Aquela janela

adão cruz

Abri a janela de par em par e o sol encheu a sala. Respirei fundo e o ar fresco daquela manhã inundou os pulmões. O sangue como que adormeceu na quietude do pensamento. O magnífico impressionismo de Monet desdobrado pelas amplas salas do Grand Palais deixara-me a alma cheia.

Sentei-me numa cadeira com os braços apoiados no parapeito da janela, a olhar o mundo e os tectos cinzentos da grande cidade que se estendiam para lá do fundo da rua. Devo ter semi-cerrado os olhos pois não dei pela veloz queda do seu corpo frente à minha janela, apenas o estrondo no solo me fez levantar.

Ela vivia no andar de cima, na Rue Mouffetard, e a sua janela era mesmo por cima da minha. Há uma semana atrás, quando tomávamos um esporádico café, segredara-me que a vida já nada lhe dizia.  Falámos de homossexualidade e homofobia, tema que não me interessava particularmente.  A ela parecia dizer-lhe muito, pois ia aos arames com a cara e o ar das pessoas do bar em frente á nossa porta, quando a viam com a mulher com quem vivia. E logo em Paris, ainda se fosse na sua aldeia transmontana! [Read more…]

Ciência e poesia

adão cruz

Encontrava-me num café de Paris na Place de Contrescarpe onde Edith Piaf un petit oiseau iniciara a sua carreira como cantora de rua.

Eu sonhava…

Nessa altura não era proibido sonhar.

Pelo contrário era obrigatório sonhar.

À medida que a luz da manhã crescia insubstancial e fria eu descia a Rue Mouffetard. [Read more…]