Parabéns, Chico

Sou um gajo cheio de sorte. Tinha uns 12 anos e os meus pais deixaram-me ir, sozinho, a um concerto do Chico Buarque da Holanda em Coimbra. Foi o meu primeiro concerto, e este o primeiro LP que comprei.

Mais tarde assisti ao que deve ter sido o concerto com maior assistência de sempre em Portugal, o Chico na Festa do Avante.

Crescer a ouvir o Chico é um privilégio que não teve outra geração. Sou um privilegiado, portanto.

Meu caro amigo, a coisa aqui está preta

Não vale a pena esconder. Estes são tempos difíceis e de trevas, na economia e na sociedade. Portugal passa, provavelmente, pelo mais complicado período da história do pós-25 de Abril. Por falar nisso, façamos um pequeno regresso ao passado. Vamos até 1976.

O artista brasileiro Augusto Boal (1931 – 2009) mora em Lisboa, exilado, em fuga de uma ditadura repressora. Por Lisboa há-de ficar dois anos, antes de rumar a Paris, num percurso que começou em 1971, depois da prisão e tortura, forçando-o a fugir para a Argentina, e que só terminará em 1986.

Na capital portuguesa recebe um dia uma carta em forma de disco. No vinil negro, Chico Buarque tinha ‘escrito’ o momento que o Brasil estava a viver. Dias em que em é preciso “pirueta pra cavar o ganha-pão”, num povo que “vai cavando só de birra, só de sarro”.

Regressemos a 2011. Por estes dias, o  inverso. Um qualquer Chico português pode enviar uma carta, um email, um disco, um ficheiro MP3 a um qualquer Augusto no Brasil.

Com muito ligeiras alterações (tanto mais que a Marieta já não é a mulher do Chico), a letra adequa-se na perfeição a estes nossos dias de portugueses às escuras.

A mentirinha deprimente do costume

Chico Burque desmentiu: foi Sócrates que manifestou vontade em o conhecer, razão porque o recebeu em sua casa.

Não é bem a mesma coisa que a peta posta a circular por aqui: teria sido o cantor a pedir esse encontro.

Nada de novo na rotina habitual: mentiras e aproveitamentos. Já estamos tão habituados que nem estranhamos. Só que Chico Buarque da Holanda não se chama Luís Figo.