Açores, uma lição de estabilidade

A Geringonça durou quatro anos.

A versão açoriana de direita, com a extrema-direita na equação, durou dois e meio.

A piada não está na durabilidade de cada solução.

Nem no espantalho da instabilidade que se agitou todos os dias, entre Novembro de 2015 e Outubro de 2019.

Esta no facto de terem sido os partidos que não aguentaram o acordo do Açores até ao fim a agitá-lo.

Se não conseguem entender-se para governar uma região autónoma, como conseguirão fazê-lo para governar o país?

Karma is a what?

Párem de comparar a IL com a extrema-direita

Meter a IL e o CH no mesmo saco é, tão somente, um favor que se faz ao CH. E a todos os que pretendem um fosso tão grande entre a esquerda e a direita que acabe de vez com a comunicação. Não darei para esse peditório. Não faço favores à extrema-direita. Quem quiser que os faça.

Pela transparência das contas públicas

A Iniciativa Liberal deu entrada de um requerimento no Ministério das Finanças, para se tornarem públicas todas as contas do Estado.

A proposta abrange todas as receitas e despesas, do governo às autarquias, passando por empresas públicas, institutos e observatórios, numa espécie de relatório e contas da nação.

Parece-me um imperativo de transparência, que deveria contar com o apoio de todos os partidos. E, de facto, “não se percebe como é que não existe uma base de dados com esta informação“, como afirmou hoje Carlos Guimarães Pinto à TSF.

Ou se calhar percebe.

#comprimos

li por aí que uma liberal acusou a IL de ter uma espécie de familygate na estrutura do partido. Estou chocado (NOT).

Autoridade Tributária, o homem do fraque da Brisa

Ouvi, a espaços, partes do Fórum TSF de hoje. Já tinha ouvido, lido aqui e ali, mas só naquele momento me apercebi da perversidade que é ter a Autoridade Tributária a fazer o papel de homem do fraque de empresas como a Brisa, destruindo vidas por conta de dívidas de cêntimos. À Brisa, não à AT.

A Brisa é um daqueles negócios ditos da China, que começa com o contribuinte a pagar tudo, passa para uma privatização em várias fases, durante as quais sucessivos governantes envolvidos, do PSD, PS e CDS, saltam da decisão para o conselho de administração, e termina com o privado a lucrar pesado, mas sempre com a possibilidade de recorrer novamente ao bolso dos contribuintes.

Ou, dito em português corrente, uma chulice.

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Sobre a normalização do fascista Bolsonaro

É bom recordar que não foi só André Ventura e o CH a alimentar a falsa equivalência entre Lula e Bolsonaro. Também no seio da IL, PSD e CDS ouvimos vozes a normalizar o extremismo. Por muito que agora assobiem para o lado, fica o alerta para o futuro.

“Quem os pariu que os lamba”

Vocês (nós) que continuam a votar nos partidos do sistema. Vocês (nós) que continuam a pagar os impostos sem ai nem ui. Vocês (nós) que continuam a aceitar ter serviços públicos de merda pagando imposto de nórdicos. Vocês (nós) que continuam mais revoltados com o golo em fora de jogo contra o vosso clube do que com a mão que embala os vossos impostos para as mordomias dos senhores da política. Vocês (nós) que se irritam mais com as entrevistas do Ronaldo do que com as tristes figuras do Presidente da República. Vocês (nós) que preferem votar no que rouba mas faz na vossa autarquia do que ouvir gajos que sejam sérios e que se limitam a dizer a verdade. Vocês (nós) que preferem a novela da TV a pensar e agir em colectivo contra a forma como esta merda é sugada pelos mesmos de sempre.

Vocês (nós) não se podem queixar da senhora dos 500 mil ou de qualquer um dos outros senhores de outros tantos 500 mil dos nossos impostos gastos em despesas cómicas (entre telemóveis, carros de serviço, gota, férias, jantaradas e outras mordomias x 300 municípios e um sem número de institutos públicos ou direcções gerais ou o caralho a quatro) mensais todos os anos. Não, vocês (nós) não se podem queixar porque não fazem nada para o evitar. Não se organizam. Não tomam em mãos a acção. Na verdade não quereis saber. E nem vos passa pela cabeça organizar uma desobediência civil a, por exemplo, não pagar impostos (é onde lhes dói mais). Nada. E por isso, não se queixem sobre os 500 mil da senhora e de tantas outras senhoras e senhores. Porque vocês (nós) são cúmplices. A culpa não morre solteira. É vossa. É nossa.

Como dizia  a minha avó, “quem os pariu que os lamba”. É começar a dar à língua…

Ex-deputado eleito pelo movimento de Rui Moreira condenado por racismo

Em 2018, David Ribeiro, na época deputado municipal eleito pelo Porto, o Nosso Movimento, do presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, escreveu na sua página pessoal no Facebook que um grupo de “20 a 30 romenos” (de etnia cigana) eram “um autêntico martírio” para alguns comerciantes e residentes, sem apresentar qualquer prova da sua afirmação, naquilo que se mostrou como uma gratuita manifestação de xenofobia.

A publicação, intitulada “Ciganos Romenos no Porto”, apresentava-nos um rol de preconceitos racistas e xenófobos contra a comunidade romena no Porto, rematando com a sugestão, às autoridades, que estas pessoas fossem, de alguma forma, postas (ainda mais) à margem da sociedade, sem haver provas materiais que as pusessem em situação de potencial criminalidade.

Depois de em Junho deste ano a Comissão Permanente da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) ter condenado o antigo deputado municipal a uma (irrisória) coima de €428,90, a mesma vem, agora, reiterar a decisão, obrigando David Ribeiro a cumprir com a condenação. Diga-se, de passagem, que David Ribeiro não recorreu da decisão… mas o movimento de Rui Moreira recorreu, perdendo agora o recurso.

O caso veio a público em 2018, depois de David Ribeiro ter publicado o texto na sua página de Facebook e de, dias mais tarde, o Bloco de Esquerda do Porto ter levado o assunto à Assembleia Municipal. Foi Tatiana Moutinho, que esteve integrada nas listas do Bloco de Esquerda à autarquia portuense e Piménio Ferreira, um cidadão do Porto, quem apresentou queixa à CICDR, juntamente com a SOS Racismo; agora, quatro anos depois, saem vitoriosos do caso, tendo o agora ex-deputado municipal neo-liberal de cumprir com o estipulado.

O movimento “independente” conta com o apoio do CDS-PP, do IL e do PPM.

David Ribeiro, antigo deputado municipal portuense eleito pelo movimento de apoio a Rui Moreira, foi condenado por xenofobia

Putin & Cotrim

23 de Fevereiro de 2014: Rússia invade e anexa a Crimeia.

28 de Fevereiro de 2014: Turismo de Portugal, liderado por João Cotrim de Figueiredo, anuncia operação ambiciosa de reforço da promoção de Portugal no mercado russo.

E vocês, também têm saudades dos tempos em que Putin podia invadir e anexar território de estados soberanos sem que isso tivesse impacto nas proveitosas relações comerciais entre o Ocidente e as ditaduras do bem?

Eu não. Mas há muito quem tenha. A Federação Russa, em particular a sua máfia oligarquica, era muito rentável para a aristocracia europeia e americana.

Faz de conta

Na Bélgica, onde o governo é liberal (partido Open VLD, do grupo dos Democratas e Liberais na UE), decidiu-se, tal como em Espanha, Reino Unido e Itália, taxar as margens de lucro das empresas de energia e dos bancos.

Aqui, em Portugal, onde o tão afamado governo “socialista” impõe uma ditadura maoísta, segundo alguns dementes liberais, parece que PS é o melhor amigo das grandes empresas e dos grandes grupos económicos.

E assim se prova que os nossos social-democratas e os nossos liberais são de marca branca. Não servem nem para lavar canos.

Liberais ou cheerleaders do “lá fora é que é bom”?

Ultimamente, tem havido posições da IL que se tornam difíceis de explicar para um liberal como eu. Acreditando que cada liberal deve defender a menor minoria de todas, o indivíduo, custa-me ver liberais a defender grupos ou instituições, criando aqui uma ideia fantasiosa de bons contra maus. Sempre que se coloca esta divisão corremos vários riscos: pressionar quem nos ouve, toldar a nossa visão perante o que é mais fácil e não ver algumas coisas que deveriam ser óbvias. Prefiro uma opinião controversa de alguém que tenta perceber o outro lado do que ouvir algo totalmente alinhado com aquilo que é seguro defender. Há dois campos em que a IL me desiludiu um pouco como liberal: posições em relação à invasão russa à Ucrânia e aos LGBT.

Desde que a Guerra começou, a IL tomou um lado claro: a Ucrânia. E bem. É claro que há um invasor e um invadido. Mas à boleia começou uma defesa cega dos mesmos que rebentaram, por exemplo, com Belgrado. Que espalham a democracia à lei da bomba pelos mais variados pontos do planeta: a NATO. A IL chegou ao ponto de defender que pertencer à NATO é pertencer ao mundo livre. Eu já fiz tweets meio parvos, mas normalmente eram sobre foras-de-jogo e a Dua Lipa, não era a chamar “mundo livre” aos genocidas de curdos, o Estado Turco, aos opressores da liberdade sexual, a Polónia, ou até a Portugal de 1949. Pior do que isto foi ver a IL a festejar o facto da Finlândia ter sido convidada a entrar na NATO, porque temos de ser contra autocratas e ditadores em toda a linha. Esqueceram-se de que a Finlândia teve de ceder à Turquia, aos conhecidos genocidas do povo curdo, para poderem ser aceites. Aceitar que seja normal o Estado Turco fazer exigências para alguém ser aceite é como meter o Sócrates a dar aulas de gestão pessoal ou o Ferro Rodrigues a dar aulas de educação sexual. A IL sabe que é um jogo seguro ficar sempre ao lado da NATO, porque esta tem bom nome. É uma típica jogada de centrista que só não quer ver o seu nome na lama e não arrisca verdadeiramente romper com os limites do pensamento. As pessoas, como não ouvem falar, aceitam facilmente um genocídio, enquanto mandam paletes para outro povo massacrado. Estes países acusarem-se uns aos outros é o mesmo que um violador virar-se para um assassino e dizer “Não cuspas para o chão, que é chato”.

A mesma estratégia usada para a questão da Guerra, pensada mais na reação dos outros do que baseada nos próprios valores, é também a mesma para as questões LGBT. Que fique claro: por defender a liberdade sexual de qualquer indivíduo sou contra estas marchas e estes associativismos, não sendo contra a liberdade de associação, pois cada indivíduo escolhe como pretende defender o que acredita. Como liberal, defendo a 100% a liberdade de cada um marchar por aquilo que quiser. Como liberal, nunca iria a uma marcha dessas, nem que me pagassem. A Iniciativa Liberal não se pode abster e ser contra medidas que os LGBT, como trupe que se autoproclama dona das “minorias” sexuais, e querer ir a uma marcha destas. É o mesmo que ir a uma festa para a qual não sou convidado. A marcha LGBT, os grupos LGBT, todos esses movimentos não são livres de ideologia, nunca o foram. Ter uma identidade sexual diferente de heterossexual cisgénero não é sinónimo de defender estas grupetas instrumentalizadas pela esquerda. Felizmente, sei que não sou nenhum heterossexual doido que acha estas coisas e conheço bastantes pessoas homossexuais que não se revêem nessas práticas. As críticas da esquerda à presença da IL na marcha são mais do que legítimas. Afinal, o pride nunca serviu para defender a liberdade, mas sim grupos.
Quem defende a liberdade sexual não se associa a movimentos que se sentem donos da identidade pessoal de outros, quase num negócio perverso entre lealdade e proteção. Um pouco ao estilo da máfia.

Parece-me que a IL começou a deixar os valores liberais por eles mesmos para defender aquilo que parece liberal, como se o mundo fosse linear como num livro de História do 4º ano. Defende-se aquilo que se ouve nas redes e nas notícias, aquilo que se acha que nos vão chatear menos, não pensando que por vezes há valores liberais colocados em causa. Ser liberal está longe de ser apenas apoiar sempre a UE, a NATO e todas as grandes organizações. Não querer ultrapassar um caminho que pode ser longo é o mesmo que pisar um jardim bonito para chegar mais rápido ao destino. Mais tarde ou mais cedo, as consequências virão. E Portugal em nada ganhará ao tentar conquistar os votos daqueles que nunca colocarão a cruz num partido liberal.

Carlos Guimarães Pinto atropela a luso-Wehrmacht

Há todo um oceano que me separa de Guimarães Pinto e da IL em matéria de relações laborais, Estado Social e opções macroeconomicas. Mas irrita-me, profundamente, quando se mete a IL no saco do CH, algo que de resto apenas contribui para normalizar a extrema-direita. Neste curto extracto de uma recente sessão parlamentar, está a prova de que, nas questões essenciais, como o são os direitos humanos e a decência em geral, a IL está na trincheira da democracia. E isso, nos tempos que correm, parece-me fundamental. Expor a xenofobia, o racismo, a manipulação, a demagogia e o extremismo putinista da extrema-direita portuguesa é, inequivocamente, um serviço ao país, no qual me sinto sempre representado.

PSD: o problema do original e da cópia

O PSD, através da JSD, decidiu colocar este outdoor. A cópia ao estilo IL é por demais evidente. Será isso um problema?

Podia até nem ser. Uma boa cópia até pode ser valorizada. Só que a questão é outra: a mensagem é absolutamente de nicho. A esmagadora maioria das pessoas vai olhar para o cartaz sem fazer a mínima ideia do que raio é a “Succession”. E a minha questão é um pouco mais simples: o objectivo do PSD agora é falar para os nichos? Um partido que se quer líder da oposição e o maior partido do centro direita vai dedicar o seu tempo e os seus recursos a falar para a malta do twitter? É esse o caminho? Cheira a despiste…

Guerra, o modo de vida da Iniciativa Liberal

Não é novidade para ninguém que BE e PCP são contra a presença de Portugal na NATO. São-no desde sempre. E, convenhamos, trata-se de uma opção ideológica e programática perfeitamente legitima, que diz respeito a cada partido. Há quem já não se lembre, mas o CDS também era eurocéptico. O próprio Cavaco Silva chegou a afirmar que a UE não era para toda a vida.

Sou a favor da presença de Portugal na NATO, até pela nossa dimensão e vulnerabilidade, o que não invalida que tenha críticas ao funcionamento da organização, que, na prática, é um instrumento de política externa dos EUA, no interior do qual todos os outros são Estados-clientes do Pentágono.

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Comunicação Social: Esquerda? Direita? Volver…

se o twitter fosse uma mesa de voto em legislativas, a discussão pelo primeiro lugar seria renhida entre o Bloco e a IL mas se fosse colocada uma mesa de voto só para as redações, a disputa pelo lugar cimeiro seria entre o PCP e o Bloco? Mas é mesmo assim?

 

Nas redes muito se discute quem é que domina a comunicação social. Para uns, com o nosso João Mendes à cabeça, é a direita. Para outros, não senhor, é a esquerda até porque domina as redações – se o twitter fosse uma mesa de voto em legislativas, a discussão pelo primeiro lugar seria renhida entre o Bloco e a IL mas se fosse colocada uma mesa de voto só para as redações, a disputa pelo lugar cimeiro seria entre o PCP e o Bloco? Mas é mesmo assim?

Recentemente, Pedro Guerreiro (jornalista do Público) e João Zamith discutiam esta dicotomia “esquerda VS direita” sobre os artigos de opinião do Público. Zamith atirava que a opinião no Público estava dominada pela direita (João Miguel Tavares, F. Bonifácio, MJMarques, Paula Teixeira da Cruz, Francisco Mendes da Silva, etc) ao que Pedro Guerreiro recorda outros opinadores de esquerda (Mamadou Ba, Domingos Lopes, RT, JPP, Loff, etc). Estou a resumir o “bate papo” entre eles e não a transcrever ipsis verbis, só para avisar.

Já João Mendes tanto nos seus escritos no Aventar como nas suas intervenções nas Conversas Vadias como em tweets na sua página do Twitter, segue a opinião de que a comunicação social em Portugal é dominada pela direita e, mais recentemente, que o PCP está em desvantagem total nesta matéria por falta de comentadores nas televisões e jornais. Será que é mesmo assim?

Não é alheia a esta choradeira da direita e da esquerda sobre a comunicação social o mais recente deboche com o Chega. Ou seja, desde a noite eleitoral das legislativas temos assistido a um corrupio de eleitos do Chega nas televisões a opinar. A coisa dá audiências e as televisões não se fazem rogadas. 

Posto isto, a direita domina a comunicação social? Ou é a esquerda que interpreta esse papel na perfeição?

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A Direita e as Direitas – Parte 2

No passado dia 2, no rescaldo das eleições legislativas, publiquei uma análise sobre o resultado das direitas e deixei algumas pistas daquilo que entendo serem os desafios do futuro para a reorganização deste espaço político em Portugal.

Ao longo dos dias seguintes vi surgirem outros “escritos” a reflectir sobre o mesmo. Como vi nas televisões alguns a procurar fazer o mesmo, independentemente de seguirem ou não a mesma lógica de raciocínio da minha análise (um deles foi o João Miguel Tavares no programa Governo Sombra e agora é só aguardar para ver o que vai, sobre isso, escrever na sua coluna de opinião no Público, não deve tardar…). Entretanto, tropecei em duas opiniões que, a meu ver, merecem alguns apontamentos. Um artigo de opinião no Observador e uma entrevista ao semanário Novo.

Em artigo de opinião publicado hoje no Observador, Pedro Guerreiro debruça-se sobre a Direita que não está no parlamento. Um artigo bastante lúcido e que deveria servir de base para a discussão interna do CDS. No seu entender, a democracia cristã “é a representante de uma Direita moderada a que gosto de chamar social”, uma direita personalista defensora da iniciativa privada equilibrada com a intervenção do Estado. Mas aquilo que mais me chamou à atenção no seu artigo e que está, a meu ver, em linha com aquilo que escrevi logo após as eleições, é este ponto: “O problema da Direita não é de liderança e só pode ser resolvido ao contrário: percebendo primeiro o país, para depois escolher as pessoas”. 

Por outro lado, o Professor Nuno Garoupa, em entrevista ao semanário Novo, analisando o que se passou no CDS (uma vez mais coincidimos) atira com a necessidade do PSD se transformar – em linha com aquilo que eu, no meu artigo, referi sobre a necessidade do renascimento do PPD. Para ele, o PSD necessita de fazer internamente o que Monteiro e Portas fizeram ao CDS quando o transformaram em PP, “Um partido completamente novo, com uma mensagem nova e gente nova”.

Ora, o PSD não percebeu que o nascimento e a afirmação da Iniciativa Liberal mataram, de vez, a possibilidade do PSD continuar a ser o albergue espanhol de todas as correntes do centro direita e da direita. Como antes escrevi, os liberais não voltam ao PSD. Por sua vez, os conservadores em todas as suas vertentes não são social democratas. E o PS, enquanto casa dos social democratas, não vai desbaratar esse capital que, como bem sabem, lhe é fundamental eleitoralmente. Por isso mesmo, o caminho do actual PSD é a afirmação do PPD como a casa do centro direita e da direita não conservadora nos costumes deixando para o CDS ou para o que dele resta os conservadores “tout court”. A maioria absoluta do PS e de António Costa é uma oportunidade de ouro para a transformação do PSD. E será um erro e um suicídio de o actual PSD se dedicar a escolher simplesmente um líder em vez de debater o futuro – debater o futuro é compreender o que resta do PSD, o que realmente representa e para onde quer ir para ser uma alternativa credível aos olhos dos portugueses. O passismo, bem ou mal, com ou sem razão, por culpa própria ou da Troika – não vou discutir esse tema – afastou franjas da população que sempre foram próximas do PSD como os reformados, os funcionários públicos, os micro e pequenos empresários, os profissionais liberais e uma parte importante dos professores e todos estes não regressam sem uma profunda mudança que não pode ser meramente cosmética. 

Será que o “povo militante” do PSD percebe isto? É que pela amostra dos últimos dias, o seu “povo dirigente” ainda não percebeu nada, ainda não saiu da bolha. 

A Direita e as Direitas – Crónicas do Rochedo 48

 

O principal pecado de RR começa logo nesta divisão. Rio era conservador às segundas, quartas e sextas e liberal às terças e quintas. Nos sábados e domingos dividia-se entre o descanso em Viana do Castelo e afirmar que era de centro esquerda. Em suma, RR era tudo e o seu contrário. No fundo, não era nada. E como não é nada, nada é o resultado da sua liderança no PSD. Um enorme nada.

 

A noite eleitoral de ontem foi um desastre absoluto para parte da direita portuguesa. O CDS-PP desapareceu do mapa que conta e o PSD levou uma pancada monumental. 

Podemos considerar que existem razões internas fruto das respectivas lideranças. Por um lado, temos o CDS-PP de Francisco Rodrigues dos Santos (FRS) que cometeu o erro de não ter feito as directas e, pelo outro lado, Rui Rio (RR) que foi péssimo na oposição. É uma leitura possível mas, a meu ver, simplista. 

Simplista porque o problema do CDS é anterior a FRS. O CDS estava em queda livre e vertiginosa desde que Paulo Portas desertou. A liderança de FRS foi minada desde o momento em que este decidiu, consciente ou inconscientemente, largar as amarras do “portismo”. A partir daí nunca mais teve sossego. Conviveu com um grupo parlamentar que não era o seu e com comentadores CDS nos diferentes órgãos de comunicação social que eram oposição à sua liderança e de fidelidade canina ao “portismo”. Como alguém escreveu (não sei se foi o Rui Calafate ou o João Gonçalves), FRS teve que viver rodeado de lacraus. O cúmulo foi ver como uns desertaram logo no momento anterior à campanha eleitoral e os restantes desertaram da campanha sem desertarem dos palcos oferecidos pelos OCS. Mesmo assim, sem grandes meios humanos, sem meios financeiros e sem boa imprensa até esteve bem na campanha eleitoral. Mas não foi suficiente. 

Por sua vez, Rui Rio com a vitória nas directas conseguiu ter tudo: os meios, a máquina, os opositores e até, pasme-se, boa imprensa. Mesmo assim, não evitou o desastre. Mesmo com a estratégia de comunicação do Rio bonzinho, tolerante e simpático. Quem não o conhecia até podia ser levado a acreditar. Quem conhecia o RR original (que ressuscitou na noite das eleições com o momento alemão) sabia que tudo aquilo era plástico. Não critico a opção dos seus estrategas de comunicação. Apresentar o RR original seria arriscar nem chegar aos 20%. Como os compreendo.

Contudo, o desastre eleitoral do PSD é mais complexo que isto. 

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Adeptos 1-0 Governo

Felizmente, penso que esta é a última vez que tenho de escrever sobre essa aberração idealizada pelo governo socialista chamada Cartão do Adepto. Depois de a mesma ideia falhar em vários países, tal como o redondo falhanço em Itália (Tessera del Tifoso), os socialistas fizeram o melhor que sabem: copiar ideias condenadas ao falhanço e que comprometem a liberdade do cidadão sem qualquer utilidade. O governo socialista demora mais tempo a perceber que ideias deve importar do que o Fernando Santos a perceber que William não é um jogador rápido.

Além da ideia em si ser errada à priori, a sua implantação mostrou-nos que não há defesa possível desta lei. A Iniciativa Liberal propôs o fim do Cartão e adotou esta luta desde há largos meses, à qual o PCP e o Chega se juntaram, apesar de não concordar com as contrapartidas apresentadas pelo Chega na sua proposta. Os resultados práticos deste Cartão foram tão maus que até levaram o arrogante PS a abster-se e a ver deputados votarem a favor da proposta da IL. O pior desta votação foi perceber que alguém que queira um Estado menos invasivo na vida das pessoas não se pode rever num PSD amorfo, que nem contra uma medida que afeta diretamente a liberdade individual de cidadãos, neste caso adeptos, consegue ser. [Read more…]

As alternativas a António Costa são estas? Então a culpa é do socialismo.

Aplicada a machadada final no que restava da Geringonça, da qual o BE já havia debandado ao chumbar o Orçamento do Estado para 2021, os partidos à direita deram início às celebrações, que, de resto, já haviam começado com a vitória de Carlos Moedas em Lisboa, que muitos consideraram ser o ponto de viragem e o acontecimento que marcava o início do fim da hegemonia do PS. E talvez o seja, a ver vamos.

Contudo, que direita se propõe governar o país? Um PSD entregue a uma guerra interna, mal cheirou a poder, com Paulo Rangel a liderar a rebelião, o mesmo Paulo Rangel que, não há muito tempo, afirmava, convictamente, que Rui Rio seria o próximo primeiro-ministro de Portugal, e expressava todo o seu apoio ao ainda líder do PSD, para no final da passada semana protagonizar uma espectáculo de facas longas em Belém, com um Marcelo que, no processo orçamental, falhou em toda a linha? Um CDS que, perante a crise à esquerda, decidiu ter o seu momento “hold my beer” e entrou em processo de autodestruição, com uma debandada geral da inteligentsia portista? Um CH cada vez mais extremista, que, só nestes últimos dias, teve o seu dono a insurgiu-se contra a expressão “Fascismo Nunca Mais”, um vice-presidente a fazer um ataque misógino e ordinário a uma deputada e outro a atacar jornalistas, acusando-os de serem “o tumor maligno da democracia”? Uma IL irrelevante, que está para o PSD como o Bloco está para o PS? O que têm estes partidos, no presente momento, para oferecer? Pouco ou nada, parece-me.

Entretanto, no Largo do Rato, António Costa sorri e debate, internamente, dois cenários: ganhar com maioria absoluta ou ganhar sem maioria. Se o primeiro se verificar, algo que me parece pouco provável, pouco haverá a dizer. Caso ganhe sem maioria, importa saber o que restará das pontes que uniam o PS aos partidos de esquerda, e se ainda será possível reconstruí-las. Seja qual for o cenário, tudo indica que o poder continuará do lado esquerdo do espectro. A direita está demasiadamente ocupada consigo própria, e com quem decidirá a formação das listas de deputados para as próximas Legislativas, para discutir o país e apresentar uma alternativa credível. Mas o responsável pelo buraco em que se enfiou, seguramente, há-de ter sido o socialismo.

PS-L: Partido Social-Liberal? ou o mito que cai por terra

Desde 2019, aquando da entrada, na Assembleia da República, de duas forças políticas (IL e CH) que, até aí, nunca tinham feito parte do jogo democrático enquanto partidos (preferindo, por contrário, estar submetidas a PPD-PSD e CDS-PP), que a narrativa do “SOCIALISMO”, da “EXTREMA-ESQUERDA” e da “VENEZUELA DA EUROPA” ganhou força e se viu reproduzida por esses Twitters afora.

A narrativa populista dos neo-liberais e dos neo-fascistas da Iniciativa Liberal e do Chega, respectivamente, mostra-se, no entanto, infrutífera, quando atentamos em factos consumados, comprovados e indesmentíveis. Dizem-nos os noviços reaccionários (que não são novos) que o PS, à boleia de BE e PCP, se esforça para transformar Portugal numa espécie de Cuba (neste caso, uma Cuba social-liberal, deduzo…) europeia, comparando o regime português a uma ditadura qualquer da América do Sul e fazendo analogias com o tempo da Outra Senhora, vestindo António Costa com insígnias da PIDE-DGS; vamos, então, aos tais factos.

Quando o PS decidiu formar Governo, em 2015, precisou de se juntar à Esquerda parlamentar para conseguir almejar o objectivo de derrubar a Troika, representada por PSD e CDS (partidos onde, na altura, se escondiam a IL e o CH). Tal objectivo só foi alcançado através de acordos escritos entre os centristas do PS e a Esquerda. Durante quatro anos vivemos sob a governação do PS, apoiado em BE e PCP, naquilo que ficou e ficará na História como a “Geringonça”. No entanto, nas Legislativas de 2019, o PS venceu as eleições e, mesmo não atingindo a maioria, decidiu governar sozinho, sem acordos escritos, achando que poderia ir cedendo à Esquerda e à Direita conforme lhe desse mais jeito. Não contava o PS com a entrada no Parlamento de dois partidos populistas que não se cansam de distorcer e manipular a realidade política e social em Portugal. E, com isso, não contava com a narrativa do “SOCIALISMO”, da “VENEZUELA” e do “MARXISMO CULTURAL”, chavões desadequados, ora porque, como sabe quem percebe minimamente disto, nem as políticas do PS são socialistas, ora porque há teorias da conspiração a mais; mas o PS deixou-se estar. Parece, também, que à falta de argumentos válidos, os populistas da Direita reaccionária atiram esse barro à parede; só que não é barro, é arroz em papa. Desmintamos, então, a realidade da Direita tremoço.

A realidade desmente os trauliteiros do Twitter. Contrariando a narrativa da Direita (e até a do próprio PS em relação à Esquerda) saberão os leitores ao lado de quem votou mais vezes o PS na AR? Não?! Atentem, então, nos números abaixo:

Os “best friends forever” do PS na AR: PSD, CDS e IL

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Propostas concretas? Re-jei-ta-do!

    Relembro que este Projecto de Lei, proposto pelo Bloco de Esquerda, foi apresentado em Setembro passado na Assembleia da República. Há por aí uns partidos de direita a barafustar contra impostos sobre combustíveis (quando na semana em que os impostos descem miseravelmente, as gasolineiras aumentam o preço do combustível – acreditar na boa intenção do mercado é só risível) e contra o preço dos combustíveis.
    Mas eu relembro:
  • Em Setembro, foi votado o Projecto de Lei do Bloco de Esquerda que pretendia introduzir um regime de preços máximos nos combustíveis, adoptando medidas anti-especulação que evitem a subida generalizada dos preços impulsionada pelo mercado.
    O Projecto de Lei foi rejeitado com os votos contra do centrão onde, na AR, costumam fazer filão para combater a Esquerda (PS, PSD e CDS); e com os votos contra dos populistas neo-fascistas do CH e dos populistas de outdoors neo-liberais da IL. O PAN, sempre tão lesto na defesa do bóbi e do tareco, absteve-se.
    Sei bem que isto não passa na TV; ora porque não convém expor a hipocrisia dos partidos do centro e da extrema-direita, ora porque é mais fácil fazer barulho sem que se perceba uma vírgula do que se está a dizer. Mas aqui está: relembre-se.

Conversas vadias 29

Os acepipes servidos nesta vigésima nona edição das Conversas Vadias estiveram a cargo dos chefs José Mário Teixeira, Francisco Miguel Valada, Carlos Araújo Alves, António Fernando Nabais, António de Almeida e Orlando Sousa. Começámos por servir um apalpão de Filomena Cautela sobre traseiro de acompanhante, acrescentámos parabéns à selecção nacional de futsal e campeã do mundo. A partir daí, foram saindo da cozinha referências à azia benfiquista, aos Pandora Papers, a Manuel Pinho, aos Panamá Papers, à Evergrande, à extinção ou reconfiguração do CDS, à muita ou nula importância do Estado, ao ordenado mínimo, a federador Portas, à ideia de alargar a escolaridade obrigatória para esconder a pobreza, à falta de professores. No final, regou-se tudo com sugestões – ele foi música, ele foi séries de televisão, ele foi Pessoa e/ou Vicente Guedes, ele foi cinema, ele foi aprender a viver sem redes sociais, um festim!

Conversas Vadias
Conversas Vadias
Conversas vadias 29







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Silêncio que se vai aumentar o combustível

Em plena pandemia, os combustíveis subiram em flecha. Sobem há 12 meses. GPL incluído.

As pessoas ficaram em casa, e os combustíveis aumentaram. A produção industrial arrefeceu, e os combustíveis aumentaram. Diminuiu o tráfego rodoviário, e os combustíveis aumentaram. Diminuiu o tráfego aéreo, e os combustíveis aumentaram. Há menos turistas, menos carros alugados, menos caldeiras de hotéis a trabalhar, etc., e os combustíveis aumentaram.

Perante a evidente especulação, o barulho é pouco. Muito pouco. Aliás, até soa a silêncio.

O BE não faz grande barulho, porque defender combustíveis não é ser “esquerda moderna”. O PCP também não, porque não são “direitos dos trabalhadores”. O PAN  também, porque não vai defender o consumo de combustíveis, nem o assunto interessa ao bem-estar animal. O PSD também não faz barulho porque… porque, enfim, este PSD não é muito de fazer barulho. O CDS pouco barulho faz, porque não é matéria suficiente para exigir uma demissão ministerial. O mesmo se diga da IL porque, se calhar, ainda não conseguiu arranjar modo de conseguir um bom “soundbite” à custa disso. E o Chega não se rala com o que não pode culpar ciganos, migrantes ou refugiados. E não me esqueci do PS. O PS é que se esqueceu de o ser, e não é de agora.

Enquanto isso, quem tem de trabalhar, de se mover, sem que tenha transportes alternativos excepto o individual, paga cada vez mais caro por isso.

Valha-nos o facto de se estar a salvar a TAP, pois conto com ela para me levar da Areosa à Rotunda da Boavista. A preços módicos, claro.

Do MEL ao fel passando pela IL

Ao que parece “as direitas” reuniram em Lisboa por via de um movimento (associação? clube? agremiação? colectivo?) chamado MEL – Movimento Europa e Liberdade.

As minhas expectativas: discussão e apresentação de propostas de modelos económicos e sociais para o país; que futuro para o Portugal pós-pandemia? O que defende a direita para a educação? Que modelo de desenvolvimento para o país? Reforçar ou alterar o SNS? mais Estado ou menos Estado? O que fazer com o dinheiro da “bazuca”? O estado da Justiça e medidas para o melhorar? Como reformar as Forças Armadas? Qual o papel da CPLP e como deve ser o relacionamento entre Portugal e os PALOP? Em suma: o que pretende apresentar aos portugueses a direita como alternativa ao governo de António Costa? O que pretende para Portugal numa visão de médio-longo prazo?

O resultado: fel. Muita amargura. Com os portugueses porque votam à esquerda, com o PSD porque Rio não faz oposição. Com o Chega porque é um embaraço. No meio de tanta erudição oca, valeu por um discurso bonzinho de Cotrim Figueiredo e pelo elefante na sala chamado Pedro Passos Coelho. Se tudo isto é a direita, vou ali vomitar e já venho. Vá lá que ninguém se lembrou da velha bandeira caduca e muito académica de certa direita: é preciso uma revisão constitucional (pelo menos que me tenha apercebido)….

Para terminar a semana “das direitas” que não o são ou nem sabem bem o que são, a IL e o seu deputado único ajudaram a evitar que Rui Pinto fosse à comissão do BES falar do que sabe. Se o Chega é um embaraço para a direita, esta posição da IL consegue o fenómeno de o ultrapassar. “O BES, o Vieira e a IL” dá um excelente título para um romance…

André tem Mel

O Movimento Europa e Liberdade (MEL) realiza, estes dias, o seu muito falado conclave.

E o que é mesmo o MEL?

Não tenho bem a certeza. Tentei aceder ao site, para saber qual é a cena deles, mas estava crashado. Foi então que encontrei o cartaz do festival no Google, e fui ver o alinhamento. Segundo pude apurar, o MEL é uma convenção de direita, apesar de não se assumir como tal, onde políticos dos partidos de direita convivem com a fina flor da comunicação social de direita, com dois críticos internos de António Costa para fazer de conta que aquilo não é uma convenção de direita. Para quê tanta dissimulação? [Read more…]

Cotrim lava mais branco?

Portanto, na audição a Luís Filipe Vieira, o deputado da IL (Iniciativa Liberal) foi para lá de fofinho. Se Cotrim fosse advogado de carreira (penso que não o é) eu diria estar perante mais um caso em que advogado, cliente e testemunhas preparam a audiência e em que as perguntas, fofinhas, lavam a situação. Alegadamente, claro. A intervenção do único deputado da IL nem chega a ser uma desilusão. Uma coisa garantiu: o meu voto nunca mais o levam.

Foi por isto que a direita dita moderada se vendeu?

Na primeira sondagem – valem o que valem, já sei, mas não costumam errar por muito – realizada após a decisão instrutória da Operação Marquês, pela Aximage para o JN/DN/TSF, as intenções de voto do Chega registam uma queda de 1,2%, dos 8,5% de Março para 7,2% em Abril. E isto não deixa de ser curioso e revelador. Se num dos momentos de maior fragilidade do regime que quer derrubar, Ventura não só não descola, como perde gás e se atrasa na corrida com o Bloco pelo terceiro lugar, então é possível que a extrema-direita tenha atingido o seu pico de crescimento. Pelo que se parece confirmar que a direita dita moderada se vendeu por muito pouco. Aliás, parece dar-se o caso de ter até pago para se vender, ao invés de receber, ou não tivesse o crescimento do Chega sido alimentado por uma debandada do PSD e, sobretudo, do CDS. Debandada essa que, convenhamos, tem vindo a crescer, pelo menos até à presente sondagem. Porque, na verdade, a direita toda junta vale hoje tanto como valia em 2015, e não está muito distante de 2019. A variação anda na casa dos 4%. E isto acontece porque a direita, com a excepção do IL, entregou o centro ao PS para lutar com o Chega pelo eleitorado que era seu. Vamos ter mais 6 anos de António Costa. E, a continuar assim, a mais 4 de Fernando Medina ou Pedro Nuno Santos. E esta é apenas uma das consequências de jogar o jogo do Chega. E nem sequer é a pior. No caso do PSD, o mais recente elenco autárquico-mediático, e todas as contradições que encerra, fala por si. Já o CDS enfrenta a extinção, ou, na melhor das hipóteses, a despromoção à liga do Livre (atrás do qual aparece nesta sondagem), a lutar por eleger um deputado em Lisboa. E quanto mais tempo demorarem a pôr os olhos no exemplo de Angela Merkel, pior será. Chama-se cordão sanitário e é uma questão de bom-senso.

4 de Maio de 2021 – A noite de horror dos Pablos

É preciso algum cuidado na análise aos resultados de ontem, em Madrid, de Isabel Ayuso. A sua vitória esmagadora não é uma vitória esmagadora do PP. Não. Nem é apenas uma derrota esmagadora de um Pablo, o Iglesias. O 4 de Maio ficará para a história da política espanhola como a noite de horror para dois Pablos. O Iglesias e o Casado. Por razões diferentes.

A cosmopolita Madrid derrubou de forma implacável um dos seus representantes. Pablo Iglesias é um produto dessa Madrid cosmopolita, moderna e jovem. Foi a partir de Madrid que Iglesias partiu rumo à conquista da esquerda espanhola. E foi em Madrid que se transformou naquilo a que hoje o apelidam muitos dos que acreditaram na banha da cobra que lhes vendeu, o “podemita”. E ser um “podemita” em Espanha é tudo menos positivo. Ser um “podemita” não é ser um militante ou apoiante do Podemos. Não. É ser alguém que traiu os seus eleitores, que traiu o ideal que, supostamente, defendia e representava. É o “podemita” que se transformou no inquilino de um luxuoso condomínio habitacional dos arredores de Madrid, que vivia no meio daqueles que tanto criticou, cujos vizinhos alimentam o voto franquista do Vox. É ser tudo aquilo que antes tanto criticou aos seus adversários.

A mesma cosmopolita Madrid que votou Ayuso mas não vota Pablo Casado. Porque lhe falta a ele o que ela tem para dar e vender: carisma e “huevos”. Isto escrito por alguém que não vai muito “à bola” com a senhora. Continuo a ter muitas dúvidas na estratégia de Ayuso na gestão da pandemia (a mesma estratégia, confesso sem qualquer hesitação, que lhe permitiu construir este resultado histórico). Aliás, ao dia de hoje, Madrid continua a ser um barril de pólvora quanto ao número de infectados e ao número de doentes nas UCI. Porém, mal ou bem (o futuro o dirá), Ayuso fez algo que em política é essencial mas que se tornou raro: escolheu um caminho e foi por ali fora sem pestanejar. Escolheu manter Madrid minimamente aberta, decidiu colocar-se ao lado dos comerciantes da sua região e dizer que não se pode combater uma pandemia matando com a cura. Enquanto que nas restantes regiões de Espanha o comércio estava fechado e as regras de recolher obrigatório eram (ainda são) duras, em Madrid eram flexíveis. Se nas Baleares fechava tudo (ou quase) às 17h, em Madrid fechava às 23h (ou mais). São opções. Que só o futuro dirá qual a mais correcta.

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Carlos Guimarães Pinto: Antigamente não era bom

(Carlos Guimarães Pinto, Ex-Presidente da IL-Iniciativa Liberal)
Salazar morreu pobre, dizem. Naquela casa eram todos pobres. A governanta era pobre, a cozinheira era pobre e o motorista era pobre. Salazar era tão pobre que até os seus empregados eram pobres. Também nunca roubou ou foi corrupto, como nos garante a falta de notícias e reportagens da imprensa “livre” da altura ou a falta de condenações do sistema de justiça “independente” do Estado Novo.
Salazar era um académico reconhecido de grande envergadura intelectual, dizem. De uma envergadura intelectual tão grande que nem precisou de fazer tese de doutoramento para receber esse grau. Já antes tinha sido nomeado professor ordinário da Faculdade de Direito de Coimbra sem necessidade de prestação de provas. Era de tal maneira bom que nem precisava de prestar provas da sua habilidade como académico para progredir na carreira (pelo menos o outro teve que fazer o exame a um domingo).
A democracia e a liberdade de imprensa com o escrutínio acrescido que trouxeram revelaram problemas crónicos da sociedade portuguesa: a corrupção, o domínio das elites e a falta de independência das instituições. Mas “antigamente” não era bom. Era pior. Para além da falta de democracia e liberdade de expressão, havia certamente mais corrupção, mais captura do estado pelas elites e ainda mais nepotismo, com a agravante de tudo estar suficientemente escondido para não se saber e se poder alimentar o misticismo de um regime de líderes impolutos que se mantém na cabeça de muitos até hoje.
Este misticismo no subconsciente e mesmo no discurso de alguns ajuda a manter uma ideia errada sobre os problemas estruturais do país. Esses problemas não se resolvem com homens providenciais. Resolvem-se com mudanças nas instituições que permitam que o sistema funcione qualquer que seja o líder, ou líderes, que temporariamente assume determinado cargo. Um país não pode depender tanto da qualidade dos seus líderes como Portugal hoje depende. Um país com instituições fortes, pode funcionar bem mesmo com maus líderes. Quanto mais fortes forem as instituições (imprensa livre, justiça independente, separação de poderes,…) menos importante é a qualidade dos líderes que temporariamente governam o país. Isto funciona para um país como para uma empresa ou outra organização qualquer.
O grande desafio da democracia não é eleger homens providenciais. Isso é muito difícil avaliar antes de os ver no exercício do poder e mesmo assim nem sempre a avaliação é correcta. O grande desafio da democracia é ter instituições à altura que tornem o país menos sensível a variações na qualidade dos seus líderes. Ironicamente, para se conseguir ter instituições fortes resilientes à qualidade dos seus líderes, precisaremos, temporariamente, de alguns bons líderes capazes de as implementar.

Os donos de Abril

25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais. Upssss:

#istoaindanãoéacoreiadonorte