Otelo, vencerás porque o povo vencerá!

Misael Martins*

Cumpre-se hoje, 25 de julho, um ano da morte de Otelo Saraiva de Carvalho, figura incontornável da história da segunda metade do século XX português pela sua valorosa participação no desenho das operações militares que depuseram o fascismo e inauguraram o biénio revolucionário de 1974/75, período ao longo do qual Otelo desempenhou múltiplas funções e se destacou, no campo revolucionário do MFA, por dirigir o Comando Operacional do Continente (COPCON).
Otelo foi muitas coisas e o seu projeto político não era heterodoxo nem se consubstanciou sempre nas mesmas pretensões. Representa, no entanto, e essencialmente, uma confiança nas massas, uma convicção de que o caminho da revolução devia ser desenhado pelo povo, direta e autonomamente, organizado nas suas próprias estruturas, e não por comités centrais, conselhos militares ou decretos parlamentares. Não deixa de ser curioso que seja um militar, entre os homens com efetivo poder, um dos únicos (e seguramente dos primeiros) a entender isto de forma tão clara entre a esquerda portuguesa: se a revolução queria triunfar, então teria de se apoiar no povo, nos órgãos populares de base, naquilo que as massas já estavam a construir, muito antes de verem ser-lhes reconhecido esse direito.
A este respeito, é de assinalar o frente-a-frente entre os candidatos às primeiras eleições presidenciais pós-revolução, realizado em junho de 1976, data em que, em rigor, o
projeto político global de Otelo já estava derrotado – ou pelo menos cada vez mais distante.
Prova disso é o discurso operacional e conciliador dos seus três oponentes (Ramalho Eanes
chega a falar numa “necessidade de adoptar programas de emergência para a reconciliação
nacional” e para o sarar de feridas, abertas, entenda-se, pelo período revolucionário), que Otelo rebate sempre com a necessidade de resolver os problemas do povo, a urgência da organização popular e do prosseguimento da revolução social. Idealista, talvez. Radical
romântico, decerto. Mas não só: intransigente nas suas convicções e seguro da via da transformação.
O desaparecimento de Otelo, falho e contraditório como todas as figuras históricas individuais, não resulta, certamente, num consenso nacional sobre a memória coletiva a preservar a seu respeito. Nem seria de esperar que assim fosse. Há, no entanto, factos indesmentíveis: Otelo foi um dos mais significativos obreiros do levantamento militar de 25 de Abril de 1974, que libertou Portugal de um regime odioso. É essa a relevância histórica de Otelo. E sobre o 25 de Abril (e o regime político que até aí vigorou) o Estado português guarda uma memória institucional, como não poderia deixar de ser. A nossa democracia, saída de uma revolução antifascista, é necessariamente antifascista. E é, por isso, lamentável para a nossa democracia que um dos mais destacados defensores da revolução que a pariu não tenha tido direito nem a um simples (mas simbólico) funeral com honras de
Estado.
Ou talvez até faça sentido que assim seja. Otelo não lutou por esta democracia esvaziada, podre, ilusória, retórica. Otelo lutou por uma democracia real, participada,
direta, popular. Uma democracia que o fosse de facto: um governo do povo. Apetece repetir-lhe, como diziam as paredes desse tempo luminoso de participação e esperança, “Otelo, vencerás porque o povo vencerá!”.

  • Aluno do 1. ano de História da FLUP

Comments

  1. JgMenos says:

    Temos um palerma com idade para sê-lo, a enaltecer um idiota retardado, histriónica cabeça de cartaz do que se tornou uma histriónica revolução ao serviço dos oportunistas de sempre!

    Terminou no registo que cumpre a valia das suas ideias: criminoso cúmplice em vis assassinatos.

    • POIS! says:

      Ora pois! Citando:

      “Temos um palerma com idade para sê-lo, a enaltecer um idiota retardado, histriónica cabeça de cartaz do que se tornou uma histriónica revolução ao serviço dos oportunistas de sempre!

      Terminou no registo que cumpre a valia das suas ideias: criminoso cúmplice em vis assassinatos.”

      Ora aí está. Uma autocrítica fica sempre bem.

      Uma prosa a repetir de cada vez que o Menos enalteça o Oliveira da Cerejeira.

    • Paulo Marques says:

      Filho, os oportunistas de sempre foram os que o puseram de lado para fazer isto, e cuja riqueza poupas para fora do país. Só te podes queixar do teu sucesso.

    • Amora de Bruegas says:

      Bem observado! De facto, OSCarvalho é a imagem moral e governativa da data da perfídia, confirmado pelo terrorismo que liderou e assassinou mais de 20 pessoas, inclusivé um bebé! Quanto à governação, o terrorismo faz parte da mesma quando está em mãos vermelhas, confirmado pelos fogos e suas centenas/milhares de vítimas, assim como o endividamento e o viver de euro-esmolas. Um povo que gosta de viver de euro-esmlas, merece melhor?

      • POIS! says:

        Ora pois!

        Aliás, os “vermelhos” mesmo são os culpados de tudo.

        Principalmente os fardados e de solidéu na cabeça. Já lá vão mais de 300 vítimas de abuso por padrecos, beatos, beatas e catequistos, sob o silêncio dos “avermelhados” e candidatos a tal.

        O povo, realmente, merecia melhor.

  2. Pimba! says:

    Um Homem à frente do seu tempo.
    Quando se fala em “democracia directa”, era o que Otelo defendia.
    Só que Otelo confiava no povo português, muito para lá do que esse merecia. Otelo acreditava que um povo que nem se chateou muito por estar sob uma ditadura de quase 50 anos, de repente iria pensar progressivamente. Querias!

    Errou? É normal, Otelo era humano.

    • Amora de Bruegas says:

      Era humano e está onde merece, juntos dos seus camaradas MSoares, Acunhal, JSampaio, JEstaline, Mao, Lenine e FCastro….

      • POIS! says:

        Ora pois!

        Já a malta da Irmandade dos Quartos Pastorinhos, a que vosselência pertence, tem lugar lá no sítio onde estão papas, bispos, padrecos, catequistos e beatolas.

        Está recheado de mais de 300 fotos de crianças nas paredes. Para enfeitar.

      • Paulo Marques says:

        Que puta de salada.

  3. JgMenos says:

    Não posso deixar de manifestar a minha satisfação e o reconhecimento da utilidade deste post.
    Promete-me divertimento abundante:
    «…confiava no povo português, muito para além do que ele merecia», é um bom começo!

  4. José Ferreira says:

    O Povo, o Povo quer é pão e circo…

    • POIS! says:

      Pois. E o Quarto Pastorinho sabe isso perfeitamente.

      Por isso tem-se multiplicado como palhaço, ilusionista (já fez por várias vezes desaparecer um grupo parlamentar inteiro!), prestidigitador, malabarista, equilibrista, contorcionista…

      O Chen que se cuide!

  5. João Mendes says:

    “A nossa democracia, saída de uma revolução antifascista, é necessariamente antifascista.”

    Bem-vindo, Misael!

    • Misael Martins says:

      Obrigado, João!

      • JgMenos says:

        ´És tu o FLUP, Misael?
        Não deixes de me deslumbrar com a heroicidade dos heróis de Abril, dos sucessos da Reforma Agrária, dos saneamentos de fascistas, dos SUVs, das FP25 e todo esse manancial de emoções da canalha esquerdalha.
        Se te sentires mais confortável, as multidões assassinadas pela PIDE também asseguram um percurso interessante, em particular se a equiparares aos feitos progressistas do Che Guevara e outros paladinos da construção socialista, que tanto inspiraram o teu herói Otelo..
        Uma ou outra experiência de revolução cultural e democracia directa também serão amplamente inspiradoras para a esquerdalhada aqui do Aventar, que vem perdendo folgo doutrinário e se agarra ao Chega e ao quarto pastorinho, numa clara quebra de ímpeto evangélico para promoção da sua própria doutrina.
        És jovem, idealista, talvez tenhas acesso a livros e arquivos, cabe-te iluminar os infiéis e mobilizar os crentes.

        • Paulo Marques says:

          Que Reforma Agrária? Que saneamento? Os paladinos são mais da tua religião.

  6. José Ferreira says:

    isso é para limpar a a imagem do Che tuga?
    o ideal fica sempre bem não é…
    em vez de sarar feridas manteve-as abertas.
    Realmente o seu raciocínio é de quem sempre viveu á sombra do Estado não é…

    • Ricardo Pinto says:

      Quem é que sempre viveu à sombra do Estado? O miúdo tem 19 anos.

      • POIS! says:

        Mas veja, Ricardo, para alguns só há duas situações possíveis…

        Ou á sombra do Estado ou ao sol do Quarto Pastorinho.

    • Paulo Marques says:

      Pois, era um incómodo não se ter limpo a imagem de tanto fasço para voltar ao mesmo, não era?

  7. Joana Quelhas says:

    Mais um Comuna prá coleção do aventar. Fresquinho, com a guita toda vai desfiar as alarvidades todas do costume.
    Aposto que logo vem a “luta Palestina”. A luta lgbt…etc
    Enfim…

    Joana Quelhas

    • POIS! says:

      Ora pois!

      Já Vosselência não figura em qualquer coleção.

      Compreensivelmente. Já todos a temos para troca!

    • Paulo Marques says:

      Ainda não descobriu o comando da Internet? É só ir ali em cima e escrever outro endereço cheio de fasços. Não faltam.

  8. Anonimo says:

    É uma leitura como outra qualquer. Como a censura do EN ja se foi, e a do woke ainda não chegou, pode exprimi-la. Há quem concorde e discorde.

    Não sei ao certo o que é uma democracia popular e directa, e no que é melhor que a actual. É que o “povo” tem a tendência a nem sempre votar “bem”. O resultado podia não ser aquele que os Otelos esperariam, aí teria de entrar em força a educação das classes.

    • Paulo Marques says:

      Ufa, afinal ainda não há censura, e o cancelamento popular não existe. Estava a ficar preocupado…

      • Anonimo says:

        Ainda, é a palavra chave.
        Enquanto a censura vai e vem, folgam os comentários.

      • Anonimo says:

        Mas que já andem por aí, andem. Nem são precisos óculos do Roddy Piper para os reconhecer.
        Para já, só querem cortar a trança da Pereira.
        Continuar a desvalorizar. O maluquinho lampião da bola também não ia a lado nenhum
        Tik tok 4ever.

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