Direita e Esquerda

Este texto foi já publicado há meses atrás. No entanto, parece-me oportuno usá-lo novamente, agora como princípio de resposta à questão que o Fernando Moreira de Sá, secundado pelo Luís Moreira, levanta sobre a eterna questão dos conceitos de Direita e de Esquerda.

A raiz dos conceitos de direita e esquerda estará, segundo sempre ouvi dizer, no facto de nas assembleias políticas anteriores e posteriores à Revolução de 1789, os políticos mais conservadores se sentarem à direita da mesa da presidência e os mais radicais à esquerda. Na Assembleia Nacional (1789), a expressões «gauche» e «droite» eram aplicadas respectivamente a republicanos e a monárquicos; na Convenção Nacional (1792), o termo usou-se para distinguir jacobinos de girondinos. Os primeiros eram defensores dos chamados sans-cullotes, os deserdados da fortuna; os segundos eram deputados que representavam a burguesia ilustrada, hesitante entre a monarquia constitucional e a república.

De então para cá, o campo semântico dos dois termos foi-se alargando e especializando, incorporando contributos e empréstimos vindos de todas as áreas do conhecimento e, da localização, aleatória de duas facções nos hemiciclos da França de fins do século XVIII, os conceitos de direita e esquerda saltaram para a liça das grandes lutas sociais e políticas. O poeta Jean-Arthur Rimbaud disse que era preciso «mudar a vida». Karl Marx, (que, tal como Engels, nunca disse ser «de esquerda»), afirmou que era indispensável «transformar o mundo».

Eis aqui duas boas sínteses para o conceito de esquerda, a mudança da vida e a transformação do mundo, numa palavra, a Revolução. A direita, também com contributos os mais diversos, vindos também de todos os quadrantes do conhecimento, procura conservar o que considera serem valores intemporais – reage mal à mudança da vida e pior a todas as transformações do mundo que não sejam regressos ao passado. [Read more…]