O gabinete das maravilhas de Arxentino da Rocha Alemparte

Arxentino da Rocha Alemparte, galego trota-mundos, nasceu em Xunqueira de Ambía, em Ourense, em 1886 e morreu em Cuba, em 1959. Fez fortuna na América Latina e regressou a Xunqueira nos primeiros tempos da II República Espanhola, na década de 1930, para mostrar aos seus conterrâneos as maravilhas que reunira. Arxentino fizera fortuna mas era à sua colecção de objectos curiosos que dava mais valor. À moda dos grandes coleccionadores renascentistas, fora juntando curiosidades, objectos únicos, relíquias, monstruosidades.

Um ninho de tilonorrinco (o “pássaro-cetim”, cujo macho constrói ninhos elaboradíssimos para cortejar a fêmea); as rosas que D. Isabel de Aragão deixou tombar do regaço em resposta à pergunta de D. Dinis; o crânio de um cão morto por um meteorito no Egipto, em 1911; a navalha usada por Buñuel na famosa cena de “Un chien andalou”; um frasco de vidro no qual se guarda um suspiro de amor; algumas falanges de São Cristóvão; um moedeiro de nácar que pertenceu ao Capitão Nemo do Náutilos; pó de estrela caído da nebulosa de Oríon; um cachimbo de ópio proveniente de Teerão; três dentes de cachalote; a falange do dedo indicador de Inês de Castro; a concha de Agostinho de Hipona, entre muitas outras curiosidades.

 

Falange de Inês de Castro

As caixas com os tesouros de Arxentino foram chegando a Xunqueira, mas o sonho do seu coleccionador de reuni-los num museu que atraísse gente de todo o mundo à sua pequena povoação natal nunca se cumpriu. Estala a Guerra Civil, Arxentino regressa ao sul da América, e deixa ao cuidado das irmãs os seus tesouros, ainda encaixotados, com a esperança de regressar um dia e dar-lhes o destino que merecem. Mas Arxentino já não regressa e o museu fica por cumprir.

Rosas de Isabel de Aragão

Recentemente, os irmãos Irene e Rodrigo Pérez Pintos dedicaram-se a inventariar o fabuloso tesouro de Arxentino e desse trabalho surge a obra “Gabinete das Marabillas de Arxentino da Rocha Alemparte”, uma colecção fascinante que tem atraído a atenção para Xunqueira de Ambía e para o seu tesouro secreto.

Mais cedo ou mais tarde, porém, todos os candidatos a visitantes acabam por descobrir que as maravilhas não podem ser vistas. O que não quer que não existam.