Imunidade de grupo

No site do Hospital da Luz, num artigo da médica Betânia Ferreira:

Imunidade de grupo é um estado de proteção de uma população contra uma doença infeto-contagiosa, que limita a sua disseminação.

A imunidade de grupo para uma doença infeto-contagiosa numa determinada população (humana ou animal) acontece quando uma parte suficientemente grande dessa população está imune (protegida) contra essa doença e contribui para que esta não se dissemine.

Hoje no Observador, artigo de opinião de Nuno Cerejeira Namora, o qual assina como advogado especialista em Direito do Trabalho:

De outro molde, parece-nos essencial, para justificar uma norma que imponha dever de vacinar, que os níveis de adesão voluntária à inoculação sejam de tal forma baixos que coloquem em risco os objectivos de alcançar a imunidade de grupo e a contenção do vírus, o que não parece ser a realidade em que nos movemos presentemente, pelo que esta discussão não passa, para já, de uma efabulação teorética. Note-se, sem embargo, que, por força da dignidade inerente a cada ser humano, será sempre de recusar o constrangimento físico destinado à inoculação, pelo que a violação da obrigação acarreta sanções de outra ordem, sejam elas administrativas, criminais ou disciplinares.

Num artigo de André Manuel Correia, no Expresso, publicado em 11 de Agosto de 2021:

Conhecido como o pai da vacina da AstraZeneca, Andrew Pollard defende que a imunidade de grupo é uma ideia “mítica”. Apesar de 75% da população adulta do Reino Unido já estar totalmente vacinada, o chefe do Oxford Vaccine Group adverte que “a variante Delta ainda irá infetar pessoas que foram vacinadas” e afirma que, atualmente, “não temos nada que pare [completamente] a transmissão” do vírus.

(…)

Para Andrew Pollard, citado pelo The Guardian, “o problema com este vírus é que não é como o sarampo”. “Se 95% das pessoas foram vacinadas contra o sarampo, o vírus não pode ser transmitido”, algo que não se verifica com o SARS-CoV-2, ressalva.

Dados de um estudo realizado pelo Imperial College London sugerem que pessoas totalmente vacinadas, com idades compreendidas entre os 18 e os 64 anos, tem um risco 49% menor de serem infetadas comparativamente com aquelas que não receberam nenhuma dose dos vários imunizantes aprovados e administrados contra a covid-19. Outra das conclusões é que a probabilidade de a população vacinada testar positivo é reduzida em cerca de metade.

Alguém que avise Nuno Cerejeira Namora sobre precisar de rever a base da sua fundamentação. E, já agora, que preste o mesmo favor aos que deram voz à propagação do mito, entre eles o primeiro-ministro, membros do governo, representantes da DGS e destacados jornalistas e comentadores.

Adenda: a construção de uma narrativa assente num mito

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atualizado 21 Julho 2021, 00:05
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Comments


  1. Deixem-me ver se percebi (sou o bocado cabeça dura). 1º diziam que a imunidade de grupo (em inglês=rebanho) se conseguia pelos 60 e tal por cento, depois passou para os 70 e tal, depois para os 80… E, quando isso se conseguisse podiamos voltar ao normal. Os países como Israel que já vacinaram quase todos, enfrentam surtos crescentes e os hospitais abarrotam. Como já não há mais ninguém para vacinar e as pessoas continuam a morrer e a adoecer, então vamos à 3ª dose e eventualmente à 4ª e à 5ª, porque não? Esses são os que nunca, nunquinha, põem em causa a dita “solução”. Qual solução? Se se continua a fazer sempre o mesmo, como esperar resultados diferentes? A vacina não pode ser a solução porque ela é que é o problema. Questionar isso é incorrer em crime de terrorismo (nos EUA, por enquanto). Porque será?

    • j. manuel cordeiro says:

      Do que se observa, tomar a vacina (pelo menos para quem nunca teve a doença) não é inútil, pois reduz o perigo da doença para o indivíduo.

  2. Paulo Marques says:

    Limitar e contribuir para que não se dissemine agora já são o mesmo que parar. OK.

    • j. manuel cordeiro says:

      Nunca haverá imunidade de grupo se quem estiver vacinado poder ser re-infectado. É isso que explica o artigo do Expresso (que se baseia noutro do The Guardian: https://www.theguardian.com/world/2021/aug/10/delta-variant-renders-herd-immunity-from-covid-mythical):

      “Giving evidence to MPs on Tuesday, Prof Sir Andrew Pollard said the fact that vaccines did not stop the spread of Covid meant reaching the threshold for overall immunity in the population was “mythical”.”

      (…)

      The Delta variant will still infect people who have been vaccinated. And that does mean that anyone who’s still unvaccinated at some point will meet the virus … and we don’t have anything that will [completely] stop that transmission.

      Although the existing vaccines are very effective at preventing serious Covid illness and death, they do not stop a fully vaccinated person from being infected by the virus that causes Covid-19.

      The concept of herd or population immunity relies on a large majority of a population gaining immunity – either through vaccination or previous infection – which, in turn, provides indirect protection from an infectious disease for the unvaccinated and those who have never been previously infected.”

      • Paulo Marques says:

        Isso é uma hipótese, a própria protecção interna pós-infecção/vacina vai-se generalizando (paper e vídeo que pus no outro dia), bem como o nível de transmissão é muito menor.
        Mas, mesmo que não haja protecção à infecção, o que é provável só pelo mecanismo das vacinas, pode ser ainda maior à infecção.
        E enquanto não houver camas, limitar, de forma cada vez mais normal, é literalmente vital.

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  1. […] retirados de um post anterior, no qual se citou um artigo do Expresso que teve por base uma notícia no The […]