Manifesto contra o amor

Sou contra o amor. Que me perdoe o médico argentino Rafael de La Serna, mas não acho que um revolucionário seja movido por um grande sentimento de amor, mas já lá vamos. Eu não gosto do amor. Não me refiro ao amor fraternal, paternal, aquele que sentimos por quem amamos mesmo; é ao outro. Aquele amor que os escritores e poetas inventaram para vender livros e despejar frustrações.

Não gosto do amor dos clássicos da literatura. Aquilo não é amor, chamem-lhe outra coisa. Sofrimento, dor, estupidez, uma boa fórmula que, ao longo dos anos, vendeu bem. Chamem-lhe outra coisa, mas não é amor.
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“Bosh é Brom”, slogan criado por Alexandre O’Neill

Volto à polémica campanha anti-tabaco, em França, abordada no ‘Aventar’ pela Carla Romualdo e pelo Fernando Moreira de Sá, cujas opiniões reflectem o que eu penso. Mas neste instante, o interesse da abordagem é outro: prende-se, sobretudo, com o recurso ao tema ‘sexo’ em publicidade, o que me permite, confesso, um regresso virtual a esse inconfundível mundo de marketers e publicitários, que coabitei em determinada fase da minha carreira profissional.

O ‘sexo’ tem sido, desde sempre, um tema recorrente para criativos de publicidade. Não me recordo, porém, de casos em que isso tenha sucedido à custa do estilo grosseiro e ultrajante, característico da citada campanha antitabágica. De facto, no dia-a-dia das nossas vidas de telespectadores, é fenómeno comum – anúncios de perfumes, por exemplo – visionarmos a aplicação, com sentido estético e sensatez, de sábias mensagens de insinuação erótica; seja a promover a água-de-colónia típica do homem duro, machão, do género do Hugh Jackman no ‘Austrália’, seja a divulgar o perfume com que qualquer mulher sonha ser uma provocadora sensual, alma gémea da Scarlett Johansson. Este jogo, a meu ver, é habitual e ninguém fica chocado, a não ser a D. Maria que trabalha para o Sr. Pároco Augusto e que, naturalmente, sente os fígados revoltados com tamanhas blasfémias – Ai que horror, Nosso Senhor!

A história da publicidade portuguesa é composta de excelentes e ricos exemplos de talento, estética e eficácia comunicacional – e sublinho o uso da história porque o presente, dominado por multinacionais, é muito bisonho e está praticamente confinado a exercícios de mimetismos, como aquele da Sónia Araújo a testemunhar as virtudes dos corantes da L’Oréal, justamente no estrito respeito pelo estilo da ‘petite vedette’ francesa que faz o anúncio original.

Actualmente não é bem o caso, mas as estratégias de marketing, durante muitos anos, implicaram políticas de comunicação sintética, clara, incisiva e socialmente transversal; isto é, ao jeito do velhinho slogan, “Farinha Predilecta, para o avô e para a neta”. É, pois, dentro destes princípios, também impostos por meios de comunicação de alcance mais limitado e precários, que deve relevar-se os contributos de vários intelectuais, nomeadamente poetas, no papel de ‘copy-writers’. De entre eles, é justo destacar três figuras: Fernando Pessoa que, em 1928 e ao serviço da agência “Hora”, criou para a Coca-Cola o conhecido slogan: “primeiro estranha-se, depois entranha-se”; Ary dos Santos que, nos anos 60, foi o autor de “Cerveja Sagres, a sede que se deseja”. Por fim, Alexandre O’Neill que, igualmente nos anos 60, propôs o slogan “Bosh é Brom” que o lápis azul transformou em “Bosh é Bom”.

Os três casos são demonstrações de elevada capacidade criativa e poder de síntese na comunicação. Mas, de todos, a frase original de O’Neill, “Bosh é Brom”, constitui exemplo da possibilidade de fundir, em três palavras, a criatividade, a estética, a comunicação eficaz, a malícia e o humor, dispensando, claro, a boçalidade. ‘Bosh’ é uma marca de bens duradouros e na expressão, como nas imagens, o foco era o produto e apenas o produto.