3 Indignações sobre o caso Boaventura

(notícia de hoje no Dário de Notícias)

Ponto prévio. Este problema não é exclusivo do CES, nem da UC, nem da academia portuguesa. É um problema enraizado em sociedades cujas gerações conheceram o peso do patriarcado no quotidiano. A estrutura hiper hierarquizada do meio académico apenas fornece oportunidades em ouro a uma larga variedade de predadores. A grande diferença é que já existem instituições que criaram mecanismos credíveis e eficientes para lidar com estes problemas.

1- A UC deveria comunicar sobre este tema com muito mais clareza e sobretudo anunciar à comunidade UC o que já mudou, o que vai mudar, se ainda vai ouvir a comunidade (que tal um inquérito individual?), etc. Se não fica a sensação que a rede de conflito de interesses sobre este caso, rede esta que é mais extensa do que parece à primeira vista, está a conseguir travar e apagar com subtileza este caso da atualidade. É muito importante que a comunidade UC tenha confiança na instituição e que esta dê garantias que no futuro não se vão repetir os erros deste caso. Por exemplo a NASA providencia um serviço eficaz e independente que dá garantias de proteção de anonimato para apoio às vítimas de assédio. É um exemplo, existem outros;

2- O silêncio pesado sobre este assunto de quem à esquerda sempre se bateu pela justíssima causa do assédio moral e sexual. Não precisamos de discursos contendo acusações veladas ou explícitas, nem de nomes, muito menos de lavagem de roupa suja em público, precisamos de assertividade sobre este assunto, uma ou duas frases inteligentes que demonstrem uma posição clara e inequívoca;

3- Gurus de esquerda? Tenham juízo. Uma terra sem amos e sem gurus.

Gaffes

Sei que estou atrasado nestas conclusões. Tenho muito a acontecer de novo na minha vida e tem sido deveras refrescante estar fora do incessante vórtice mediático que nos consome tempo, ânimo e profundidade. Além disso, com aterradoras transformações tão relevantes ao nível planetário, a política da tuga tornou-se há muito um fait-divers tragicómico, um entretenimento leve e descompressor, que só nos resta escarnecer de acordo com a sua irrelevância.

Em todo o caso, acerca das gaffes da semana:

  • Nuno Melo e o Atlético Norte – Quando ouvi falar deste inusitado momento, assumi que se tivesse tratado de um corriqueiro e perdoável desvio de língua; ainda há uns tempos me referi aos talheres como “garfa e faco”, acontece a todos. Vendo o vídeo, fica evidente que ele não sabia bem o nome do tratado, consultou a cábula, não achou, sabia que era algo como “atlante” ou “atlético” e atirou em desespero.
    Esta carraça, resquício do político do século passado, é uma caricatura dele próprio. Felizmente, a nossa defesa não nos compete a nós, pelo que não é preciso mais do que isto para exercer o cargo em que ele se viu sem saber ler nem escrever (pelo menos, sobre a área que “tutela”). De recordar, por exemplo, que antes do Sr. Cravinho tivemos um ministro Azeredo que, confrontado com o desaparecimento de material de guerra, engajou em especulação metafísica sobre o que realmente significa “existir” ou “desaparecer”; e admitiu que nada daquilo o surpreendeu porque “vê filmes policiais”. Nuno Melo segue assim uma longa tradição de ministros da Defesa com habilidade para o tipo de humor que não se via desde a morte de Camacho Costa.
  • As quinas do Bugalho – Estou-me cagando quantas quinas tem a bandeira e estou-me cagando se o Bugalho sabe quantas quinas tem a bandeira. Se ele tivesse subido ao púlpito e declarado “A bandeira portuguesa tem sete quinas, quinze castelos e um ovo estrelado, e a União Europeia é um antro oligarca de fascistas encapuzados”, eu aplaudia de pé e içava a bandeira com as quinas que ele quisesse.
    No entanto, sem surpresa, elogiou a Ursa pela sua gestão da…crise covid. É mais um elemento da longa lista de subalternos que, revestido do virtuoso manto do federalismo, baixa as calças ao longo pénis da ditadura europeia.
    Dá vontade de o considerar um eunuco invertebrado, cuspidor de vacuidades, boosterizado e açaimado, recitador de cartilhas, reles cão de fila da aristocracia. Não o farei; espero que volte rapidamente ao cargo de comentador televisivo para que eu – por não ver senão desporto da televisão – não tenha de voltar sequer a pensar nele.