O 25 de Novembro do 24 de Abril

Pode ler-se num cartaz do município lisboeta que “Lisboa recorda o 25 de Novembro de 1975”. Parece-me muito bem que a capital do país tenha boa memória e que todas as datas sejam estudadas, analisadas e até festejadas por quem as quiser festejar. A fotografia escolhida para o cartaz revela, entretanto, falta de estudo.

As diferentes correntes ideológicas têm todas, em princípio, direito à vida, a não ser que ponham em risco a vida dos outros. Quando o país republicano comemora o 5 de Outubro de 1910, os monárquicos preferem celebrar o 5 de Outubro de 1143, porque terá correspondido a um momento fundacional.

Note-se que não faltam, aos monárquicos, datas para comemorar, até porque a República portuguesa, com os seus 113 anos, é uma criança à beira de uma monarquia que durou mais de 700 anos. Ele é a bula Manifestis Probatum, ele é Aljubarrota, ele é a Restauração, datas, mais datas e ainda datas.

Mas porquê então comemorar o 5 de Outubro? Porque o objectivo é apagar a comemoração republicana. E está tudo certo, porque, felizmente, vivemos em liberdade por causa de uma certa data que não vou agora revelar, porque quero criar aqui algum suspense.

Uma pessoa lê, portanto, o cartaz pago pela câmara de Lisboa e fica a saber que a cidade irá recordar o 25 de Novembro de 1975. Talvez isso queira dizer que a maioria das forças políticas que governa a cidade esteja de acordo com essa decisão, o que não é verdade.

Assim, as pessoas que decidiram avançar com as comemorações dos 48 anos do 25 de Novembro de 1975 não representam propriamente a cidade de Lisboa, pelo que faria mais sentido que o cartaz incluísse qualquer coisa como “Carlos Moedas recorda o 25 de Novembro de 1975” ou “Carlos Moedas e alguns vereadores recordam o 25 de Novembro de 1975”. E ficar-lhes-ia bem pagarem as comemorações do próprio bolso, incluindo naturalmente a concepção e a impressão do cartaz.

Na verdade, tal como os monárquicos que comemoram o 5 de Outubro, o que Carlos Moedas e muita direita querem é obscurecer o mais possível as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e, mais uma vez, está tudo muito bem. Esta é a direita que chama ‘socialismo’ à actuação do PS, a mesma direita que desrespeita o contributo dos partidos de esquerda para a história da democracia portuguesa, a mesma direita que, no fundo, usa o poder democrático para amarfanhar direitos, uma direita que usa os recursos públicos para fazer tudo o que lhe apetece, incluindo pagar comemorações de datas históricas por razões puramente ideológicas, enquanto finge que se quer investigar História. Esta é, aliás, a direita que vive obcecada, por pura má-fé, com a doutrinação ideológica que grassa pelas escolas portuguesas, vítimas de professores comunistas e afins que escondem coisas aos alunos, catequizando-os nas catacumbas e nos túneis encomendados à Parque Escolar.

Carlos Moedas é um admirador de Cavaco Silva, o homem que concedeu a dois pides a pensão que negou a Salgueiro Maia. São escolhas que a democracia, na sua infinita nobreza, permite. 25 de Abril sempre!

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Excelente texto. Sempre oportuno. No fundo a explicar-nos de forma didática, que o PSD vai do liberalismo à extrema direita. O liberalismo morreu com Sá Carneiro, Magalhães Mota, Sousa Franco, … Resta-nos aquele direita saudosista e a sua nova versão trauliteira, o Chega.
    Esta gente está hoje bem mais próxima de Orban, Geert Wilders e Giorgia Meloni, que do falecido fundador do PSD, Francisco Sá Carneiro.

  2. José Meireles Graça says:

    O presidente da Câmara de Lisboa é um grande vaidoso porque julga que representa a Câmara de Lisboa quando quem a representa é quem não o conseguiu ser; já o 25 de Abril devia pertencer aos comunistas e primos porque o aproveitaram para ter o seu momento; e o 25 de Novembro aos democratas porque impediram os comunistas de valerem mais do que a sua expressão eleitoral.

  3. Professor B says:

    Nabais, eles nunca pagarão a concepção do cartaz. Só admitem pagar a conceção do cartaz. Estão convencidos de que fica mais em conta…

  4. Portanto, vivemos num regime socialista do qual o 25 de Novembro nos livrou, não fosse o 25 de Abril apagar tudo o que é positivo sobre o fascismo.
    Um direitolo nem inventado.

    • Anonimo says:

      O fachodar do P Marques não falha

      • Não tem nada a ver comigo, nem com o fascismo, diga lá: vivemos no socialismo ou fomos salvos do socialismo? Ou é o simples culto da meritocracia da incompetência de quem deixa o trabalho pela rama e vai descansar 50 anos?

  5. Joana Quelhas says:

    “… As diferentes correntes ideológicas têm todas, em princípio, direito à vida, a não ser que ponham em risco a vida dos outros. …” ,
    que é precisamente o caso da ideologia comunista, por isso se deve festejar o 25 de Novembro.
    Sem o 25 de Novembro quantas pessoas os comunistas teriam matado e torturado ? A coisa já estava fora de controlo, 3 meses após o 25 de Abril já haviam mais presos políticos que no dia 24 de Abril…
    Claro que os apoiantes da ditadura comunista que Cunhal queria implantar com a ajuda dos seus amigos sovieticos, vão de imediato negar.Mas já sabemos o lema do comuna é : negar, negar negar e negar.

    Joana Quelhas

    • POIS! says:

      Pois claro ó Qwlllellllass!

      Já haviam mais presos políticos já! Haviam haviam, e ai de quem diga que não haviam! Era um horror. Até se vendiam as célebres sandes de “Mindinhos de Prisioneiro” em carroças espalhadas por essas Quelhas de Lisboa afora!

      Será que, sem o 25 de novembro, não se iria resvalar para “hamburgers de lombo de facho”? Já sei que muitos vão negar mas há documentos guardados a sete chaves que já vi na internette que provam que estava em curso uma campanha a incitar ao consumo de proteína para dar vazão ao Tinto Salazaresco acumulado nas caves.

      Essa é que é essa!

    • É natural, antes só estavam presos subhumanos.

  6. JgMenos says:

    Que final tão impressionante!
    Pois o capitão não teve reforma adicional?
    Pois os PIDE não foram exterminados? Nem postos a morrer à fome?
    25 de Abril sempre!

    Idiotas!

    • POIS! says:

      Pois foi!

      Há que reconhecer que as legítimas expetativas dos pides tinham sido lamentavelmente defraudadas.

      Não só tinham descontado longos anos para a Caixa como ainda tinham direito a bonificações, que nunca foram pagas, um escudo por bofetão, dez escudos por arrochada e 100 escudos por cada vez que os presos confessavam coisas importantes, tais como “fui eu que escrevi Os Lusíadas” ou “fui eu que pus a bomba no carro blindado do Oliveira da Cerejeira” (o que foi confessado por mais de 3000 presos, veja-se a enorme produtividade da PIDE).

      Tudo isto está provado em numerosos documentos guardados na famosa “Torre dos Tombados”.

    • Infelizmente, não; nem os PIDE, nem os carrascos, nem sequer os banqueiros.

    • Tuga says:

      JgMenos !

      “Pois os PIDE não foram exterminados? Nem postos a morrer à fome?”

      Da sorte dos teus colegas da escola de sete Rios devias tu saber muito bem.

  7. Anonimo says:

    Enquanto a Europa se vira, em países “atrasados” como Países Baixos e Suécia (não se pode esperar muito de uns retrógradas que nem Repúblicas têm), em Portugal discute-se qual 25 de há meio século atrás é o melhor. Eu, contínuo a votar no 31 de Julho.

  8. Padre Marx says:

    Fico à espera que o coninhas do Modeas e a sua cambada de Imbecis neoliberais comemore também o 11 de Março.

  9. João Mendes says:

    Fascismo nunca mais!

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