postal de uma cidade que poderia ser Coimbra

Catalogamos as coisas pelo pouco que vimos delas, ou pelo que intuímos. Por isso, para mim, e embora nada tenha a ver com o que dela se conta, Coimbra é uma cidade exótica e descarada. Imagino que estes homens de pele tão morena que vieram abrir uma mercearia nestas ruelas podem ser descendentes dos mercadores de Samarkanda, a cidade onde até a morte se passeia pelo mercado. Ruelas de mercearias que podiam ser bazares, a transbordar laranjas e tecidos para a rua. Largo da Maracha, rua das Azeiteiras, rua do Almoxarife, beco dos Esteireiros, travessa dos Gatos.

Um senhorio velhote, invariavelmente chamado sr. Marques, conduz-nos pelo labirinto de ruas até ao prédio em ruínas que o seu pai lhe deixou, para mostrar-nos a casa sombria, com lixo amontado aos cantos, portadas de madeira carunchosas na janela, uma cama onde morreram gerações, uma banheira onde corre um rio de cobre.  Tem orgulho na casa e pede um bom dinheiro por ela. Que ninguém lhe diga que a casa é velha e suja, que a humidade alastra nas paredes e que há um cheiro a bafio que nos deixa nauseados.  Para os senhorios de Coimbra, os tais homens chamados Sr. Marques, que têm montado um “escritório de papelada” ou se dedicam à venda de atoalhados, nenhuma casa se compara à que têm para alugar e nenhuma cidade supera Coimbra. [Read more…]

Passos Coelho liberaliza as rendas da habitação ?

Não temos um mercado de rendas de habitação o que empurra os jovens para a compra de casa. E que leva a juventude a fugir do centro das cidades, ou porque as rendas são insuportáveis ou porque as casas não têm condições de habitabilidade.

Os senhorios, com as rendas ao nível a que estão, naturalmente que não fazem obras de reabilitação, com a consequente degradação do parque habitacional. Uma hipótese já consagrada na Lei é os inquilinos fazerem as obras e descontarem o valor nas rendas futuras, ou os senhorios interessados deitarem mãos à obras e subirem a renda no futuro. Não funciona. Pelo meio há um batalhão de burocratas, com prazos, visitas e relatórios que levam inquilinos e senhorios para guerras de paciência a ver quem desiste.

Na Baixa de Lisboa, nos prédios que ameaçam ruir com perigo para os cidadãos, a Câmara toma posse administrativa dos prédios e faz as obras. Há já dezenas de prédios seiscentistas onde a intervenção foi feita com êxito e outras estão em curso. São medidas avulsas que vão tendo algum impacto mas só uma política consistente de liberalização das rendas pode acudir às nossas cidades. Há grandes e vários problemas em equação. A desertificação dos centros das cidades, o envelhecimento da população residente, o entrar e sair de milhares de carros de quem vive fora da cidade e trabalha dentro dela, com as despesas inerentes, o tempo perdido e a saúde arruinada.

Os inquilinos não têm poder financeiro para pagar as rendas e os senhorios não têm poder financeiro para fazer as obras. Parece um círculo vicioso ! Será? A prestação da compra da casa, o custo do automóvel e as horas perdidas no trânsito não dão margem para se estudar o assunto com coragem?