
1.
Francisco partiu. O Papa que tentou e conseguiu reaproximar a Igreja das pessoas já não está entre nós. Mas deixa um legado disruptivo, fundado numa mundivisão mais próxima dos ensinamentos de Jesus Cristo, que colocou os pobres, os migrantes ou as vítimas de abusos sexuais e da violência armada no centro da sua acção. Para grande irritação dos extremistas que instrumentalizam o Cristianismo como arma de arremesso na sua cruzada por um Ocidente mais autoritário, mais intolerante e menos livre.
A disrupção causada por Francisco, contudo, não se esgota na narrativa. Longe disso. Francisco foi o primeiro jesuíta e o primeiro latino-americano a liderar a Igreja Católica. A lista de visitas pastorais incluiu países periféricos e pobres como a Albânia, o Sri Lanka, a República Centro Africana, o Bangladesh ou Myanmar. Visitou Lampedusa e ali rezou pelos migrantes que se afogaram no Mediterrâneo. Foi o primeiro papa a visitar o Iraque. Apostou no reforço do diálogo inter-religioso com ortodoxos, muçulmanos, judeus e budistas. E não teve medo de agarrar o touro dos abusos sexuais na Igreja pelos cornos, não se limitando a abordar o tema, mas tomando medidas efectivas para responsabilizar os membros do clero envolvidos.
Francisco foi um papa corajoso.
Não se acomodou ao status quo de uma instituição naturalmente conservadora.
Aliás, a sua coragem foi tal que abriu um precedente inesperado, permitindo que os padres católicos abençoassem casais do mesmo sexo e manifestando-se contra a negação da comunhão a políticos católicos que defendessem o direito ao aborto. Não porque fosse defensor da homossexualidade ou da prática do aborto, contra a qual de resto sempre se opôs, mas porque entendia com clareza a mensagem de tolerância que está na génese do Novo Testamento. Uma mensagem que muitos católicos parecem não ter percebido ainda, por muitos terços que rezem. Porque ler a Bíblia dá muito trabalho.
2.
Não menos corajosa foi a atitude perante alguns dos grandes problemas do nosso tempo, que, desde sempre, levaram muitos membros do clero a optar pelo conforto do silêncio.
Francisco não teve receio de mostrar a sua oposição à guerra, na Ucrânia como na Palestina, de condenar o extremismo religioso, assinando, para o efeito, uma declaração conjunta com o líder xiita iraquiano Ayatollah Ali al-Sistani, ou de censurar publicamente os crimes de guerra cometidos contra populações civis, perpetrados por tiranos como Putin ou Netanyahu.
De igual forma, foi crítico dos desequilíbrios gerados por uma economia mundial ao serviço de uma pequena elite, cujas fortunas aumentam a ritmos alucinantes e sem precedentes, enquanto a miséria se espalha e reproduz, apesar de nunca, em momento algum da história, tanta riqueza ter sido produzida.
Tal postura valeu-lhe acusações bizarras e sem nexo, como o epíteto de “comunista”, como se só aos discípulos de Marx e Engels coubesse defender e acreditar numa sociedade onde é possível uma redistribuição da riqueza mais equitativa que melhore as condições de vida dos mais pobres, sem que isso belisque a vida faustosa dos bilionários.
Francisco reconheceu também a urgência dos problemas climáticos que afectam o mundo, considerando que as vozes dos mais jovens, que herdarão o planeta, deviam e podiam ser ouvidas. Defendeu políticas mais cristãs para migrantes e refugiados. E afastou-se – e bem – das guerras culturais entre esquerda e direita. Francisco foi um não-alinhado. E isso valeu-lhe a oposição e o ódio dos sectores que, na política, se arvoram defensores do Cristianismo. Pese embora sejam a sua total negação.
3.
A extrema-direita odiou o Papa Francisco. E o seu ódio é a prova factual de algo que o politicamente correcto impede os extremistas de direita de assumir: que o seu Cristianismo é falso. Que não passa de uma construção política desonesta, com o propósito único de arrebanhar eleitores verdadeiramente devotos e/ou conservadores.
Javier Milei, presidente da Argentina e um dos grandes ídolos de dirigentes e militantes do Chega, chamou-lhe – perdoem-me a linguagem, mas quero ser objectivo – “esquerdista filho da puta”. E, a propósito da defesa de mais justiça social, escreveu o seguinte tweet: “Seria bom se começasses a distribuir as riquezas do Vaticano aos pobres, seu pedaço de merda”. Eis um excelente exemplo dos valores cristãos que a extrema-direita diz defender.
Sendo o exemplo de Milei um exemplo extremo, ele ilustra bem os choques que a agenda de Francisco gerou junto de políticos como Santiago Abascal, Jair Bolsonaro, Marine Le Pen, Matteo Salvini ou Donald Trump. Porque, ao contrário dos restantes, Milei não se esconde por trás do politicamente correcto para mascarar o seu extremismo. Assume-o. E Francisco foi uma pedra no sapato dos extremistas que, repito, não são devotos ou sequer cristãos: são egomaníacos que usam todos os meios para atingir os seus fins.
E o cristianismo é, para estas pessoas, um meio como outro qualquer. Um meio que serve para normalizar o discurso de ódio, a acumulação sem limites de riqueza por parte de uma pequena elite, a destruição do ambiente como forma de potenciar essa acumulação, a destruição das instituições e a sua substituição por um poder autoritário sob a forma de oligarquia, a pobreza como forma de subjugação ou a erradicação dos direitos humanos. E, na verdade, o Cristianismo rejeita todas estas coisas. Mas estas pessoas estão dispostas a reescrever as palavras do Senhor. O pecado mortal não os demove.
4.
Se acharam as palavras de Milei demasiado agressivas, reparem no que escreveu a actriz Maria Vieira, deputada municipal do CH, na sua conta no Twitter. Eram 10 da manhã de 21 de Abril e o corpo de Francisco ainda estava quente:
“Bergoglio foi um comunista do capeta e um defensor de esquerdistas, de muçulmanos, de bandidos, de «picolhos» e de «travecos”. Que Deus lhe perdoe.”
Como pode um cristão despedir-se do Santo Padre desta forma?
Que ódio é este, que mais parece saído da boca de um Taliban?
Mas, lá está, antes a honestidade de Maria Vieira, que deixa a nu o seu verdadeiro carácter, do que a habitual hipocrisia do seu líder. No dia em que Francisco faleceu, André Ventura agradeceu-lhe “por tudo”. O mesmo André Ventura que, não muito tempo antes, acusou Francisco de prestar “um mau serviço ao Cristianismo” e de contribuir “para destruir as bases do que é a Igreja Católica na Europa”.
Nunca vou compreender como é possível alguém achar que Ventura ou outro extremista de direita representa os valores do Cristianismo, como se Jesus tivesse pregado o ódio aos imigrantes e a vassalagem aos oligarcas. Alguém fez de conta que leu a Bíblia, ou então saltou Mateus 25:35 e encontro com os vendilhões do templo “sem se aperceber”.
Francisco era a antítese de políticos como André Ventura e de toda a propaganda de ódio e divisão da extrema-direita. Fez um trabalho imenso pela humanidade, mas os novos fascistas nunca o perdoarão. Perdoar seria demasiado cristão para eles.
Descansa em paz, Francisco.
E obrigado por tudo o que fizeste por nós.







Parabéns João Mendes pela excelência do texto escrito que não é mais do que a verdade nua e crua, só não vê quem não quer e os hipócritas deste mundo.
Aqui está mais uma prova que o Partido Chega é uma fraude conforme tenho vindo a dizer nestes últimos 7 anos:
«…Opresidente do Chega, André Ventura, considerou esta terça-feira que o seu partido é aquele que mais bem representa as ideias do antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho…»
https://eco.sapo.pt/2025/05/06/chega-e-o-partido-que-melhor-representa-as-ideias-de-passos-diz-ventura/
O Chega que foi criado para perseguir, prejudicar, e destituir o Presidente Rui Rio na época em que este foi líder do Partido Social Democrata e da oposição:
– André Ventura lança movimento para destituir Rui Rio https://www.publico.pt/2018/09/22/politica/noticia/andre-ventura-lanca-movimento-para-destituir-rui-rio-1844970
Na altura o auto-denominado «movimento Chega» representava o dr. Pedro Coelho e o seu bando, ou seja a facção liberal/maçónica do PSD que é contra a linha de Francisco Sá Carneiro, a social-democracia, a regionalização, o Interesse Nacional, e o republicanismo, sendo estes princípios e valores representados pelo Presidente Rui Rio.
Mais tarde o movimento dá origem ao Partido Chega com o objectivo de roubar votos ao Partido Social Democrata – que se tornou uma força política completamente moribunda e descredibilizada pelo dr. Pedro Coelho – prejudicando assim o PSD e o Presidente Rui Rio nas Eleições Legislativas de 2022.
O Partido Chega é uma fraude, uma força política liberal/maçónica criada para tentar manter este ilegítimo, criminoso, corrupto, e anti-democrático regime liberal/maçónico imposto pelo golpe de Estado da OTAN em 25 de Abril de 1974 assim como o sistema político-constitucional ainda em vigor.
O Partido Chega representa os interesses do Partido Socialista e os seus aliados, do dr. Pedro Coelho e seu bando.
Os Portugueses ingénuos ou mais distraídos que apoiam e votam no Partido Chega têm de perceber que estão a ser enganados.
1 – “regime liberal/maçónico imposto pelo golpe de Estado da OTAN em 25 de Abril de 1974”
2 -“O Partido Chega representa os interesses do Partido Socialista e os seus aliados, do dr. Pedro Coelho e seu bando.”
Estimo as rápidas melhoras. Ha gente no Julio de Matos com muito mais saúde mental
Já aqui escrevi há tempo que…
Há uma explicação para tudo.
O Quarto Pastorinho, realmente, disse que o Papa Francisco estava a prestar “um mau serviço ao Cristianismo” e a “destruir as bases do que é a Igreja Católica na Europa” mas isso foi antes de se dar um milagre que, tudo leva a crer, ocorreu por intercessão do mesmo.
O milagre é inegável: em apenas uma noite o apartamento onde vive o Venturoso, no bairro operário “Parque das Nações” mais que duplicou de tamanho. Numa noite!
O Venturoso Pastorinho deitou-se com a mulher numa exígua cama de solteiro, num minúsculo quarto onde só esta cabia e, quando acordou, estava num autêntico ringue de patinagem, com a mulher na baliza adversária! Um crescimento de muito mais de 100%!
Daí o agradecimento de hoje ao Papa Francisco “por tudo”, aproveitando para lhe dizer que amanhã fica à espera da entrega da nova mobília.
E quer que seja uma inspiração para todos, porque almeja a que algum lhe volte a aumentar as áreas do apartamento e uma piscina dentro de casa. À do condomínio já não vai para não arriscar a banhar-se numa água onde tomou banho algum imigrante.
A verdade da cambada que se diz progressista é trazer a dúvida e a tolerância – que podem ser virtude ao nível individual – para a esfera do social, isto é, que a norma aceite a anormalidade, que a verdade na norma admita a dúvida a todo o tempo.
Claro que sempre excecionam o saque a quem tem ou faz por ter algo de seu; aí não há tolerância nem dúvida… venha a nós que somos os justos!
Ora pois!
O problema é quando a verdade da norma é estabelecida por verdadeiros anormais, e seguida por gajos que não o sejam Menos e nunca admitam dúvidas a todo o tempo.
Embora se excecione quem, pelo Menos, tenha sido saqueado da pouca inteligência que tinha ou fez por ter como algo de seu
Escusa de dizer que é um católico que não gosta da bíblia, já o demonstrou muitas vezes.
Acaba por ser triste, e muito sintomático, que tenha sido um líder de uma instituição reaccionária quem mais transmitiu esperança de paz e aceitação, pelo menos a ocidente.
Também esteve muito longe do necessário, e demasiado crente da propaganda do regime, pelo que há que seguir em frente, que continua a piorar cada vez mais para este lado.
Numa altura em que já não é só em hebraico, já não é só nos jornais na colónia, quando os jornais da eurolândia finalmente nos graceiam com as palavras dos ministros do holocausto, continuam os moderados a falar na culpa exclusiva de Netanyahu, e a compará-lo com a propaganda mal apanhada sobre o papão russo.
que pariu, Portugal, a Europa, e a América merecem a auto-destruição que estão a acelerar.
What?
Qual Bibi de Queens qual o caralho:
https://www.theguardian.com/world/live/2025/may/06/israel-gaza-war-latest-live-news-benjamin-netanyahu-hamas-palestine?CMP=share_btn_url&page=with%3Ablock-681a08748f0832bd88acc524#block-681a08748f0832bd88acc524
Entretanto, o “genocídio” “não-provocado” ucraniano tem um gigantesco número de 13000 civis, uma percentagem incomparável com qualquer outra guerra envolvendo exércitos modernos, quanto mais os massacres “anti-terroristas”.
Da estupidez à demência é um pequeno passo.
Pois claro! Força!
Vosselência está quase lá. É só pousar a perninha e está dado!
Olha ele aqui a agir sozinho!
https://www.theguardian.com/uk-news/2025/may/12/uks-f-35-exports-more-important-than-stopping-genocide-lawyers-to-argue