Ler como ser

    (adao cruz – o eco) 

(Em tempo de livros parece-me útil este texto de Marcos Cruz)

Ler como ser

Penso se um dos trunfos da escrita não será o facto de que quem lê está envolvido na leitura e, dentro da dinâmica própria em que a leitura se processa, não tem tempo para reflectir sobre o que vem a seguir. Refiro-me, concretamente, a estes textos que escrevo. À medida que os vou escrevendo, cada uma das palavras impressas me ecoa na cabeça e, como qualquer eco, traz uma aparência indefinida, dividida ou multiplicada, não sei, mas em que são perceptíveis várias derivações, relações profícuas, como quando se atira uma pedra a um rio e os círculos nascem uns dos outros, trementes, nunca parados, mas suficientemente nítidos para os podermos cristalizar na memória e, depois, se for caso disso, fazermos uso deles. Mais ou menos assim é, aliás, a vida: nunca pára, não dá para apanharmos verdadeiramente nada a não ser essas impressões e, depois, se for caso disso, fazermos uso delas. Será a vida um eco? Não sei. Mas também não era por aí que eu ia. [Read more…]