Li por aí que entrevistar Sergey Lavrov é um acto de putinismo. A RTP já entrevistou Erdogan, Bashar al-Assad, Khadafi, José Eduardo dos Santos e outros personagens pouco recomendáveis durante a sua longa existência. E não me recordo de ter sido acusada de pactuar com qualquer um. Havia mais sanidade. Agora há menos noção. E hordas de virtuosos a salivar por mais censura. Tem tudo para correr bem.
É de pequenino que se corrompe o menino
Na capa do Expresso da semana passada, nada de novo: há colégios privados que continuam a corromper o sistema e a vender médias elevadas para quem as pode e quer pagar.
Seja génio ou mandrião, qualquer filho ou filha de pais ricos pode corromper o sistema educativo e comprar as notas que pretende para o curso que quiser. É um modelo de negócio de décadas, e eu ainda sou do tempo em que alunos do meu liceu, na Trofa, iam para colégios no Porto “subir a média”.
Igualmente grave é a afirmação na primeira página do Expresso:
A futebolização do País
Pedro Correia
Vivemos por estes dias mergulhados na futebolização do País. As pantalhas dedicam horas sem fim à conversa de taberna sobre bola transposta para os estúdios televisivos. Os partidos manipulam militantes, tratando-os como membros de claques de futebol. Os debates políticos estão cheios de metáforas associadas ao chamado desporto-rei. E a linguagem mediática imita o pior dos jargões ouvidos nos estádios, anunciando divergências ao som de clarins de guerra.
Há dois aspectos a ter em conta neste fenómeno: um é o factor de identidade tribal potenciado pelos clubes desportivos. Em regra este é um factor positivo: o ser humano necessita de mecanismos de afinidade grupal e quando faltam outros, mais tradicionais, o desporto – ou, no caso português, apenas o futebol – potencia-o como forma de preencher algum vazio deixado pelos restantes (família, igrejas, sindicatos, partidos, academias, etc.)
Outro – muito diferente e claramente negativo – é o da diabolização do antagonista. Este é um fenómeno com ramificações muito diferentes, e algumas bem recentes, influenciadas pela linguagem dicotómica das redes sociais, que tendem a ver tudo a preto e branco, numa réplica do imaginário infantil (cowboys & índios; polícias & ladrões, etc) transfigurado para a idade adulta. [Read more…]
A sério que é à séria?
Isaac Pereira
É um erro habitual na forma de falar, sobretudo na região de Lisboa, e em especial, ali para os lados da Assembleia da República. Mas a forma de falar também já se transpôs para a escrita. Frequentemente faz a sua aparição nos jornais e nas têvês, e agora também nos sítios “on-line”.
Isto sim, é a língua no seu esplendor mais virulento.
A expressão “à séria“, possui requintes de modo “chique-burlesco”, e é tão risivelmente paroquial e provincial que até faz um asno cantarolar. É uma espécie de modinha ou coisa que o não valha, assim, como dizer, tão “fin de siécle”, não achas ó Ramalho Ortigão?
Só escrevo isto para que te previnas. Quando leres ou ouvires alguém dizer que “isto” ou “aquilo” é uma coisa “à séria“, passa um raspanete à senhora membrana auricular e, para não chorares, esfrega a retina dos teus meninos olhinhos.
Noticiar ou não noticiar? Razões de uma não-notícia
Os factos são os seguintes: Às 3 horas da manhã do passado dia 16 de Outubro, na pequena e liberal cidade universitária de Freiburg, uma estudante de medicina voltava a casa de bicicleta, vinda de uma festa. Na manhã seguinte, o seu corpo foi encontrado pela polícia na foz do rio Dreisam, com evidentes sinais de violação. Desde então, o caso vinha sendo investigado por uma comissão especial. Há uns dias, foi detido um suspeito fortemente indiciado de 17 anos, chegado à Alemanha em 2015 como refugiado do Afeganistão.
A ARD, o primeiro canal de televisão pública, optou por não incluir esta notícia no Tagesschau (telejornal). A maioria dos outros media, desde o segundo canal público até ao Spiegel, deram a notícia. Logo se levantou um tal encrespamento nas redes sociais – não só pelo crime em si como pela ausência da notícia no Tagesschau – que o director de redacção da ARD se viu compelido a justificar a decisão tomada por si e pela sua equipa, tendo-o feito do seguinte modo: [Read more…]
Os invisíveis
Somos tantos, senhores. Tantos que não contam para as estatísticas, porque não há estatísticas. Na onda deste retrocesso civilizacional que nos apanhou nos últimos anos, há milhares de jornalistas que vivem e trabalham fora de uma Redacção, em regime freelancer, que tantas vezes se mistura com a precariedade. Em casa, na sua esmagadora maioria.
Uma grande parte chegou a esta condição pela via do desemprego, nos últimos anos, depois de levar aquele “coice de mula” de que falava Óscar Mascarenhas. É a geração dos ’40 que predomina, mas o fenómeno está a ganhar dimensões gigantescas: a maioria dos jovens que agora chega à profissão nunca vai conhecer qualquer vínculo laboral, depois do estágio. [Read more…]
À Beira do Abismo
Quando um egolátrico teve quase TUDO no bolso, menos os portugueses.
A manif anti-pró-troika
Ontem foi dia de mais uma manif, que afinal não o foi. Ou foi, mas o contrário do que estavam à espera que fosse. Afinal, a manif pró-troika consistiu numa forma de romper aquilo que o movimento Que Se Lixe a Troika considera ser um bloqueio mediático às manifes de dia 26, que terão lugar em todo o país. A acção foi muito bem conseguida e deve fazer-nos pensar em pelo menos dois aspectos. [Read more…]
Passos e as 20 perguntas
Pergunta no Facebook: “Alguém sabe dizer se o Passos ganhou o carro no concurso apresentado pelo Carlos Daniel?”
Estratégias Editoriais
Eu abro uma casa de chá cor-de-rosa num aglomerado residencial com 10 mil habitantes. Conquisto a simpatia e a visita de, digamos, 10% do Bairro, que passa a frequentar o meu estabelecimento.
Um investidor olha para o meu negócio e para os meus clientes e acha que o que dá para um dá para dois. E vai daí abre uma casa de chá cor-de-rosa e assim consegue dividir os meus 10% ao meio, ficando cada um de nós com 5% dos moradores do bairro.
Se tivesse aberto um café azul iria conquistar o seu próprio público, constituído por aqueles que não gostando de casas de chá cor-de-rosa todavia apreciam cafés azuis.
Eu manteria os meus 10% e ele “criaria” um mercado novo de outros 10%. Entre ambos passaríamos a ter 4 mil clientes em vez dos 2 mil da primeira hipótese.
Assim estão as televisões e os OCS nacionais. Copiar o do lado e partilhar públicos é que é. Criar novos é muito arriscado!
Empreendedorismo no seu melhor.
Nulo Silêncio Perante Clamorosa Impunidade
Portugal é o que é. Um país de misteriosa cobardia institucional: aquilo que, no grau e no tom, uma PGR nos faz ou não faz diz tudo da impunidade que o Dinheiro acumulado ilicitamente paga para sua criminosa salvaguarda e dano agudo dos nossos interesses colectivos. Do ponto de vista cívico, Portugal consentiu Sócrates duas vezes. Coisa sem perdão pelos séculos dos séculos, dado o preço altíssimo que todos pagamos por um só charlatão, absolutamente desonesto e insondavelmente dissoluto. Pior ainda: Portugal consentiu um tipo de controleirismo canino, sufocante, através dos media, graças a um sistema tentactular, caro ao Erário, assente em elevadíssimo número de avenças e bocas advocatórias. Portugal consentiu-o duas vezes. As guerras mais estéreis e as confusões mais convenientes vieram por meio dos media, como manobras de diversão relativamente aos negócios e negociatas que se faziam nos bastidores, especialidade e finalidade exclusivas de esse tipo charlatão de Governo. [Read more…]
A Nextpower Norte é um bocadinho nossa…
Lembro-me como se fosse hoje do dia em que conheci o Fernando Moreira de Sá. Foi no primeiro convívio do Aventar, no Machado, um restaurante onde se come e bebe como se não houvesse amanhã e onde ressalta, no menu das sobremesas, a «Cabeça do sr. Pinto da Costa».
Eu e os outros – o Vítor Silva, o Isac Caetano e o Miguel Dias – esperávamos à porta pelo Fernando, que nunca tínhamos visto na vida. Cada homem que entrava era alvo dos nossos comentários. Seria aquele? «Não», disse eu a certa altura, «este não tem cara de blogger». Afinal, era mesmo ele, que ouviu o comentário e veio ter connosco.
Os tempos foram-se passando e o Fernando Moreira de Sá assumiu-se como a alma do Aventar. Aquele que começara por ser apenas um Sinaleiro da Areosa tornara-se numa figura fulcral do blogue, muito mais do que um simples autor de posts. Prova disso mesmo foi o convite que endereçou a todos os autores, em Maio de 2010, para um fim-de-semana na sua casa do Douro, acabadinha de construir. O Aventar esteve lá antes da sua própria família!
Tudo isto para dizer que nunca poderia faltar, ontem, à festa do primeiro aniversário da Nextpower Norte, um spin-off da Nextpower, fundada pelo Rodrigo Moita de Deus em 2010. [Read more…]
Fazido e mal pago
José Manuel Fernandes escreve, hoje, no Público (em papel), sobre o célebre vídeo da revista Sábado em que estudantes universitários são apanhados a demonstrar uma ignorância que, na sua opinião, se deverá estender a uma geração inteira. No Blasfémias, discorre sobre a greve geral de ontem com o mesmo simplismo, típico de quem descobriu as soluções ou de quem é pago para fingir que as tem. Nesse mesmo texto, JMF é apanhado a usar um particípio passado digno, provavelmente, das respostas dos estudantes que critica: “fazido”. São episódios como este que podem dar mau nome a uma geração inteira.
Fica aqui o excerto:
Felizmente há uma explicação: o povo que não fez greve afinal queria ter fazido greve, mas teve medo. Só um país aterrorizado, depreende-se, é que face a tantas malfeitorias, não começou ainda a protagonizar tumultos “à grega”.
Adenda: felizmente, alguém informou José Manuel Fernandes do erro e, agora, já aparece um “feito” escorreitíssimo no lugar do “fazido” universitário. Não teria ficado mal uma explicação. Para a história, ficam os comentários, se não forem apagados, e o printscreen que se segue.
Há poucos jornais excelentes em Portugal
A arte de criar títulos jornalísticos não é fácil, já se sabe: obriga a manter o equilíbrio entre o rigor e a criatividade, entre a honestidade e a sedução, ingredientes que, ao mesmo tempo, possam informar e atrair o leitor.
No i de hoje, sem acesso à edição online até ao momento, a primeira página tem um título apelativo: “Avaliação. Há poucos professores excelentes nas escolas”. Depois de seis anos de reclamação e vociferação, não deixaria de ser escandaloso que, afinal, se descobrisse que a excelência docente era diminuta. Mesmo sem estar terminado o processo da chamada avaliação de professores, o i parece já possuir todos os dados que lhe permitem fazer uma afirmação destas na primeira página.
O Paulo Guinote já comentou. Mesmo correndo o risco de o repetir, convém relembrar que a imposição de quotas obriga a que o número de professores considerados excelentes seja sempre diminuto. Por outro lado, com um método de avaliação mal concebido, ser considerado excelente pode ser diferente de ser excelente. Para além disso, muitos professores excelentes recusaram-se a participar numa avaliação que não o é. Conclui-se daqui que continuaremos sem saber se há muitos ou poucos professores excelentes, a não ser nos títulos dos jornais sensacionalistas produzidos por quem não quer pensar e lidos por quem fica, afinal, impedido de pensar.
A Educação continua a ser um tema maltratado e mal tratado, com muitos ignorantes atrevidos que opinam sobretudo sobre o que não sabem, alguns deles erigidos em directores de jornais. Entretanto, todos os que trabalham nas escolas continuam a mitigar, com dificuldades cada vez maiores, os efeitos nefastos que as asneiras governativas e a ignorância jornalística têm sobre o sistema educativo.
Quando os criminosos são polícias a coisa passa ao lado
Mário Brites foi acusado por dois polícias de algo que nunca se verificou. Como consequência passou cinco meses na prisão, perdeu o emprego e ficou com a vida destruída. Hoje dorme num carro e come graças à solidariedade de amigos. Por sorte, no meio de tanto azar, a Polícia Judiciária desconfiou da veracidade da acusação e desconfiou que algo não batia certo. Na origem de tudo estava, aparentemente, uma vingançazinha merdosa por questões de condomínio.
Os jornais, exceptuando honrosamente o Correio da Manhã, passaram ao largo desta história como se ela não tivesse acontecido, ao contrário do que fizeram no erro judiciário que motivou uma noite de prisão para Isaltino Morais. Trata-se dos mesmos jornais que, acertadamente, se mostram lestos quando denunciam as insuficiências do sistema judicial português. O problema, aqui, é que nunca passam de generalizações que o senso comum conhece e repete de cor, a menos que envolvam figuras públicas.
Casos particulares como o de Mário Brites são brevemente tratados como se o particular, o anónimo e a pessoa comum não fizessem parte e não fossem vítimas desta coisa arruinada que é a justiça portuguesa, na qual proliferam más práticas individuais que, somadas, perfazem o todo.
Denunciar a injustiça é, em qualquer sociedade, tarefa prioritária de cidadãos livres que assim se assumam. Quando os media de um país olham para a prisão insustentada de um concidadão durante cinco meses e não lhe dedicam uma única linha, mais vale mudarem-se para a Correia do Norte. São tão bons jornalistas como os jornais que lá há.
Governo suspende anúncios com Gisele Bundchen
Um governo suspendeu um conjunto de anúncios onde aparece a modelo Gisele Bundchen em fato de banho alegando que o seu conteúdo é
discriminatório e que infringe os artigos referentes aos direitos das mulheres consagrados na Constituição.
O mais estranho é tratar-se do governo de um país cujo turismo ganha milhões promovendo por imagens como esta
O Que Importa é Escrever…
Tenho vindo a aprender que para escrever artigos de opinião em jornais basta saber juntar letras sob a forma de palavras. Esta é a primeira condição. A segunda condição é agrupar as palavras formando frases; e, coleccionando algumas frases atinge-se a terceira condição. Eis um texto! O que lá vem dito e a sua validade técnico-científica são contas de outro rosário.
Recentemente, Manuel Caldeira Cabral escreveu um artigo de opinião no Jornal de Negócios a falar sobre transportes; abstenho-me de comentar a análise e os pontos de vista do autor sobre o universo vasto dos transportes em Portugal. Mas não posso deixar de questionar a validade técnica de todo um artigo quando, sendo um professor universitário, parece querer fundamentar o seu texto em… artigos de opinião… publicados nos jornais.
Refere o autor que “um maquinista pode chegar a receber mais de 5 mil euros por mês, entre salário, horas extra-ordinárias e outras formas de remuneração”.
Terá lido algum artigo de opinião no Expresso? alguma “notícia” no Sol?
Talvez devesse o autor consultar a tabela salarial dos maquinistas… “é fazer as contas”.
Repito: “Declaração de interesses: muitos dos meus amigos e amizades são, ou foram, maquinistas (…).”
Serões da província.
Arriscando-me a ser crucificado pela opinião internauta, claramente anticlerical, gostaria de comentar um caso que se passou em Valpaços e que a comunicação social, ávida por escândalo, noticiou recentemente.
Ao que parece, o pároco local recusou a comunhão a uma menina (com 16 anos) que trazia um generoso decote. Seguiu-se uma ofensiva à tia da decotada, que viu negada a pretensão de ver celebrada uma missa pela memória de um parente. A tia queixou-se e acha que o padre é retrógrado.
Os comentários à notícia, repartidos por vários órgãos de comunicação social, são bestiais. Os do costume apedrejam o padre, atirando-lhe com a pedofilia, a homossexualidade, a impotência, a Idade Média, tudo conceitos e razões válidas para se discutir um assunto como este.
Esta gente razoável, não frequenta a missa e grande parte assume mesmo o seu ateísmo. E, claro, como não são religiosos, nem católicos, nem frequentam a missa, são os que estão mais aptos para opinar. O seu julgamento é sempre com base num facto muito simples: tudo é mau no catolicismo (embora existam milhares de religiões e seitas no mundo) e que dentro desta maldade existem sempre umas coisas piores e imensamente más, como o facto da pobrezinha não poder conter os seios dentro do top e ir assim tomar a comunhão. Segundo alguns, os direitos dos seios deviam ser tidos em conta.
I dont give a shit for atheísm. Da mesma maneira que os ateus deviam preocupar-se com o catolicismo. Dar importância é favorecer, lembram-se? Não conhecem a célebre máxima de Óscar Wilde? [Read more…]
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