O cuspo de vida

Passos Coelho gastou saliva ao declarar que se deve fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para salvar vidas, desde que não seja caro. Ainda teve tempo para segregar uma preocupação diplomática com os doentes de hepatite C, que não estão a ser tratados porque o Estado português fará tudo o que estiver ao seu alcance para lhes salvar a vida, na condição de que fique a preços acessíveis.

A propósito do mesmo assunto, Passos Coelho babou umas instruções sobre o modo como os jornalistas deverão noticiar os casos daqueles que irão morrer porque governos e farmacêuticas existem para garantir lucros de empresas.

Tendo em conta o valor das metáforas, e já que andamos pelas glândulas salivares, um político que reduz o custo de uma vida a cuspo não passa de um escarro.

Quem é Gustavo Santos?

É um intelectual pimba com tal notoriedade que já foi várias vezes tema de alguns programas do Canal Q, que, como se sabe, está sobretudo orientado para a comédia.

A Ana Markl, a Joana Marques e o Daniel Leitão analisam o exemplar a seguir ao corte. Os vídeos são divertidos, porque o Gustavo é um triste. No fundo, é um monte de merda, o que explica por que razão só diz merda: que ninguém o acuse de inconsistência. [Read more…]

Passos Coelho e a reciclagem das metáforas

sapato-mexilhao_21195868Passos Coelho, há dias, resolveu fazer uma revelação. Como já tinha decidido utilizar uma expressão popularucha, compôs, como qualquer mau comediante, um ar de quem está a conter o riso, de modo a que o público percebesse que deveria rir. E o público riu, porque com as piadas do chefe não se brinca.

Passos Coelho revelou, então, que, ao contrário do “que era o jargão popular de que quem se lixa é o mexilhão, de que são sempre os mesmos (…) desta vez todos contribuíram e contribuiu mais quem tinha mais (…)”.

O mexilhão, portanto, segundo Passos Coelho, desta vez, não se lixou. Foi nesta altura que descobri que comungo com o primeiro-ministro do mesmo gosto por brincar com a metáfora, a pilinha dos intelectuais e dos cómicos sem talento. De qualquer modo, e seguindo os caminhos desembaraçados do “jargão popular”, quem brinca com o que tem a mais não é obrigado.

Num primeiro momento, pensei que Passos Coelho estivesse a cair no simplismo de considerar que os mais necessitados corresponderiam, como é costume, ao mexilhão, mas não ficaria bem a um primeiro-ministro brincar com a vida de uma maioria de gente que empobreceu. Quando, depois, li que “o fosso entre ricos e pobres está agora no pior nível dos últimos 30 anos”, e tendo em conta quem não se lixou, percebi quem são os bivalves e confirmei que a pedra continua a ser o povo: a água mole continua a desempenhar o seu papel e o mexilhão sobreviverá.