Espaço político não socialista…

Optei esperar pelo congresso do CDS/PP para escrever este post, sobre o espaço político não socialista. Se preferirem, espaço político à direita do PS, pessoalmente não me revejo na dicotomia esquerda/direita, fruto da revolução francesa, já lá vão mais de 2 séculos.
Após as últimas legislativas, que resultaram na vitória e reforço político do PS, liderado por António Costa, o panorama político português alterou-se de forma substancial. Se é para ficar ou foi mera conjuntura, veremos o que nos reservam eleições futuras. Para já o que temos é um governo liderado pelo PS, com maior ou menor grau de influência dos partidos à sua esquerda, sem alternativa política de governo.

O PPD/PSD liderado por Rui Rio é um partido que aspira a ganhar eleições e ser alternativa ao governo PS. Recusei-lhes o meu voto quando foram liderados por Pedro Santana Lopes, Manuela Ferreira Leite, Pedro Passos Coelho e Rui Rio. E assim continuarei, elejam quem elegerem. É um partido que tenta “catch all party”, verdadeira máquina de poder, mas pouco interesse em mudar o país. Quando ganha eleições tem muitas tendências para federar e lugares para premiar a militância. E pouco mais…
O CDS/PP nasceu torto. E lá diz o ditado, o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Bem sei que o congresso do palácio de Cristal em 1975 foi condicionado pelo PREC. E que o líder de então anunciava um partido democrata-cristão, rigorosamente ao centro, em transição para o socialismo. Mas desde então, já foi quase tudo e o seu contrário. Ao que parece agora optou pelo conservadorismo. Boa sorte, mas esse não é, jamais será o meu caminho.
O Chega é um partido unipessoal, pelo menos, para já. Não será extremo nem moderado, é apenas um partido criado à imagem e semelhança do seu líder. Não os levo a sério, nem tão pouco os desvalorizo ou menosprezo, em política não se inventam espaços políticos, ocupam-se vazios que existindo não se sentem representados.
A Iniciativa Liberal resolveu bem a questão da liderança no pós-legislativas. Resta-me aguardar se estará à altura dos desafios do nosso tempo, ou se pelo contrário, à primeira oportunidade se prestará a servir de muleta ao PPD/PSD, para construir alternância, sem alternativa ao PS. Se enveredarem por tal caminho, voltarei à abstenção.
Não faltam opções a quem acredita ou defende que o Estado decida por nós. À esquerda existem várias ofertas que apenas divergem no grau. Fico menos tranquilo quando partidos que se dizem de Direita, querem um Estado a regular as nossas vidas, seja na economia, na privacidade ou na forma como decidimos viver. Não subscrevo tendências politicamente correctas, mas também não aceito seguir tradições, sejam elas quais forem. Continuarei a acreditar que apenas eu posso decidir sobre aborto, eutanásia, consumo de drogas, testemunho vital, no que à minha vida diz respeito. E que não sendo crente em qualquer divindade, recuso, tenho esse direito, a seguir qualquer teoria que respeitando a crença de terceiros, pessoalmente não acredite.

Declaração de interesses, ainda adolescente, fui filiado 2 meses na Juventude Popular, durante a primeira metade dos anos 80, ainda Chicão não era nascido. Apenas este milénio votei CDS/PP em legislativas, fi-lo por 2 vezes, em 2009 e 2011. Votei regularmente PPD/PSD até 2002. Passei à abstenção em 2015 e votei IL em 2019.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    A partir do momento em que a direita se fragmentou em vários grupos políticos com capacidade de eleger deputados, tudo se complicou para o PSD e para o CDS. Mais para os centristas, do que para o partido Laranja.
    Se olharmos bem para o resultado das eleições legislativas de 2019, não foi o crescimento do PS que “desvirtuou” por completo a representação parlamentar até aí, espelhado no parlamento durante décadas, foi muito mais a dispersão dos votos à direita, que fez o PS ter 108 deputados, com uns míseros 35,7%, e por exemplo, o BE manter os 19 deputados anteriormente conquistados, presumo eu, mesmo perdendo cerca de 40.000 eleitores. E quase todos eles concentrados em áreas urbanas, o que por si só, torna ainda tudo isto mais caricato. Mas as regras estão definidas há décadas, só nos resta respeitá-las.
    Apesar de não concordar com José Miguel Júdice quando este afirma numa entrevista, que a direita não ascenderá ao poder antes de 2027; uma coisa são os meus desejos, outra é lógica do funcionamento dos partidos e da própria economia portuguesa e mundial, e, neste caso, há que ter ainda em conta a propensão do PS para a asneira, se quiserem a sua auto flagelação, eu diria que a coisa não está nada fácil para o CDS e PSD.
    Os anos da Troika demonstraram que há uma direita fervorosa de tempos idos, “com vontade de arrumar a casa à sua maneira”, colocando todos aqueles que discordam da sua narrativa, em lugares descartáveis.
    Por exemplo, eu subscrevo o comportamento de António Costa em relação ao líder da UGT, um personagem dúbio, sem credibilidade, amorfo, que de sindicalista tem tanto, como o António Saraiva, líder da CIP, tem de Social Democrata. Este último é filiado no PSD.
    Durante o período da Troika, o atual líder da UGT, como dirigente sindical, pareceu-me mais uma figura similar a um General Philipe Petain, do que alguém que tentava contrariar a narrativa vigente, em benefício dos trabalhadores que dizia representar. Só faltou a célebre carruagem de Compiègne, naqueles acordos de concertação social, assinados com o governo anterior.
    A direita nunca percebeu que em Portugal a economia, mesmo a privada, tal como no resto da Europa, diga-se, vive muito na dependência do Estado. Ou no mínimo da CEE, que é uma Comunidade de Estados. Vive e vai continuar a viver. Não há qualquer analogia com os EUA. Os alemães, ainda assim conseguem mitigar tudo isso porque têm uma economia fortemente virada para a exportação. Essa vantagem competitiva sobre todos os outros Estados Europeus, diminui a sua dependência de receitas sociais, provindas do financiamento europeu. O que por exemplo, já não é o caso da França, Itália ou Espanha.
    O que fará emergir a direita em Portugal de novo, são as asneiras socialistas. Sem maioria absoluta o PS estará sempre refém de terceiros. Só que, traumatizado do tempo dos PEC’s, só pode estar avisado e não fazer “merda”.
    A ver vamos.

    • Paulo Marques says:

      Não há qualquer analogia com os EUA.

      Pois, aqueles milhões e milhões em contribuições em contribuições e PACs são caridade.

    • António de Almeida says:

      Caro Rui,
      Existem questões económicas e outras de sociedade, de cidadania. O PS tem alguma dificuldade em enfrentar estas últimas, os partidos à sua direita também não lidam com facilidade para problemas associados à criminalidade. Deixam o palco para o Chega e talvez em breve para o CDS/PP.

  2. Fernando says:

    António de Almeida não se revê na dicotomia esquerda/direita…

    Isto é mentira!

    A sua ideologia “mercado-livre” não é apenas uma ideologia de direita, é de extrema direita.

    A sua obsessão pela dita “liberdade” reduz-se a impor custe o que custar direitos de propriedade.

    Para um anarco-capitalista/ libertário o direito de propriedade é supremo e inquestionável.
    Os direitos humanos nada valem face ao direito de propriedade.

    A desprezível ironia é que sua ideologia para ser implementada precisa do Estado, e os liberais/ neoliberais/ libertários sabem bem que é assim.

    É por isso que o António de Almeida acredita na necessidade das forças de repressão do Estado como a NATO, é para forçar os direitos de propriedade, logo, defender quem mais têm.
    Mas se o Estado prestar serviços sociais como a saúde e educação já é o um Estado repressor que limita a “liberdade”…

    • António de Almeida says:

      Não defendo a despenalização das drogas, mas a sua liberalização total. Para alguns isso fará de mim um perigoso esquerdista. Defendo a livre prática da eutanásia, para alguns conservadores a esta hora estarei excomungado, não que me importe, deixei de ser católico praticante há várias décadas, hoje serei ateu. Também sou pela liberalização da IVG no início da mesma (10, 12 ou 14 semanas, deixo isso para especialistas).
      Mas não defendo que o Estado através do SNS pague eutanásia, IVG, desintoxicações de vícios e outros…
      Haverá quem me considere um perigoso esquerdista e outros um extremista de direita. Eu nem quero saber de rótulos. Mas sim, o direito de propriedade deve ser inviolável, começando pelo primeiro, o direito à própria vida…

      • POIS! says:

        Bem…pois!

        António de Almeida acaba de produzir um novo conceito jurídico verdadeiramente revolucionário: o direito de propriedade sobre a própria vida. Ou seja, a própria vida passa a ser um direito real, o que pode fazer jeito, já que se passa a poder livremente alienar e onerar. Ou até ser objeto de contrato de locação, por exemplo.

        Tal jusnovidade, a generalizar-se, pode vir a atirar com tudo o que é obra de Teoria do Direito Civil para o galheiro (idealmente para a reciclagem mas, no mínimo, para os vendedores de castanhas).

        Mas, mais: em breve seremos surpreendidos com anúncios como estes:

        “PRÓPRIA VIDA, sem vícios, vende-se. Motivo: retirada”.

        “PRÓPRIA VIDA , arrenda-se. Boas áreas, excelente localização. Contrato escrito”.

        “Precisa-se empréstimo de 100 mil euros. Dá-se garantia da PRÓPRIA VIDA” (bem, este negócio parece que já existirá…)

        • POIS! says:

          Mas há mais, pois!

          A Teoria Jurídica de Almeida segundo a qual sobre a “própria vida” incide um direito de propriedade terá ainda como consequência a “própria vida” poder ser transmitida por herança. Ou seja, outros poderão usufruir da “própria vida” de alguém… que já faleceu. Magnífico!

          Tempos houve em que a maioria das terras deste cantinho eram propriedade das almas do outro mundo (foi o Marquês que acabou com isso) que, por modéstia, não pagavam tributos, tal como gostam os liberais. Mas a possibilidade de a “própria vida” poder ser transmitida (obviamente isentada de imposto sucessório, credo!) é verdadeiramente revolucionária em termos do nosso ordenamento jurídico. Colossal!

    • abaixoapadralhada says:

      “António de Almeida não se revê na dicotomia esquerda/direita…”

      Curioso. O “botas” também não.Era tudo a bem da Nação

  3. «Fico menos tranquilo quando partidos que se dizem de Direita, querem um Estado a regular as nossas vidas, seja na economia, na privacidade ou na forma como decidimos viver. »

    Como se a direita cometesse ao Estado o papel de observador do drama social.

    O que a direita recusa é o aborto da aritmética igualitária da ‘igualdade porque sim’ a que sempre acrescentam uns colectivos de diferenciação, que vão da pura bandalheira, ao rácico, etno até a misturas sortidas (LGBTQIAP+) tudo pastoreado por um mesmo bando de cretinos que se acham capazes de representar tudo e mais um par de botas.

    • Paulo Marques says:

      Exactamente, a direita comete ao estado o papel de orientador da liberdade social, tanto como a económica. Vê como sabe?

    • António de Almeida says:

      Gosto do Estado longe dos nossos hábitos e das nossas carteiras…
      Que cada um faça o que bem entender…

      • E cada um aguente o que lhe sai em sorte ou em mérito, ou por acção de quem faça o que bem entender…?

        • António de Almeida says:

          Prefiro falar em mérito. Somos fruto das escolhas que fizemos. Não estudar é um direito. Mas escolhas têm consequências…

          • Espero que não tenha o demérito de se encontrar com o corona vírus.

          • POIS! says:

            Pois!

            Ora aí está mais um equivoco de JgMenos. Os virus são um exemplo paradigmático da meritocracia liberal: Todos têm iguais oportunidades mas, só os mais capazes sobrevivem e conseguem aviar o hospedeiro..

            Daí haver tanto liberal anti-vacinas. É o Estado a interferir ilicitamente no livre mercado virico!

      • POIS! says:

        Poi, ora bem!

        Eu também acho que a produção de moeda deveria ser livre. Se uma pessoa não gosta do Euro porque não pode fazer o seu próprio dinheiro? Quem tem medo do “Almeideuro”?

        Se depois ninguém o aceitasse, ora, assunmiam-se as consequências!

        Uma vantagem: O Estado, por falta de motivação, largava logo as carteiras. Uma desvantagem: as agências funerárias poderiam vir a recusar fazer funerais por falta de fiabilidade dos ativos monetários. Mas as escolhas têm sempre riscos. Há que aceitar as consequências!

  4. Paulo Marques says:

    É quase como se uma ideologia a defender o cada um por si, chamando-se verdade apolítica, desse inevitavelmente lugar a que a única área de divergência permitida a pessoas sérias e responsáveis fossem as questões identitárias, com os supostos valores católicos à cabeça.
    E quase como se fosse preciso ter um estado soberano que ponha ordem na bagunça e governe para os cidadãos.

    • António de Almeida says:

      Respeito a tradição católica, como todas as outras, mas não quero que me imponham valores em que não acredito. Obviamente que é suposto que se governe para os cidadãos. O busílis está na forma…

      • Um liberalismo que não distinga a área privada da área de cidadania é uma qualquer aberração.

        No outro extremo, mas num mesmo registo, corresponde à esquerdalhada ao impor que na área de cidadania eu reconheça que um mariconço (que em privado fará o que puder por meios lícitos) tenha a liberdade de me vir ‘cantar’ um filho à minha porta, ou que esse carnaval do orgulho gay tenha outro significado senão uma aberração festiva, tão idiota como pôr os mancos a marchar aos saltos com ar de grande contentamento e orgulho.

      • Paulo Marques says:

        Adaptando uma “famosa” citação, «The law, in its majestic equality, forbids the rich as well as the poor to sleep under bridges, to beg in the streets, and to steal bread.», o liberalismo, na sua grande caridade, dá, quer ao rico quer ao pobre, a liberdade de ir de avião comer croissants a Paris, comprar um avião ou ir à ópera em Florença.

        • Tretas que não justificam a bandalheira esquerdalha.

          • POIS! says:

            Pois é!

            Sim, porque é uma ousadia inaceitável a tentativa de justificar o injustificável. Comos todos sabem, a bandalheira é um direito histórico natural inalienável da Direita.Trata-se de uma intolerável tentativa de esbulho!

            Já no manual da Mocidade Portuguesa se escrevia sabiamente: “Sê bandalho, dá morte ao esquerdalho”.

            Como proclama um hino inspirado num poema de JgMenos: “Às armas, direitrolhas! Às armas, eu vos digo! Correi com os esquerdalhos! A bandalheira está em perigo!”

  5. António de Almeida says:

    Conservador nos costumes e liberal na economia não subscrevo. Sou pela:
    Liberdade política, económica e social. Por isso votei na Iniciativa Liberal. Poderei voltar à abstenção. Não tenciono votar no CDS do Chicão. Simpatizo com o Adolfo Mesquita Nunes, que está muito isolado no partido…

    • Fernando Manuel Rodrigues says:

      A IL está para a direita como o BE está para a esquerda.Uma e outro são mútuo reflexo no espelho, e podem bem desaparecer. O ambiente ficaria muito mais limpo.

  6. POIS! says:

    Ora pois!

    Do que eu gostei mais no “post” foi do título. E, dentro deste, das reticências…(em homenagem, até acrescentei estas…).

    Também gostei da ternura com que é descrito o “Chega”. Fiquei muito comovido.

    E também concordo que, se o administrador de negócios falideiros começar a nadar no Rio Laranja acaba engolido. Resta a esperança que o chefe retorne do Vietname e lhe dê notícias do que é o liberalismo em ação por lá.

    Quanto ao resto, acho que a esperança está no novo “Euromilhões” e nos seus fabulosos “jackpots”. Talvez incluam uma força de Direita que ponha em prática a ideologia Antonista de Almeidista. Seria um regime fascinante, em que cada um faria as suas escolhas livremente e o Estado se limitaria a dar nos costados daqueles que o quisessem impedir.Em casos extremos poderiam até ser internados em campos de reeducação liberal para que se cumprisse a divisa “quer tu queiras quer não queiras hás-de ser liberal!

  7. Pedro Vaz says:

    “pessoalmente não me revejo na dicotomia esquerda/direita, fruto da revolução francesa, já lá vão mais de 2 séculos.”

    Então garanto-lhe que o Chega é o seu partido. Deixe-me contar-lhe um segredo…só nos declaramos de “direita” porque a maior parte das pessoas não consegue pensar para além dessa dicotomia, na verdade somos anti “Esquerda vs Direita” mas na política do Mundo moderno temos que ser pragmáticos acima de tudo.

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