Fechar as escolas é péssimo. Não fechar ainda é pior.
Fechar as escolas?
Os professores
(esses madraços ignorantes, como ainda recentemente demonstrei)
sabem que não há nada melhor do que o ensino presencial. Apesar de serem professores
(e, portanto, pessoas que não percebem nada de escolas, de Educação, de alunos e que têm uma visão limitadíssima da sociedade, porque não fazem a mínima ideia dos problemas familiares, sociais e pessoais dos alunos, esses números em forma de pessoa, e porque só falam com professores),
sabem que o Ministério da Educação não aproveitou o Verão para preparar os vários cenários para o ensino – as salas de aula não estão preparadas, por exemplo, para se darem aulas à distância (nos muitos casos de alunos ou turmas em isolamento); o número de alunos por turma manteve-se igual, não permitindo o distanciamento mínimo aconselhado pela DGS; os computadores para os alunos chegaram tarde e más horas.
Os professores sabem
(mas quem são eles para saber seja o que for, não é?)
que o confinamento dos alunos aprofundará as desigualdades, como tive o atrevimento de afirmar, a propósito de um agradecimento dispensável. [Read more…]
2020: o ano de todas as pandemias
2020 foi um ano difícil, que pode ser resumido em poucas palavras: vírus, epidemia, pandemia, medo, confinamento, distanciamento social, máscara, álcool-gel, negacionismo, contágio, zaragatoa, teste, ventilador, profissionais de saúde, SNS, layoff, crise económica, vacina e morte. Talvez pudessem ser acrescentadas mais algumas, que nem me ocorrem nem me apetece procurar, porque não pretendo fazer disto uma obra científica, mas este foi o léxico dominante, durante os nove últimos meses. E, não nos iludamos, continuará a sê-lo.
Muito foi dito e escrito sobre a pandemia. Da “gripezinha” à falsa sensação de segurança, passando pelas habituais conspirações, amplificadas pela ignorância militante, de repente éramos 7,8 mil milhões de especialistas em saúde pública, virologia e gestão de crises. Por cá fomos bestiais, depois bestas, e, quer-me agora parecer, terminamos o ano como culpados pelo agravar dos números. E não, não saíamos mais unidos, mais conscientes ou mais humanos de tudo isto. Saímos como entramos, com as nossas virtudes e defeitos, adaptados ao novo normal que, esperamos, já seja uma recordação distante daqui por um ano. [Read more…]
Reabrir as escolas: um mal desnecessário
Entre os entusiastas que passaram a acreditar que este momento de excepção até poderia passar a ser regra e os que defendiam que deveríamos ficar quietos sem fazer nada, a comunidade educativa foi conseguindo o possível, não sem problemas, nunca sem defeitos e com algumas virtudes. Problemas, defeitos e virtudes, todos aprofundados, curiosamente.
Neste momento, a proximidade social ainda acarreta demasiados riscos. Ainda assim, com muita prudência, será possível ir (re)pondo a economia a funcionar. Calculo que, na medida do possível, muitos profissionais irão manter o teletrabalho, minimizando riscos.
A reabertura das escolas só deveria acontecer se fosse absolutamente indispensável e há muitas razões para considerar que não é, mesmo nesta versão minimalista de limitar o acesso aos alunos com disciplina de exame. Por muitos cuidados que se tomem, o risco de propagação aumenta. Além disso, este regresso forçado resulta de um problema que continua por resolver: a subordinação do ensino básico e secundário à Universidade, devido a um sistema de acesso ao Ensino Superior que tarda em ser alterado.
O documento emanado do Ministério da Educação serve para demonstrar, mais uma vez, que se trata de uma instituição governada por pessoas fechadas em gabinetes que não sabem e não querem saber o que é a vida de uma escola, dando ordens que poderão ser difíceis ou impossíveis de cumprir. Seria o momento ideal para que encarregados de educação e/ou directores tomassem posições conjuntas, à semelhança do que já aconteceu com a Escola Secundária Camões.
Aqui ficam algumas leituras: [Read more…]
Só sei que ninguém sabe
Não tenho o hábito de me informar sobre o vírus da moda, porque não tenho instrumentos e capacidade para saber se a informação distribuída pelos meios de comunicação social ou pelo governo é fidedigna, para não falar na multiplicação de opiniões completamente díspares sobre curvas e contracurvas, testes e infectados, mortos e curados.
Como sou um frequentador assíduo das chamadas redes sociais,
(rede também tem um sentido piscatório. Não chego a saber se sou pescador, se peixe)
tenho assistido, no entanto, a um debate, que digo eu?, um combate entre os que afiançam que Rodrigo Guedes de Carvalho arriou fortemente na ministra da Saúde e os que garantem que Marta Temido goleou o entrevistador. Uma análise muito leviana e suficiente permitir-nos-á perceber que os que elogiam o jornalista são da oposição ao governo; os outros são apoiantes do governo ou, no mínimo, adversários da oposição ao governo, que a política tem matizes que a razão desconhece.
Ou seja: os comentários à entrevista têm a mesma parcialidade e a mesma profundidade que é usada pelos histriões que participam naqueles programas em que hominídeos passam a horas a gritar que é ou que não é penálti, sendo evidente para ambos que é e que não é. [Read more…]
Pelo cancelamento dos exames nacionais do Ensino Secundário
Ensinar e aprender em tempo de crise
Tomada de Posição do Conselho Pedagógico da Escola Secundária de Camões
23 de abril de 2020
SOBRE A REALIZAÇÃO DE EXAMES NACIONAIS NO ANO LETIVO 2019/2020
Considerando que:
- A evolução da pandemia, conhecida como COVID19, é incerta quer em termos globais, quer no caso específico de Portugal.
- O pico da doença poderá ainda não ter sido atingido e, que na presente situação, quaisquer previsões para um eventual regresso às atividades letivas presenciais são totalmente prematuras.
- As condições definidas para a realização dos exames do ensino secundário por parte do Sr. Primeiroministro visam exclusivamente fazer deles um instrumento de acesso ao ensino superior.
- O recomeço das aulas presenciais previsto para maio tem apenas como objetivo a preparação dos alunos para os referidos exames.
- Essas aulas poderão pôr em causa a saúde pública de toda a comunidade escolar, obrigando ao levantamento do processo de isolamento, e que expõe a comunidade escolar a riscos desnecessários e de consequências imprevisíveis. Destaca-se, para este efeito, o facto de os jovens, por serem particularmente assintomáticos, se tornarem vetores de transmissão de grande risco.
- O novo calendário de exames irá inevitavelmente condicionar o início do próximo ano letivo, que deveria começar atempadamente de forma a poderem ser recuperadas as aprendizagens que ficaram atrasadas no corrente ano letivo.
O Conselho Pedagógico da Escola Secundária de Camões decide:
- Exigir ao Ministério da Educação o cancelamento dos exames do ensino secundário.
- Solicitar ao Ministério da Educação, em coordenação com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que elabore novas formas de acesso ao ensino superior válidas para o corrente ano letivo e que não passem pela ponderação de qualquer tipo de exames realizados em 2020.
- Divulgar o mais amplamente possível a resolução ora aprovada junto de escolas, organizações representativas da comunidade escolar e população em geral.
Educação: proximidade à distância
[Rui Correia]
Tenho andado um bocadinho apreensivo com a utilização que vai sendo feita das videoconferências com alunos.
Estamos a atravessar um momento que representa uma grande oportunidade para colocar em prática aquilo que uns chamam Aprendizagem ou Pedagogia Diferenciada e outros chamam outras coisas, mas que significam a mesma preocupação:
a cada miúdo uma atenção especial. Particular. Única como ele.
Porque a aprendizagem remota pode aproximar-nos, muito humanamente, uns aos outros.
Há professores a dividir as suas turmas em grupos, multiplicando as videoconferências e a sua carga de trabalho, para poder dedicar mais tempo a cada aluno.
Aplaudo sonoramente essa dedicação e profissionalismo.
A ideia de replicar um modelo magistral, unidireccional, de ensino por videoconferência, ou seja, circunstâncias em que um fala e os outros escutam é, per se, uma prática pedagogicamente muito limitada e mortalmente aborrecida. Não deve ser repetida agora em vídeo.
A utilidade de uma aula não se mede por tudo quanto um professor faz, mas por tudo quanto os seus alunos produzem. [Read more…]
A honra de estar vivo
Há poemas tão nítidos, tão aparentemente prosa, tão imediatamente coração que é fácil percebê-los e ficamos surpreendidos com essa facilidade, cheios de palavras de outros que dizem exacta e misteriosamente tudo aquilo que pensamos. O sortilégio da literatura, aliás, é este: encontrar, nos outros, palavras que são nossas.
Este poema de Jorge de Sena, ampliado pela voz de Mário Viegas, é ainda mais fácil de perceber quando nos apercebemos de que estar vivo é uma honra, de que cada vida vale mais do que qualquer mundo, de que as pessoas são mais importantes do que a economia. A economia, aliás, embora pense que não, precisa desesperadamente das pessoas. [Read more…]
Para grandes males, grandes remédios – Rendimento Mínimo Incondicional
Numa petição europeia apela-se à União Europeia, e ao Eurogrupo em particular, no sentido de ser criado um instrumento financeiro que permita aos estados-membros da UE instituirem rapidamente um Rendimento Mínimo Incondicional como medida de emergência que, de forma célere e sem complicações burocráticas, permita aliviar todos os cidadãos da Europa cuja segurança económica e existência se vê ameaçada pela crise provocada pelo coronavírus.
A ciência ou a vida
Por outras razões, insurgi-me, recentemente, contra tudo o que faça de nós egoístas ou bairristas. A ideia de que os meus são sempre melhores do que os outros e que, portanto, merecem mais e melhor é simplesmente repugnante. Somos todos tendencialmente egoístas, bairristas e nacionalistas, mas só gente abjecta é que permite que essa tendência se transforme numa perversão que desumaniza. Ser humano é outra coisa; espezinhar o Outro é só ser selvagem.
A ciência, tal como o ar ou a água, é património da humanidade e todos os estados têm de zelar para que assim seja, sob pena de serem só uma confederação de criminosos. Uma vacina, por exemplo, não pode estar apenas ao alcance de quem tiver dinheiro para a comprar. O mundo ainda é demasiado desigual e sabemos que uma vacina comum no mundo ocidental é, muitas vezes, uma miragem nos países subdesenvolvidos.
Segundo parece, Donald Trump tentou comprar o exclusivo de uma vacina para os Estados Unidos a um laboratório alemão. Se o negócio fosse avante, Trump reclamaria mais uma vitória, festejando o facto de que os americanos sobreviveriam, enquanto os outros poderiam morrer. [Read more…]
Menos combate ideológico
[Francisco Salvador Figueiredo]
O que tem a ver a Coopérnico com a crise do coronavírus?
Rui Pulido Valente*
À primeira vista não parece ter nada a ver, mas se aprofundarmos o nosso olhar e ouvirmos aquilo que a crise nos tenta dizer, concluímos que tem tudo a ver! Tem tudo a ver porque nos obrigou, a todos, a olhar para a Sustentabilidade de uma outra forma, numa perspetiva mais individual e responsável.
O combate à pandemia tem sido feito com base nos comportamentos de cada um e no cumprimento das orientações dos profissionais de saúde. Não se tem tratado apenas de alterações temporárias e pontuais, mas mudanças que questionam todo um posicionamento do cidadão como consumidor.
A diferença é que estamos perante uma urgência e um fenómeno que depende fundamentalmente da atitude de cada um. Mas se refletirmos um pouco, também a crise climática, o desperdício alimentar, ou mesmo, a plastificação do meio ambiente, têm tudo a ver com questões comportamentais e responsabilização do cidadão enquanto consumidor. Acrescentaria ainda, e para puxar a brasa à minha sardinha: as nossas opções como consumidores de energia também têm tudo a ver com opções individuais que podem defender o ambiente e descarbonizar as nossas vidas.
De um momento para o outro, foi possível fazer o que, para muitos, seria utópico. Temos professores a lecionar à distância, temos profissionais em teletrabalho, temos redução substancial nas deslocações com reuniões a realizarem-se por teleconferência, temos quem se preocupe em criar soluções locais para evitar a excessiva centralização dos recursos, temos uma aferição, no terreno e na prática, da resiliência dos nossos territórios. [Read more…]
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