A realidade construída

 

Imagem: Euronews

Num artigo da revista Sábado, Gouveia e Melo recorre a um comprovado mito para dissertar sobre a estratégia que o próprio ajudou a concretizar.

O vice-almirante Gouveia e Melo desvalorizou ainda o facto de Portugal ser o primeiro país do mundo em termos de taxa de cobertura de vacinação, dizendo que isso não o preocupa, sendo que a sua preocupação “é se essa taxa é suficiente para haver proteção de grupo e eventualmente a imunidade de grupo“.

É motivo de preocupação quando a falsidade é usada como verdade. E conduz a um exercício de se questionar outras verdades como tal apresentadas. É uma das consequências da demagogia. O que é realidade e o que é realidade construída?

Neste ponto, será melhor recordar as afirmações taxativas de Andrew Pollard sobre a impossibilidade de existir imunidade de grupo no caso da Covid 19.

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Imunidade de grupo

No site do Hospital da Luz, num artigo da médica Betânia Ferreira:

Imunidade de grupo é um estado de proteção de uma população contra uma doença infeto-contagiosa, que limita a sua disseminação.

A imunidade de grupo para uma doença infeto-contagiosa numa determinada população (humana ou animal) acontece quando uma parte suficientemente grande dessa população está imune (protegida) contra essa doença e contribui para que esta não se dissemine.

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O que nos espera – um cenário

Vi há uns dias um vídeo muito esclarecedor sobre o possível controlo da pandemia do coronavírus. Sem mais apreciações, dizia o seguinte:

A expansão do vírus só pode ser bloqueada quando houver suficientes pessoas que lhe sejam imunes. No caso do coronavírus, a imunidade de grupo (ou efeito rebanho), o número suficiente de pessoas imunes, corresponde a entre 60 e 70% da população. Só nesse nível é possível reduzir as cadeias de transmissão.

A questão é, pois, como conseguimos suficientes pessoas imunes? Não existindo vacina, só quem já superou a doença tem imunidade (pelo menos durante algum tempo).

Ora, se não se tomassem medidas, aconteceria o seguinte:

Uma curva elevadíssima, ultrapassando a capacidade de resposta dos serviços de saúde, com um número elevadíssimo de casos e de mortos.

É pois necessário tomar medidas – isolamento social com o resultante congelamento da vida económica – para achatar a curva, de modo a mantê-la abaixo do nível de capacidade do sistema de saúde. Porém, pelos efeitos dramáticos que estas medidas têm para a economia, a curva não deve ser demasiado achatada, ela deve ser gerida; o que é tanto mais difícil porque as medidas só têm efeito uma ou duas semanas após serem aplicadas.

Não sendo possível, pelos custos catastróficos das medidas, esperar meses até que exista uma vacina ou medicamento, um modelo proposto por especialistas ingleses é o seguinte:

Começar com medidas muito rigorosas de distanciamento social que levem à redução de casos; quando se verificar que estes baixaram, abrandar as medidas – por exemplo abrindo de novo as escolas, lojas, etc. Como consequência, ao fim de algum tempo os casos aumentariam de novo, já que não haveria ainda suficientes pessoas imunizadas. Nessa altura, voltariam a aplicar-se as mesmas medidas rigorosas de distanciamento social, como fechar escolas e lojas, etc., e assim sucessivamente, apertando e aligeirando as medidas, de forma a ir-se conseguindo imunização progressiva, mantendo, no entanto, o número de casos num nível que não ultrapassasse a capacidade do sistema de saúde, para minimizar as mortes. O número de pessoas imunes aumentaria lentamente, ao longo de um longo período de muitos meses, talvez até 2 anos.

A quarentena e a redução de contacto social ajudam a ganhar o tempo que é urgentemente necessário para que os cientistas possam descobrir uma vacina e medicamentos eficazes. Paralelamente, são também precisos testes melhores e mais rápidos que permitam perceber e controlar a expansão da doença. Por exemplo, há pessoas que têm sintomas muito leves ou nem os têm, mas que podem infectar outras. Através de testes, estas pessoas poderiam ser identificadas e ficar em quarentena, a fim de não contagiarem outras. Além disso, são também necessários testes que permitam verificar se uma pessoa já tem anti-corpos contra o coronavírus, ou seja, se é imune. As pessoas imunes poderiam então circular, sem contagiarem outras, nem correm risco próprio, ajudando assim a manter o sistema social e económico.