do partido. Está preparada, ou não estivesse a ser preparada para o lugar há vários anos. Traz consigo a bagagem acumulada da experiência enquanto figura de proa de Comissões de Inquérito e carrega consigo a empatia de muitos dos que se revêem na esquerda à esquerda do PS como uma solução credível para o futuro do país.

Na imagem, Catarina Martins olha em frente, encara o futuro do Bloco onde estará Mariana Mortágua, que na imagem olha para trás, encarando os milhares que a acompanham e torcem por ela. A Catarina Martins, o meu mais profundo obrigado. A Mariana Mortágua, toda a força.

Somos muitos, muitos mil, para continuar Abril.

Escavacar um monte negro de costa a costa para construir a casa do coelho

O sacro-santo Cavaco Silva falou. Mais uma vez. Sempre que Cavaco fala, especialmente depois de findado o seu tempo enquanto figura activa e parte integrante da política portuguesa, tem um condão: o condão de unir a esquerda.

Cavaco Silva falou e disse. Deixando de parte a baixeza de certas partes do seu discurso, apontou a este governo os traços da incompetência, da desfaçatez, dos números de circo. Não está errado, isso é certo. Teria toda a razão de ser, se tais críticas não fossem feitas por… Cavaco.

Cavaco Silva, o mesmo que agora aponta tantos epítetos negativos ao governo, é o mesmo Cavaco Silva que, no seu segundo mandato enquanto primeiro-ministro (PM), acumulava “casos e casinhos” semana sim, semana não. O mesmo Cavaco que agora enumera os truques deste governo e descreve a bandalheira em que se encontra o Estado de Direito Democrático da República, era o mesmo que, nos seus dias enquanto chefe de governo, via passar-lhe por debaixo do nariz os Dias Loureiro, os Duarte Lima, os Oliveira e Costa, à boleia dos BPNs da vida. Este Cavaco é o mesmo que, enquanto Presidente da República, usava e abusava da comunicação institucional da Presidência para se defender e desmentir acusações de que era alvo. É certo que vivemos hoje na época dos cliques, das vinte e quatro horas ininterruptas de serviço informativo; nos anos 90, tínhamos de esperar pelo fim‑de‑semana, todas as semanas, para sabermos qual era o novo caso em que estava mergulhado o governo de Cavaco. Agora, aparentemente, é o Cavaco dos ataques e das acusações tendo como alvo o Partido Socialista. A memória afecta toda a gente, é um facto, mas não devia afectar Cavaco Silva que, para todos os efeitos, apresenta lucidez quando fala, dentro de casa, da casa dos outros. [Read more…]

Syriza a ver-se grego: as eleições na Grécia

Kyriakos Mitsotakis, dos conservadores do Nova Democracia, é re-eleito. Fotografia: Milos Bacanski/Getty Images

O Partido da Nova Democracia voltou a vencer as eleições na Grécia. Sem maioria, o que obrigará a uma segunda volta e, posteriormente, a uma ginástica parlamentar, mas volta a eleger um governo, depois dos anos em que o partido social-democrata, o Syriza de Aléxis Tsípras, galvanizou o eleitorado farto da crise e dos acordos com os FMIs da vida.

A surpresa é, lá está, o próprio Syriza, que atinge apenas os 20%. Mas, a meu ver, o Syriza não perde votos para a direita conservadora (por muito que, há uns tempos, a estratégica aliança com os conservadores populistas dos Gregos Independentes tenha sido um erro de palmatória – que levou, aliás, a que vários dos seus mais activos militantes saíssem do partido de Tsípras). Perde votos para os outros partidos de centro-esquerda e de esquerda, que crescem. Assistimos ao ressurgimento dos social-liberais do PASOK, que julgávamos já mortos e enterrados, e à subida dos comunistas do KKE. [Read more…]

O espectro do socialismo que paira sobre o PSD

Pinto Balsemão afirmou, na intervenção que fez na cerimónia dos 49 anos do partido, que defende um PSD de centro-esquerda, à imagem daquilo que sempre defendeu Francisco Sá Carneiro. Imagino a ovação. E o ar perplexo dos doutores de Castelo de Vide, que acham que o Sá Carneiro era um feroz neoliberal e o PSD um partido nascido para combater o socialismo.

Marxismo liberal

Da exposição: os 50 anos do Partido Socialista.

O Partido Socialista (PS) foi marxista por um breve período da sua História.

O socialismo democrático ou, se quisermos simplificar, a social-democracia clássica morreu no PS no dia em que decidiram que, por puro tacticismo eleitoral, o melhor seria ceder à ideia de Bloco Central e se tornaram no extremo-centro que hoje representam (e ocupam).

Da social-democracia clássica ao social-liberalismo de hoje, impulsionado pela ideia de Terceira Via introduzida por Tony Blair (e que é um favor ao neo-liberalismo europeu – já o dizia Margaret Thatcher) foi um instante.

A Juventude Socialista ainda tenta, por breves momentos, ressuscitar o PS de esquerda da fundação, sobretudo como estratégia de captação de jovens para as suas fileiras, mas rapidamente se transformam em tecnocratas neo-liberais quando lhes cheira a poder (quem é que, no seu perfeito juízo, denominaria como “socialistas” políticos como António Costa, Sérgio Sousa Pinto, Fernando Medina, Francisco Assis ou António José Seguro?). É pena, perde a esquerda e perde o país, envolto neste engodo de socialistas que não o são.

Consequência de tudo isto, não é admirar que os programas políticos do Bloco de Esquerda ou do PCP – Partido Comunista Português sejam, hoje, de cariz essencialmente social-democrata, pois vieram, com o tempo, ocupar um espaço que estava desocupado com a viragem do PS à direita.

A história de Sérgio: o Sousa Pinto

Sérgio Sousa Pinto é um senhor que encontramos sempre no café da rua, de há uns 20 anos para cá. É quase mobília. Está lá sempre, nunca falha, a compor a sala.

Antigamente, quando era mais jovem, o senhor Sérgio era um homem activo, dinamizador, pungente. Falava com toda a gente, ajudava a servir às mesas, deixava as maiores gorjetas e ainda era capaz de fazer o fecho – só na carolice.

Agora? Agora não. Não sei se foi da vida, não sei se lhe aconteceu alguma coisa, mas o velho Sérgio hoje não fala com ninguém a não ser com um puto de gravata, chamado Sebastião, que lá aparece e que pede sempre um copo de leite morninho (o Sérgio que só se sentava connosco, a malta do lúpulo, do tinto e da aguardente!). Sentam-se os dois, velho e adolescente, todos os dias no canto direito da sala – lugar taciturno, lúgubre e húmido. O Sérgio, hoje já sem a genica de outros tempos, lá vai resmungando umas coisas imperceptíveis. Imperceptíveis para nós que conhecemos o Sérgio há mais de 20 anos… mas o jovem que com ele se senta ri-se de tudo o que o Sérgio diz. Não admira que seja o Sérgio a pagar os copos de leite ao miúdo.

Quando era jovem, antes de se ir embora, o Sérgio dizia sempre:

  • Tenham um resto de bom dia, camaradas!

Hoje em dia, a única coisa que conseguimos perceber vinda dos lábios do Sérgio é, também, a despedida. Só que a memória não é mesma e as palavras já não saem iguais. Agora, antes de sair, o Sérgio grita sempre:

  • Eu sou afilhado do Mário Soares!

Não sei se é a ânsia de não se esquecer, não sei se é para nos relembrar, mas a verdade é que parece ser a única de que se orgulha na vida, pois é a única coisa que sai perfeita da sua boca. Não é bonito de relembrar, mas percebe-se a dicção.

E depois lá vão eles, o Sérgio agarrado à bengala a murmurar desalentos (bengala que diz, com orgulho, ter sido feita pelo mesmo madeireiro que fez a cadeira ao Botas) e o jovem Sebastião (que foi quem lhe ofereceu a bengala) ao lado a rir muito de tudo o que o Sérgio diz e não se percebe.

No outro dia, surpreendentemente, o Sérgio berrou a toda a gente no café uma frase que se ouviu inteira:

  • Eu sou um social-democrata!

E responde-lhe o Oliveira, um social-democrata:

  • Então eu sou um anarquista!

O Sérgio e o Sebastião nunca mais lá apareceram.

Não ser social-democrata, mas ser o Partido Social-Democrata

Em 1989, o realizador João César Monteiro lança “Recordações da Casa Amarela”, o primeiro filme de uma trilogia, em que o autor interpreta um seu alter-ego. Hoje, Rui Rio exaltou em mim, a propósito do debate com Catarina Martins, várias recordações da casa laranja. Lembrou-me, também, de que demagogia é feito o PSD: um partido chamado “social-democrata” sem um único social-democrata nas suas fileiras.

Recordemos um outro alter-ego.

 

Deixem os impostos em paz

Portugal está em ebulição com os mais recentes aumentos do preço dos combustíveis, que se juntam a toda uma factura fiscal para lá de obscena, que já o era, bem antes das últimas subidas. Não pela sua dimensão, que continua a ser, no global, inferior à de algumas das nações mais prósperas do planeta, mas porque o retorno que os contribuintes recebem do Estado português está longe, a anos-luz, de ser proporcional ao esforço fiscal a que são submetidos.

Em bom rigor, e olhando para os números e para os factos, não para alguma propaganda libertária ou ultraconservadora anti-Estado, parece-me inegável que as democracias mais prósperas do planeta, a todos os níveis, nomeadamente aqueles que verdadeiramente interessam ao grosso das populações, como os sistemas de saúde, a educação, a segurança social, o auxílio a trabalhadores desempregados, o apoio às franjas mais desfavorecidas e/ou excluídas e, claro, o bem-estar geral e índices de felicidade, são aquelas que aplicam taxas mais elevadas sobre os rendimentos do trabalho e/ou de capital, com o caso dos países nórdicos à cabeça. Não há como contornar isto. A diferença, claro está, reside na proporcionalidade e no rigor da gestão da coisa pública.

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Não é vitória. É castigo

Em 2001, Fernando Gomes perdeu a Câmara do Porto, por castigo.

Foi o preço por ter aceite trocar a cidade do Porto, pelas delícias do estatuto de Ministro-adjunto e da Administração Interna na capital do império em 1999, em pleno mandato de Presidente da Câmara do Porto.

As gentes do Porto não gostaram da troca. E, tal como a mulher abandonada que vê à porta o marido regressado da casa da amante, porque as coisas não deram certo, as gentes do Porto bateram-lhe com a porta na cara.

Rui Rio, contra os oráculos, tornou-se presidente da Câmara do Porto, porque Fernando Gomes foi castigado pela infidelidade.

Ontem, as gentes de Lisboa não deram a vitória a Carlos Moedas: castigaram Fernando Medina.

O socialista, há poucos dias, tinha sido considerado pela esmagadora maioria dos inquiridos numa sondagem, como mais arrogante do que Carlos Moedas.

Foi a permanente arrogância de Fernando Medina, a principal razão do castigo. E o caso das informações às embaixadas – e, pior, o modo como lidou com todo o processo a salvar o seu gabinete de apoio e queimar na praça pública um funcionário -, caiu mal. Muito mal.

Até porque os valores de Abril, são queridos por muita gente que não é comunista ou sequer socialista. É gente de um centro social-democrata que sem cravos ao peito, defende, também, a democracia, a liberdade, a igualdade, o direito à manifestação, à privacidade, à inviolabilidade da sua correspondência e o respeito pela dignidade da pessoa humana. E, também, não suporta bufice. [Read more…]

Jorge Sampaio, sempre!

Ontem vimos partir um dos nossos melhores. Um combatente destemido, um espírito culto e pleno de substância, um político excepcional, um exemplo para muitos, onde orgulhosamente me incluo, e, sobretudo, um homem bom. Uma das poucas reservas morais que nos restavam de uma classe política em decadência. Sempre do lado certo da luta.

Jorge Sampaio enfrentou o Estado Novo pela primeira vez no início dos anos 60, enquanto líder estudantil, durante a sua passagem pela Faculdade de Direito de Lisboa, numa década marcada pelo Maio de 68. Já advogado, defendeu presos políticos em julgamentos viciados pelo regime fascista, sem nunca tremer ou hesitar. Corajoso, voltaria a desafiar o regime ditatorial ao concorrer à Assembleia Nacional pela CDE em 1969. Correu sérios riscos, apesar da vida confortável onde se poderia ter refugiado, mas que nunca o demoveu.

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Extermínio Social Democrata

Foto: Nuno Pinto Fernandes/ Global Imagens@JN

Na Alemanha, potência e motor da Europa, existe um cordão sanitário que só por uma vez esteve em risco de ser quebrado, na Turíngia, na eleição regional de 2020. Angela Merkel, que classificou a participação da CDU numa aliança presidida pelo FDP que incluía a AfD de “imperdoável”, impôs a retirada do partido do acordo e o líder regional dos conservadores caiu. E notem que foram os conservadores, não os liberais, quem se afastou da extrema-direita, o que não deixa de ser interessante de analisar à luz daquilo que apregoa o próprio liberalismo.

Como resultado, subiu ao poder Bodo Ramelow, candidato do Die Linke, apoiado pelo SPD, Verdes e com a abstenção da CDU. Ao optar por esta solução, Angela Merkel deu um claro sinal à Europa. Um sinal que certa direita radicalizada se recusa, por cá, a aceitar. Merkel disse-nos: não se fazem alianças com fascistas. E, se for necessário fazer uma cedência ao Bloco de Esquerda lá do sítio, nos antípodas do partido de Merkel, que assim seja. Mas não com a extrema-direita. Nunca. [Read more…]

Olof Palme

Reza a lenda que, no pós-25 de Abril, numa visita de Estado a Estocolmo, Olof Palme terá questionado Otelo Saraiva de Carvalho sobre o propósito da revolução. Perante a resposta “acabar com os ricos”, Palme ter-lhe-á dito que, na Suécia, estavam há 20 anos a tentar acabar com os pobres. Nos 11 anos que se passaram entre este encontro e a noite do seu assassinato, a 28 de Fevereiro de 1986, Olof Palme dedicou a sua carreira política a este e a outros propósitos, igualmente nobres, deixando para trás um legado que se perpetuou até aos dias de hoje e que em muito contribuiu para que a Suécia se tornasse numa das mais prósperas nações do planeta, onde os poucos pobres que restam estão mais protegidos do que muitos daqueles que, por cá e não só, trabalham de sol a sol.

Olof Palme foi uma das grandes figuras da social-democracia, apologista de um modelo económico misto, capaz de conciliar uma iniciativa privada livre com um Estado Social robusto e abrangente, que não deixava ninguém para trás. Destacado defensor do sindicalismo, foi sob a sua batuta que se registaram os maiores avanços em matéria de legislação laboral, garantindo uma ampla moldura de direitos e protecções aos trabalhadores.

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Nenhuma nação foi bem-sucedida pondo em prática políticas de esquerda, excepto todas as que foram

Sempre que alguém ousa tecer uma crítica aos abusos do capitalismo, na sua forma mais selvagem e desregulada, rapidamente surge alguém que nos recorda uma de duas coisas (ou ambas): que 1) Cuba e Venezuela existem e que 2) nenhuma nação foi bem-sucedida pondo em prática políticas de esquerda.

Sobre o primeiro ponto, é interessante verificar que raramente se traz a China para esta equação, apesar de se tratar de um regime que monitoriza, persegue e oprime os seus cidadãos como nenhum, talvez com a excepção da Coreia do Norte. Imagino que tal não seja alheio a uma das características desse incriticável capitalismo, na sua forma mais selvagem e desregulada: a China é o seu motor. E porque, é bom dizê-lo, não faltam governos e governantes, no ocidente democrático, a sonhar com um poder (proporcionalmente) igual ao de Xi Jinping. Erdogan, Orbán, Bolsonaro, Borisov ou Morawiechi, os candidatos acumulam-se e já nem se dão ao trabalho de dissimular. [Read more…]

A minha social-democracia é melhor do que a tua

Vejo por aí muita indignação com a afirmação de Marisa Matias, que se autoproclamou social-democrata. Vinda dos lados do PSD é irónico, visto tratar-se de um partido que, de social-democrata, tem apenas o nome. Poderá até tê-lo sido até ao início da década de 80, mas fechou a social-democracia numa gaveta, há muitos anos, e nunca mais de lá a tirou.

Vamos a factos: o PSD é um partido de direita conservadora, cada vez mais liberal no que toca a políticas económicas, característica que se começa a evidenciar com Durão Barroso e que atinge o ponto alto com Passos Coelho. Já a social-democracia, ideologia progressista que se situa no centro-esquerda do espectro, é filha do socialismo e neta do marxismo. [Read more…]

Bernie Sanders against the system

Nos chamados early states, Bernie Sanders parecia imparável na corrida pela nomeação democrata, apesar da oposição do establishment do DNC e dos tais moderados que Wall Street, o lobby do armamento e a big pharma costumam trazer na lapela para operações de marketing fofinhas. No Nevada, a vitória foi esmagadora. Na Carolina do Sul, a vitória de Biden era expectável. Mas o sistema cercou Sanders. Klobuchar e Buttigieg, do tal grupo dos moderados de lapela, abdicaram no timing perfeito, jurando lealdade a Joe Biden, um candidato fraco que será esmagado por Trump com a mesma facilidade com que esmagou Hilary Clinton, ao passo que Warren se mantém na corrida, ainda que sem grandes hipóteses, fragmentando um eleitorado que, em larga medida, partilha com Sanders. Resta Mike Bloomberg, um oportunista endinheirado, proveniente do Partido Republicano, que está aí para nos recordar que, na “Land of the free”, se pode disputar a presidência pelo preço certo em euros.

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O marxismo e outros demónios

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Aprecio bastante esses grandes debates virtuais, por estes dias a propósito da mais recente crise política venezuelana, em que se mistura socialismo, comunismo, marxismo ou até – juro que vi – anarquismo, como todos estes conceitos correspondessem a uma e à mesma coisa. Alarvidades deste género, naturalmente, servem na perfeição a agenda de estupidificação promovida por certos sectores à direita, uns assumidamente violentos e antidemocráticos, outros aparentemente muito bonzinhos e cristãos, apesar de servirem, entre outras coisas, de asilo para o que sobrou do energúmeno salazarismo. [Read more…]

PSD: o Povo Livre que era socialista e agora não sabe muito bem o que é

psd

Houve um tempo em que o PSD era pelo socialismo. Hoje é difícil perceber o que realmente será. Nuns dias é liberal, noutros vive pendurado na manjedoura estatal, por vezes e conservador e quando a coisa corre mal abre uma gaveta na São Caetano, sacode o pó e tira de lá a social-democracia. Tem dias em que é mais troikista do que a Troika mas se as eleições estiverem à porta corre a distribuir aumentos e nomeações na função pública. Em campanha compromete-se a não aumentar impostos, chegado ao poder impõe um brutal aumento da carga fiscal e, regressado à oposição, indigna-se com todo e qualquer aumento de impostos. As contradições, tal como as orientações ideológicas, multiplicam-se e a indefinição é absoluta. Alguém me explica que PSD é este?

Fotomontagem nacionalizada à Os Truques da Imprensa Nacional

O lema

Muitos autores o dizem: a necessidade de auto-afirmação é uma das mais relevantes determinantes do comportamento humano. Partindo deste princípio, poderíamos ensaiar um pujante ensaio sobre a razão que leva o PSD a definir como lema do seu congresso “social democracia sempre!”. Mas fenece-me a vontade e confesso o meu desprezo pelo objecto de tal estudo. Por isso, limito-me, singelamente, a considerar que tal consigna é uma pura vigarice e uma operação de publicidade fraudulenta na qual só acreditam os pobres de espírito dos quais, como se sabe, é o reino dos céus, já que tanto desprazam o da terra.

Social-democracia: partir em caso de emergência

PSD

A social-democracia, enclausurada numa gaveta nos confis sombrios da São Caetano à Lapa, é uma espécie de extintor numa caixa de vidro que o PSD ameaça partir em caso de emergência. E digo ameaça porque nunca chega a sair da gaveta não deixando, porém, de servir o seu propósito do convencer uns quantos da existência de uma viragem à esquerda num partido que tratou de esmagar o Estado Social durante quatro anos. Um partido que liderou um governo que procurou colocar em prática uma espécie de liberalismo privatizador ao serviço das mais altas clientelas enquanto a precariedade, a pobreza e a destruição dos direitos laborais alastravam. Eles bem podem encenar a farsa da social-democracia as vezes que quiserem. Sá Carneiro continuará às voltas no túmulo.

A farsa da social-democracia está de volta

PPC

O primeiro-ministro deputado Pedro Passos Coelho incorporou a fórmula Marcelo Rebelo de Sousa e percebeu que a sua ressurreição política não se resolve com o paleio de saco pós-Legislativas da ilegitimidade. Vai daí temos um novo Passos Coelho, em contagem decrescente para uma eleição para a qual não se lhe conhece um único oponente, e surge, qual Marcelo a discursar na Voz do Operário, com o slogan “Social-democracia, sempre“. Depois de anos enfiada no fundo de uma gaveta fechada a sete chaves, a farsa da social-democracia está volta. Mais um bocadinho ainda voltam a ser Pelo Socialismo.

O Pedro Passos Coelho de há cinco anos precisa de um upgrade

foto@expresso

foto@expresso


Hoje o director da campanha do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Duarte, dá uma entrevista ao ” Expresso ” muito interessante, curta, mas assertiva.

Como diz Pedro Duarte ” O Passos de há cinco anos está desactualizado “. E o problema é exactamente este. O ex-secretário de estado e antigo deputado do PSD coloca precisamente o dedo na ferida.

O actual Partido Social Democrata teve nos últimos 5 anos um posicionamento e uma deriva para uma direita neo-liberal. Porém o que esteve na origem da formação do Partido, fundado por Francisco Sá Carneiro, foi uma matriz social-democrata assente em grande medida no pensamento político de Willy Brandt, Helmut Schmidt e Olf Palme adaptada à realidade sociológica portuguesa.

Talvez muitos não tenham conhecimento mas Francisco Sá Carneiro fez vários contactos internacionais de modo a integrar o Partido, na Internacional Socialista e consequentemente no Partido Socialista Europeu, de forma acentuar a sua natureza social-democrata, reformista e europeísta.

Aliás a mudança de designação de Partido Popular Democrático para PPD/PSD tinha como objectivo a sua integração na Internacional Socialista, mas a influência do Partido Socialista, nomeadamente de Mário Soares, impediu a pretensão de Francisco Sá Carneiro.

Aliás, o actual director da Microsotf, Pedro Duarte, afirma e muito bem que ” o PSD deve perceber que nasceu no centro-esquerda “. Entendo também que o PSD precisa de muito rapidamente recentrar-se politicamente, mas isso apenas poderá acontecer se Pedro Passos Coelho tiver a capacidade de regenerar o Partido, percebendo que o País vive um novo tempo, apresentando novas ideias e novos protagonistas.

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Quando o PSD era Pelo Socialismo

Portas JSD socialismo

Houve um tempo em que o PSD se assumia como um partido social-democrata, posicionado no centro-esquerda do espectro, e tinha como órgão oficial de comunicação um jornal chamado “Pelo Socialismo que, ironicamente, chegou a ter como director-adjunto um jovem promissor de seu nome Paulo Portas, que mais tarde acabaria por virar costas ao PSD, cansado do socialismo, tão em voga na década de 70, e dos “quadros medíocres” que tornavam a sua militância “uma grande maçada“. [Read more…]

A farsa da social-democracia

PPC MAC

Apeados de forma legítima, o desespero de Passos Coelho e companhia em regressar ao poder começa a causar vergonha alheia. Mas não há outro caminho para os radicais. A corte passista sabe bem que, se o novo governo durar até 2017, o destino mais que certo no PSD serão as eleições internas. Desesperada, a direita radicalizada insiste no discurso de negação da democracia representativa e continua, qual cassete encravada, a repetir até à exaustão a narrativa gasta do golpe de Estado que a maioria do país já não leva a sério. Como de resto nunca levou. A isto junta-se a insistência na convocação de eleições antecipadas que esta última não agradou aos rapazes de Passos Coelho que ficaram sem tachos. Eles bem tentaram (e conseguiram) nomear algumas centenas de amigos antes de serem despejados, mas já não dá para enxamear a Administração Pública como o vinham fazendo até aqui.  [Read more…]

Porque é que o PSD já não é social-democrata?

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O historiador Rui Ramos escreve um artigo de opinião em que para responder à sua pertinente pergunta que dá título ao mesmo deveria primeiro explicar aos leitores o que é a social-democracia.

Entendo que para um historiador não fica bem escrever um artigo de opinião desta natureza sem o enquadrar de uma forma intelectualmente honesta numa perspectiva ideológica, histórica e politica. Isto não é opinião é desinformação.

Eu, ao contrário do que escreve Rui Ramos, entendo que hoje o PSD ja não é social-democrata devido a uma deriva radical, não propriamente de Pedro Passos Coelho, mas sobretudo dos seus homens mais próximos que passaram a ter uma influência crescente nas suas decisões e intervenções públicas.

A generalidade dos militantes do PSD nao imagina, nem sonha o que pensa e como actua a ” entourage ” mais próxima  que acompanha Passos Coelho desde que chegou à liderança do PSD. Mas também considero que já faltou mais tempo para os militantes do PSD saberem quem são na sua verdadeira génese estas pessoas.

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O PPD / PSD está em ” estado de coma “

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O que é feito do PPD/PSD fundado por Francisco Sá Carneiro? Onde estão os princípios, os valores, as causas e a ética política defendida por Sá Carneiro?

O PPD/PSD de Sá Carneiro era um partido do centro que, comparado com este “ novo PSD “ com toda a certeza seria, hoje em dia, um partido de centro-esquerda que defendia o estado social assente em três pilares basilares, a saúde, a educação e a segurança social. E que estes pilares deveriam ser garantidos pelo Estado.

Há vários anos que o PSD está doente porque o exemplo de destacados militantes como Dias Loureiro, Duarte Lima, Isaltino Morais, Valentim Loureiro, Arlindo de Carvalho e Oliveira Costa, feriram de “morte“ a credibilidade do Partido Social Democrata, a partir de meados da primeira década de 2000, em que foram tornados públicos vários casos escandalosos que envolveram estes e outros militantes do partido.

Entretanto as maiores distritais do partido foram tomadas por dirigentes políticos medíocres, carreiristas, sem quaisquer méritos, completamente dependentes da política. A partir daí passou a valer tudo para manterem os seus lugares, porque estes e apenas estes valiam para a manutenção dos seus lugares e das suas enormes clientelas.

Mais tarde, em 2010, com Pedro Passos Coelho ascenderam a lugares cimeiros do partido dirigentes políticos do tipo “ trepa-trepa “, em que o mérito era medido em função do número de votos dos “ exércitos “ que comandavam e que valiam exclusivamente para a eleição do presidente do partido. A mediocridade passou a ser premiada. Quanto pior melhor que assim não incomodavam. E esta passou a ser regra.

Se até então o PSD estava doente passou a viver em “ estado de coma “.

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As dores de crescimento da social-democracia

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Lamento ver António Costa tratado como um delinquente e o PS como se tivesse ensandecido. Na entrevista de ontem, na SIC-N, Ana Lourenço (uma boa jornalista, perdida para o discurso autoritário prevalecente, que não admite alternativa), esteve no limite do respeito. O tom (arrogante, embora com a suavidade formal que a caracteriza), o conteúdo (sem isenção) e o objectivo (malicioso) das suas questões revelaram uma vez mais a agenda da Impresa, e também a que ponto está impreparada para fazer uma entrevista política daquela importância num momento como este. Talvez apenas Flor Pedroso (para falar dos jornalistas das tevês) tenha essa preparação.

Sem surpresa, as perguntas procuraram uma vez mais questionar a legitimidade democrática da coligação táctica que tornou possível a convergência da social-democracia do PS e do socialismo das esquerdas (sendo certo que em 2011 o PSD e o CDS agiram de igual modo para poderem governar com maioria parlamentar), escrever o futuro próximo da esquerda à luz da sua História recente, e, sobretudo, defender a prorrogação da licença do clube de acesso reservado ao poder a que chamam “arco da governação”.

Terminada a entrevista, o canal interrompeu a emissão (um debate de comentadores sobre a entrevista de Costa) para dar voz a Francisco Assis.

Perpendiculares e não coincidentes

Fazer o óbvio, em política, nem sempre tem sido a distância mais curta entre as práticas dos governantes e a vida de cada um de nós.linhas

E, para a direita, tal opção geométrica resultou numa equação simples – juntar duas linhas bem distintas: o PSD e o PP – e criar uma nova realidade matemática em que duas linhas se transformaram numa só. No entanto, tal fusão, deixou de fora a social democracia e por isso, há tanto PSD com os pés de fora.

À esquerda, em 41 anos, tivemos duas linhas paralelas que, apesar dos pontos de contacto, teimaram em fazer um caminho paralelo, sem nunca se encontrarem.

Para surpresa da direita conservadora, descobriu-se, há uns dias, que é possível juntar duas ou mais linhas, sem que, obrigatoriamente, se tornem imediatamente coincidentes.

E esta é a chave da questão – manter três linhas em movimento, com contactos nos pontos em que o povo fique a ganhar. Ora, tal objectivo está mais do que alcançado, até porque foi essa a opção eleitoral dos portugueses.

PS, BE e PCP já se entenderam e agora só falta o mais complicado: fazer o óbvio.

Nota: para os Proenças e Assis, a quem a direita dá palco fica uma questão geométrica: a quadratura do círculo. Liguem ao Pacheco Pereira, que ele explica.

 

Um País dirigido por governantes e políticos fracos, nunca poderá ser um País Forte.

Tinha 18 anos quando me filiei no PPD / PSD, já lá vão 24 anos. Tenho muito orgulho em ser social-democrata. Acredito na social-democracia de Willy Brandt que teve como seguidores, entre outros, Olof Palme e Francisco Sá Carneiro, que veio a fundar o PPD a 6 de Maio de 1974.

logo ppd+psd

Identifico-me com um PSD que, como um dia descreveu Francisco Sá Carneiro, não assenta ” apenas numa simples democracia formal, burguesa, mas sim, numa autêntica democracia política, económica, social e cultural. Uma democracia política que implica o reconhecimento da soberania popular na definição dos órgãos do poder político, na escolha dos seus titulares e na sua fiscalização e responsabilização, que exige a garantia intransigente das liberdades individuais, o pluralismo efectivo a todos os níveis e o respeito das minorias, não existe democracia se não houver alternância democrática dos partidos no poder, mediante eleições livres, com sufrágio universal, directo e secreto.”

Entendo, como sempre defendeu Sá Carneiro, que a democracia social impõe que sejam assegurados efectivamente os direitos fundamentais de todos à saúde, à habitação, ao bem-estar e à segurança social, e exige a abolição das distinções entre classes sociais diversas e a redistribuição dos rendimentos, pela utilização de uma fiscalidade justa e progressiva.”

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Porque os sociais-democratas estão-se afastar do actual PSD.

O programa eleitoral da coligação PSD / CDS está muito longe da matriz social-democrata que defendo e que esteve na génese fundação do PPD / PSD pelo Dr. Francisco Sá Carneiro.

Lamento que o programa da coligação tenha uma marca mais forte do CDS do que do PSD. Um exemplo paradigmático é o Estado aparecer como assistencialista sendo que o desenvolvimento social é defendido à custa da contratação pública.

Entendo a social-democracia como uma ideologia em que o estado social deve assentar em três pilares basilares, a saúde, a educação e a segurança social. E estes pilares devem ser garantidos pelo Estado. Se assim não for estamos perante um regime assistencialista em que o Estado apenas paga aos coitadinhos dos pobrezinhos. Esta é uma visão inaceitável hiper-redutora do papel do Estado.
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Dava uma bela presidente

Magdalena OgorekNão vou colocar em causa a competência de alguém que não conheço nem fazer julgamentos antecipados ao estilo da elite parola da extrema-direita obcecada por unicórnios. A menina Magdalena (sim, consta que ainda é solteira) pode ter tanto de competente com tem de atraente. Mas que a escolha de uma ex-apresentadora de TV e ex-consultora de comunicação do Banco Central da Polónia com 35 anos, cuja experiência política parece roçar o nada, para representar os sociais-democratas do SLD na corrida para as presidenciais lá do sítio causa alguma estranheza, isso causa. Agora que dava uma bela presidente, disso ninguém terá dúvidas. Entre esta jovem e o ser que habita o Palácio de Belém eu não pensava duas vezes. O pior que poderia acontecer seria a menina Magdalena mostrar-se tão inútil quanto Cavaco, com a diferença que a cara dela não causaria enjoo e vómitos a ninguém.