O que nos espera – um cenário

Vi há uns dias um vídeo muito esclarecedor sobre o possível controlo da pandemia do coronavírus. Sem mais apreciações, dizia o seguinte:

A expansão do vírus só pode ser bloqueada quando houver suficientes pessoas que lhe sejam imunes. No caso do coronavírus, a imunidade de grupo (ou efeito rebanho), o número suficiente de pessoas imunes, corresponde a entre 60 e 70% da população. Só nesse nível é possível reduzir as cadeias de transmissão.

A questão é, pois, como conseguimos suficientes pessoas imunes? Não existindo vacina, só quem já superou a doença tem imunidade (pelo menos durante algum tempo).

Ora, se não se tomassem medidas, aconteceria o seguinte:

Uma curva elevadíssima, ultrapassando a capacidade de resposta dos serviços de saúde, com um número elevadíssimo de casos e de mortos.

É pois necessário tomar medidas – isolamento social com o resultante congelamento da vida económica – para achatar a curva, de modo a mantê-la abaixo do nível de capacidade do sistema de saúde. Porém, pelos efeitos dramáticos que estas medidas têm para a economia, a curva não deve ser demasiado achatada, ela deve ser gerida; o que é tanto mais difícil porque as medidas só têm efeito uma ou duas semanas após serem aplicadas.

Não sendo possível, pelos custos catastróficos das medidas, esperar meses até que exista uma vacina ou medicamento, um modelo proposto por especialistas ingleses é o seguinte:

Começar com medidas muito rigorosas de distanciamento social que levem à redução de casos; quando se verificar que estes baixaram, abrandar as medidas – por exemplo abrindo de novo as escolas, lojas, etc. Como consequência, ao fim de algum tempo os casos aumentariam de novo, já que não haveria ainda suficientes pessoas imunizadas. Nessa altura, voltariam a aplicar-se as mesmas medidas rigorosas de distanciamento social, como fechar escolas e lojas, etc., e assim sucessivamente, apertando e aligeirando as medidas, de forma a ir-se conseguindo imunização progressiva, mantendo, no entanto, o número de casos num nível que não ultrapassasse a capacidade do sistema de saúde, para minimizar as mortes. O número de pessoas imunes aumentaria lentamente, ao longo de um longo período de muitos meses, talvez até 2 anos.

A quarentena e a redução de contacto social ajudam a ganhar o tempo que é urgentemente necessário para que os cientistas possam descobrir uma vacina e medicamentos eficazes. Paralelamente, são também precisos testes melhores e mais rápidos que permitam perceber e controlar a expansão da doença. Por exemplo, há pessoas que têm sintomas muito leves ou nem os têm, mas que podem infectar outras. Através de testes, estas pessoas poderiam ser identificadas e ficar em quarentena, a fim de não contagiarem outras. Além disso, são também necessários testes que permitam verificar se uma pessoa já tem anti-corpos contra o coronavírus, ou seja, se é imune. As pessoas imunes poderiam então circular, sem contagiarem outras, nem correm risco próprio, ajudando assim a manter o sistema social e económico.

Comments

  1. Paulo Marques says:
  2. Luís Lavoura says:

    Os especialistas ingleses de que fala a Ana Moreno sabem certamente muitíssimo mais disto do que eu (que não sou especialista, nem sou inglês), mas eu diria que eles estão profundamente errados.
    Se os especialistas ingleses estivessem certos, ainda hoje estaríamos a braços com epidemias de peste negra e de SARS (sim, aquele doença que surgiu há uns anos, também na China) e de ébola.
    Os vírus são piedosos, mudam de alvo, retraem-se, modificam-se; e o corpo humano é bem mais resistente do que os especialistas ingleses conseguem modelar.

    • Ana Moreno says:

      A ver vamos, Luís Lavoura, bem preferíamos todos que a razão estivesse do seu lado, mas os indícios são outros.
      Resta-nos protegermo-nos o mais possível.

      • Luís Lavoura says:

        Não se proteja assim tanto, Ana Moreno.
        Tal como os especialistas ingleses bem dizem, aquilo que nos salvará do Covid será a nossa imunidade, e a única forma que a Ana, e eu, teremos para obter imunidade (se não a tivermos já, que é o que penso ser o caso), será expormo-nos.
        Além disso, a Ana e eu somos jovens (enfim, já não tanto!), e não fumamos, e o vírus gosta mais de velhos e fumadores.

    • Paulo Marques says:

      Os vírus não são antropomórficos. Mas sim, têm tendência a serem mais ligeiros para se espalharem mais, só que esta já é uma versão ligeira, com mortalidade baixa e dificílima de detectar, espalhada o suficiente para não ir a lado nenhum.

  3. Julio Rolo Santos says:

    Plenamente de acordo, esse seria o caminho a seguir mas, como ainda estamos num processo de aprendizagem porque o vírus é novo, vai levar tempo a afinar o sistema.

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