ANA e José Luís Arnaut: a arte da privatização e a gestão privada de excelência

Fotografia via Diário de Notícias

Dezembro de 2012. Em pleno Inverno Austero de Pedro Passos Coelho, o herói contemporâneo da direita que exilou a social-democracia numa gaveta, a agenda neoliberal em funções avançava, triunfante, e dava início a uma das maiores épocas de saldos de sempre, ou, nas palavras do próprio, ao processo de “alienar participações como quem vende os anéis para ir buscar dinheiro“. E enquanto os portugueses enchiam o bucho de bacalhau e bolo-rei, já com os olhos postos na festança do final do ano, o ministro Marques Guedes anunciava a venda da ANA – Aeroportos de Portugal aos franceses da Vinci.

O negócio, fechado por uma quantia considerável, cerca de 3,08 mil milhões de euros, teve, tal como várias outras privatizações do governo Passos/Portas, a intervenção do escritório de advogados CMS, de Rui Pena e José Luís Arnaut. José Luís Arnaut, o player que saltou do parlamento para os governos de Durão e Santana, e daí para vários conselhos de administração e para o comentário político, onde defendeu convictamente a privatização da ANA, da qual é hoje chairman, e onde de resto já exercia funções de presidente da Mesa da Assembleia Geral, lugar que ocupou imediatamente após a privatização da empresa. O mesmo José Luís Arnaut que é consultor do Goldman Sachs, desde 2014, ano em que o seu escritório assessorou o banco de investimento na privatização dos CTT, que conseguiu uma pequena mas altamente rentável fatia do negócio. Um perito na arte de privatizar.

A privatização correu tão bem (pelo menos para Arnaut & friends) que até ganhou o prémio de negócio aeroportuário do ano da revista World Finance. Foi um grande sucesso! Que o digam os passageiros do aeroporto de Lisboa, que no passado Domingo estiveram horas à espera que lhes carimbassem o passaporte. “Este sítio é gerido por amadores“, terá protestado um passageiro. Não é nada, senhor turista! Este sítio é gerido por agentes privados de primeira categoria, que até podem aplicar uns cortes no pessoal que carimba passaportes, mas que não deixam de obter lucros fabulosos. E é para isso que eles lá estão! Se algo correu mal, a culpa só pode ter sido da Geringonça! Afinal de contas, isto nunca tinha acontecido. Agora que é privado, sob a liderança do genial Arnaut, o aeroporto Humberto Delgado é um exemplo de boa gestão. Ser o 12º pior, entre 1193 aeroportos, no ranking dos atrasos, não está ao alcance de qualquer um.

Comments

  1. Luís Lavoura says:

    O João Mendes escusa de estar a falar daquilo que não sabe. Quando a ANA foi privatizada o aeroporto de Lisboa tinha certamente muitíssimo menos tráfego do que o que tem atualmente. Certamente que a Vinci já terá efetuado substanciais investimentos no sentido de o aeroporto conseguir ter o tráfego acrescido que atualmente tem. A Vinci não pode fazer milagres, é certo, mas questiono, se a ANA não tivesse sido privatizada, teriam os seus gestores públicos tido a capacidade de gestão e os fundos necesssários para realizar os investimentos que a Vinci já realizou?
    Eu não sei. Mas suspeito que o João Mendes também não sabe.

  2. ZE LOPES says:

    E pensar como foi possível que J.L. Arnauth, que começou por ser presidente da Confraria do pastel de Molho, lá na Beira Interior, viesse a chegar onde chegou…

  3. Miguel Bessa says:

    Mal por mal.
    Não funcionar por não funcionar.
    Vale mais que não dê prejuízo a quem paga impostos como a CP. Se continuasse pública não tinha dado dinheiro para pagar a bancarrota Sócrates, funcionária tão mal ou pior como funciona e daria prejuízo ao estado.
    Qual é a parte má?

    • Paulo Marques says:

      Os transportes como serviço universal não dão dinheiro, e os efeitos de não os ter podem ser vistos pela desertificação das zonas menos urbanas em qualquer país.