Parafraseando a uma citação muito popular entre a direita, da mais liberal à mais extrema, que tomei a liberdade de adaptar aos dias de hoje, penso que não será descabido dizer que o capitalismo dura até fechar a fábrica comunista. É que, a julgar pelo pânico que se instalou nos mercados, nas bolsas, nos bancos e nos grandes capitalistas em geral, que não gostam do comunismo, excepto quando é para deslocalizar a produção para a China ou para o Vietnam, de forma a poder aumentar os lucros e não ter custos adicionais com direitos laborais ou humanos, parece que o encerramento da grande fábrica chinesa, como consequência da epidemia covid-19, tem tudo para ser a acendalha da próxima crise mundial do capitalismo moderno. Em todo o caso, mercados, bolsas, banqueiros, especuladores e outros piratas das Caraíbas fiscais não têm motivos para ficar preocupados. Se isto realmente der o estouro, culpa-se o cidadão comum, esse gastador, aplica-se uma austeridadezita purificadora e resgata-se novamente o capitalismo com o dinheiro dos contribuintes. Como ainda estamos a pagar o estouro anterior, a malta nem vai reparar.
O processo do Aeroporto do Montijo desvela confrangedora incompetência
É por demais evidente que Lisboa para de um novo aeroporto, uma vez que o da Portela há muito que esgotou a sua capacidade, mas trata-se de um problema local, de Lisboa, ou regional, da Grande Lisboa, e não de um problema nacional como querem fazer crer.
Por esta razão tentei sempre evitar pronunciar-me para não meter a foice em seara alheia. É que isso de descentralização começa por ser evitar transpor para a responsabilidade do resto do país os problemas de Lisboa, classificando-os como nacionais.
Nesta conformidade, apesar de estranhar o processo de localização, o facto de a pista projectada não viabilizar a aterragem de aviões de maior dimensão, o assinar de contratos com a Vinci antes do estudo de impacte ambiental, o resultado do estudo, as contrapartidas para a Vinci, reservei-me no maior silêncio que me foi possível.
No entanto, neste desenlace final, surge um pormenor que, [Read more…]
Deseducar para controlar – A ignorantização como projeto de poder
Nestes dias tão conturbados em que presenciamos e vivemos cataclismos políticos e sociais tão evidentes, a figura do autômato descrita pelo Filósofo e Historiador Alemão Walter Benjamin me veem a cabeça. Em seu texto Conceitos Sobre História, assim ele descreve este ser: “Conhecemos a história de um autômato construído de tal modo que podia responder a cada lance de um jogador de xadrez com um contra lance, que lhe assegurava a vitória. Um fantoche vestido à turca, com um narguilé na boca, sentava-se diante do tabuleiro, colocado numa grande mesa. Um sistema de espelhos criava a ilusão de que a mesa era totalmente visível, em todos os seus pormenores. Na realidade, um anão corcunda se escondia nela, um mestre no xadrez, que dirigia com cordéis a mão do fantoche.”
O que de certa forma exprime a ideia contida no detalhamento da figura de um autômato fantoche, deixa mais do que claro as nuances da situação brasileira atual. Vivemos como uma população robotizada, passando por falsas transformações que ocultam uma continuidade de engrenagens de poder que se perpetuam desde a formação do país enquanto nação. Tal qual o jogo de xadrez evidenciada pelo pensador alemão, nossas jogadas são de cartas marcadas. Embora as peças sejam diferentes ao longo dos anos, nossa política, graças aos mecanismos de continuísmos, garante a perpetuação de uma série de privilégios, meandros e costumes arraigados no seu cerne.
Passando pelo período colonial, ao grito do Ipiranga dado por um Nobre Português com Disenteria proclamando a independência; da pompa do Período Imperial, vicejando a república velha e seu voto de cabresto; do (velho) Estado novo de Getúlio Vargas; da ditadura de uma noite sombria que durou 21 anos; até estes dias de tresloucada de uma incongruente democracia republicana empedernida: mudaram-se sistemas de governo, pessoas, políticos, economia e os pormenores do tempo, mas algo conseguiu manter-se como permanência em todas estas épocas.
Hábitos, costumes e uma certa cultura política e educacional calcada no uso do estado, da nação e de todos os seus dispositivos para perpetuação de um Modus Operandi voltada para o ego individualista, onde poucos se beneficiam com as mazelas da maioria, onde se deveria existir ações e pensamentos voltados para o bem-estar de todos, há o movimento contrário. Pelo sucesso individual, baseado na desgraça geral.
Instituições, empresas, órgãos públicos e privados, e a própria população são imbuídas de uma crença onde apenas o seu interesse deve ser o primordial para que seus objetivos, metas e satisfação enquanto cidadão sejam supridos. Indo por este caminho, ocorre a cegueira geral de que o bem-estar e a empatia pelo outro é desnecessária. Onde todos têm o mínimo de suas necessidades de vida, consumo, lazer, segurança, saúde e educação, a existência da sociedade e seu desenvolvimento atinge todas as expectativas e estabilidade para que aqueles pertencentes a ela se sintam aplacados e satisfeitos em sua condição existencial.
E então fica a pergunta de por que aqueles que detêm o poder não fazem as mudanças preconizando e dando prioridade a estas questões? Oras, pelo mesmo motivo que muitos tentam fraudar a bolsa de valores, enganar o arbitro em alguma competição esportiva, praticar bullying, e por aí vai; a resposta final é o ganho individual em detrimento do interesse coletivo.
É nisto que reside a realidade concreta do Brasil, uma população a mercê de ilusões criadas por uma política que mesmo mudando suas jogadas e modelo, consegue perpetuar processos e atingir os mesmíssimos resultados, não importando se a partida e o sistema forem diferentes. O resultado sempre será o mesmo, ludibriando e dando a falsa ilusão daqueles que estão envolvidos no jogo, que podem conseguir uma vitória quando uma nova partida se inicia.
Ardilosa armadilha criada pelo Estabilishment desde os primórdios da nação brasileira, ele é tão eficiente por não depender de modelo político, econômico ou social: ele se mantém entranhado nos hábitos culturais bem como nos mecanismos da indução de pensamento e influência dos costumes. É a arma perfeita nas mãos do Status Quo, pois venceu e vence suas batalhas sem dar sequer um tiro.
Para que as mudanças que não mudem tenham sua continuidade, ocorre então a necessidade de ferramentas visando manter toda esta penúria, e o meio de alcançar estas metas é o sucateamento da educação brasileira. Vamos sendo criados de modo que a imensa maioria não perceba que está sendo iludida nos joguetes do poder, e aqueles que sabem como funciona isso tudo entram num processo de conformismo com a situação.
Não existiu até hoje um verdadeiro plano de reforma educacional esclarecedora, primando pelo efetivo ensino que consiga quebrar com estas correntes de um nocivo controle das vontades do inconsciente e subconsciente brasileiro, não precisando aqui descrever o tenebroso projeto do Escola sem partido(sic). Hábitos e costumes tão profundamente incrustados no consciente nacional só são passíveis de mudança através da educação. Por isto, a educação brasileira permanece arcaica, pois vai de encontro aos interesses daqueles que, como o corcunda anão mestre no xadrez relatado por Walter Benjamin, tem nos políticos os fantoches de suas vontades.
Sendo assim, cada vez mais dou razão a afirmativa de Darcy Ribeiro: “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”.
Uma Justiça de ladrões e de corruptos
Como é possível acreditar na Justiça portuguesa quando todos os dias aparecem novos casos de corrupção que envolvem os mais altos cargos das magistraturas? Quando durante anos fizeram dos tribunais o seu quintal privado? Quando durante anos roubaram, manipularam e venderam sentenças?
Dizem-nos que há falta de funcionários e de magistrados e que por isso milhares de processos estão parados. Dizem-nos que muitos outros prescrevem por causa dos recursos e alçapões legais que a lei permite.
Só que afinal, à luz do que diariamente se vai sabendo, é muito mais do que isso. Os processos de Santa Engrácia, invariavelmente ligados aos poderosos, estão parados durante anos e acabam por prescrever de forma deliberada porque alguém paga para que isso aconteça. Os processos vão parar a determinados juízes porque alguém paga. As acusações são mal feitas com o objectivo de não pronunciação dos arguidos porque alguém paga. As sentenças são vendidas a quem pagar mais.
Vitalino Canas, um maçon inqualificável, ponta-de-lança dos poderosos a caminho do Tribunal Constitucional, representa o grau zero do estado a que chegou a Justiça em Portugal.
Depois do que sabemos, é impossível não questionar o passado. Os processos de Macau e de Mário Soares, minuciosamente descritos nos Contos Proibidos e minuciosamente arquivados por Cunha Rodrigues; o processo Casa Pia, que atingiu de forma selectiva apenas políticos do PS e esqueceu Paulo Portas, que então estava no Governo; o Freeport de Alcochete, cujas denúncias foram cortadas à tesoura por Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento; a Tecnoforma de Passos Coelho; a Quinta da Coelha de Cavaco Silva; e tantos, tantos outros.
Quem pagou? Quem recebeu? Quanto pagaram?
Como é que podemos acreditar nesta gente?
E como é possível acreditar que vai acontecer alguma coisa seja a quem for? A Ricardo Salgado? A José Sócrates? A Rui Rangel? A Vaz das Neves?
Não vai. Nada. Aconteceu a Ricardo Sá Fernandes, condenado por ter gravado uma conversa que incriminava um corrupto mafioso que a Justiça não incomodou; e aconteceu a Rui Pinto, extraditado ilegalmente e preso há mais de um ano por ter revelado os segredos de uma sociedade de advogados que trabalha para os poderosos e de uma empresa mafiosa sediada em Malta, entre muitos outros.
Com eles, a mão foi firme. Porque esta Justiça de ladrões e de corruptos não gosta que lhes estraguem o negócio. E o seu negócio são os poderosos.
A extrema estupidificação
O plano da extrema-direita, assumida ou dissimulada no interior de partidos democráticos, passa, em larga medida, por aqui: infantilizar, desinformar, estupidificar e difundir uma mensagem, alegadamente anti-sistema, segundo a qual o conhecimento científico é uma afronta elitista contra o comum cidadão, que os neofascistas pretendem bruto, ignorante e em permanente estado de conflitualidade, para que possam reinar sobre a turba dividida. Combater esta mentira, na minha opinião, é uma obrigação de todos os democratas que se prezam e estimam a democracia, estejam eles à esquerda ou à direita do espectro. Pactuar com ela é validá-la e regredir.
Direita Política: a estupidificação ao serviço da extrema-direita
O Direita Política, um site de extrema-direita que se dedica à produção e divulgação de notícias falsas, questionou os seus leitores, a propósito da posição do PAN sobre o tema da eutanásia:
Que partido é este que é contra a eutanásia nos animais e a favor da eutanásia nas pessoas?
Problema n.º 1: João Moura
Nestes dois parágrafos, descubra quais foram as quatro palavras escritas com os pés pela redacção da FLASH!:
Como a FLASH! avançou, o cavaleiro João Moura, 59 anos de idades, foi detido na manhã desta querta-feira, na sua casa em Monforte, distrito de Portalegre, por alegados maus tratos a animais, no seguimento de uma investigação da GNR.
Ouvido em interrogatório, o cavaleiro saiu com a medida de coação de termo de identidade e residência e já se encontra de regresso a casa. Durante a investigação foram-lhe apreendidos 18 cães de raça Galgo Inglês, de que é criador para a atividade de caça à lebre com galgos.
SOLUÇÃO: [Read more…]
André Ventura e a arte de gozar com a cara do eleitorado do Chega
Podem os chegófilos negar a realidade e encher a caixa de comentários de idiotices fanáticas, como é seu hábito, mas a verdade é que este é apenas mais um dos inúmeros exercícios de desonestidade de André Ventura, o contorcionista político. Em campanha, defende apaixonadamente a obrigatoriedade do exercício do mandato de deputado em regime de exclusividade, afirmando mesmo que nunca acumularia funções, porque tinha que dar o exemplo. Uma vez eleito, manteve intocável a sua relação com o grupo Cofina, bem como as suas funções de consultoria na empresa Finpartner. Para quem se assume como alguém que vem para mudar a política, para a dignificar e para acabar com a “mama”, André Ventura não passa de um embuste. Só um ignorante, ou alguém totalmente alheado da realidade não percebe isto. Um embuste, leia-se, que não se cansa de gozar com a cara do seu eleitorado, o que diz muito sobre o mesmo.
Padrões & grafias: o desejo de entrar em *contato
We ordinarily obey a rule according to which anyone who finds an empty seat first is entitled to that seat.
— Jesse PrinzIn the literature on the phonological complexity of listening input, contracted forms (e.g., can’t) have been proposed to have a potentially negative impact on decoding auditory information, because the recognition of lexical items and syntactic constructions might pose a greater challenge due to decreased phonological information (e.g., Rubin, 1994).
— Brunfaut & Révész (2014)
***
Há muitos anos, ao volante da minha excelente Volkswagen Passat azul — mas azul à Benfica, note-se — , algures na B 419 alemã, ali pertinho do Mosela, ouvia frequentemente o ‘adagio sostenuto’ do concerto para piano n.º 2, em dó menor, do Rachmaninov, sempre na expectativa (e na esperança) desse all by myself avant la lettre e muito mais interessante do que o próprio. Aliás, já algo de semelhante me acontecera, muitos anos antes, no 35, a caminho da Rua do Heroísmo. De facto, quando saiu o não posso mais do Pedro Abrunhosa, houve ali um breve momento who pays the price dos INXS. Depois, a sensação passou. Anteontem, enquanto estudava, ouvi o início deste excerto do danúbio azul e lá veio a gran partita. Recentemente, estive envolvido numa violenta discussão sobre um caso quase tão bem conhecido como o de Rachmaninov & Eric Carmen, o do pour some sugar on me dos Def Leppard e do we will rock you do Axl Rose (sim, pois, OK, dos Queen).
Resta acrescentar que não estamos a falar nem, por um lado, de homenagens implícitas (tvmural para tvc15), explícitas (submissão para sub-mission), cómicas (sol da caparica para california sun), hilariantes (bué de baldas para baggy trousers), esforçadas (judgement day para while my guitar gently weeps), esforçadíssimas (universal para o navio fantasma), trágicas (jorge morreu para damaged goods), auto-referenciais (hangar 18 para the call of ktulu, [1] a 4.ª sinfonia para o evgeni onegin ou the hands para i don’t believe in love), confessadas ([2] the phoenix para i wanna be your dog [a prever o Iggy Pop no new york city?] e californication para carnage visors), [3] deliciosas por abrandamento (Quebra-Gelo para London Calling), nem, por outro, de carreiradas (l’idiot, city of new orleans…). Também anteontem, antes de dedicar uns minutos da hora de almoço à defesa Cunningham, pus-me a ouvir o i want you (she’s so heavy) dos Beatles e, logo no início, lá estava um dos meus momentos predilectos dos Mötley Crüe. Entretanto, voltei a preocupar-me com as diferenças entre a Lisboa de Madonna e a Lisboa de Letterman.
Adiante.
O fim-de-semana está à porta. Isto significa que acaba hoje mais uma série de dias úteis de vergonha para o Governo de Portugal e para os seus cúmplices. Efectivamente, desta vez, além dos exemplos habituais no sítio do costume
e alhures,
tivemos a bonita homenagem [Read more…]
Marega e os porcos

A capa do Inimigo Público, da autoria do genial Nuno Saraiva, é todo um tratado à grunharia que caracteriza os estádios de futebol neste país. Não reflecte o comportamento de todos os adeptos, não é um exclusivo do Afonso Henriques, mas é uma constante. Grande Marega, que teve a coragem de virar as costas aos porcos e sair.
De José Calado a Moussa Marega: Homofobia e racismo no futebol
José Calado, jogador do Benfica, foi porventura o primeiro a reagir da forma que se impunha ao ódio e violência no futebol português. Em Outubro de 2000, durante o Benfica – Braga, abandonou o jogo ao intervalo e recusou-se a regressar ao relvado depois de ser vítima de insultos homofóbicos durante toda a primeira parte. O jogo decorria no Estádio da Luz e os próprios adeptos do Benfica passaram os primeiros 45 minutos do jogo a chamar-lhe maricas e paneleiro por causa de um boato que então circulava em Lisboa relacionado com o cantor Melão.
20 anos depois, todo um país se levanta para defender Moussa Marega, jogador do FC Porto vítima de insultos racistas em Guimarães.
Os hipócritas dirão que o país evoluiu muito.
Mas é mentira. No Dragão, o único estádio que conheço, são frequentes os sons a imitar macacos – e não me parece que o objectivo seja o de homenagear o «querido Líder» dos Super Dragões. Até um jogador da casa é facilmente apelidado de «preto do caralho» se falhar algum passe ou perder um golo certo.
Nos outros estádios do país, de norte a sul, acontece exactamente a mesma coisa.
Se lhes perguntarem se é racismo, dirão que não é. E no entanto, usam a cor da pele para atingir. Da mesma forma que usariam a orientação sexual se algum jogador se atrevesse a admiti-la. Usam hoje e continuarão a usar no futuro, mesmo que de vez em quando um qualquer José Calado ou Moussa Marega obrigue os hipócritas de serviço a sair da toca.
Dir-me-ão que as coisas tendem a melhorar. Talvez, embora não tenha visto grande coisa até ao momento.
Mas sim. É possível que, daqui a muitos anos, se veja com estranheza o facto de o guarda-redes adversário ser chamado de filho da puta sempre que executa um pontapé de baliza.
O caso Marega e o efeito Ventura
O efeito Ventura, que escancarou as portas do armário onde a estupidez demagógica e simplista da extrema-direita estava maioritariamente contida, não cessa de surpreender. Acabo de ler, a propósito do caso Marega, que também Luís Figo foi insultado em Camp Nou, assim como João Moutinho em Alvalade. Fazendo a vontade à grunharia, deixemo-nos de politicamente correctos: esta gente é estúpida como a porta do armário de onde saiu.
Pinto da Costa pronuncia-se sobre aftas no cérebro
Mais um elo na globalização neoliberal
Por grande maioria, o Parlamento Europeu votou no passado dia 12 de Fevereiro a favor da ratificação dos dois acordos entre a UE e o Vietname, o comercial, por um lado, e o de protecção do investimento estrangeiro, por outro. Empacotados como acordos separados para servir a estratégia da Comissão de ir avançando com o comercial, sobre o qual tem competência exclusiva, enquanto o de investimento terá de ser ratificado pelos parlamentos dos países-membros, por conter o Sistema de Tribunais de Investimento (ICS) – uma forma cosmeticamente melhorada de ISDS, a “justiça” exclusiva para as multinacionais processarem os estados.
Continua, pois, a trajetória pejada de contradições desta UE, em que são eliminadas tarifas aduaneiras para a circulação de mercadorias em redor do globo sem ter em conta nenhum critério de sustentabilidade ou de direitos humanos. Aliás, a forma precária como os direitos humanos são respeitados no Vietname poria, levada a sério, já de si as negociatas em causa. [Read more…]
Os privados não farāo eutanásias. Pudera!
É óbvio que os hospitais privados não vão fazer eutanásias. Manter os clientes vivos, custe o que custar, é um excelente negócio.
Não é preciso ser um mago da gestão para perceber que um cliente vivo continua a pagar, enquanto que um cliente morto deixa de o ser.
A questão aqui não é a de saber se eles querem ou não, mas se podem. E por razões óbvias, não devem poder.
Num assunto tão sensível como é o de organizar a morte medicamente assistida de alguém, temos de nos assegurar de que todas as questões éticas são tidas em conta e que o lucro, naquele momento, não faz parte da equação.
Da mesma forma que só o Estado faz julgamentos, da mesma forma que só o Estado devia fazer exames de acesso à Universidade, só para dar um exemplo, também só o Estado deve poder praticar eutanásias.
Porque só o Estado oferece todas as garantias necessárias. Ou seja, o SNS. Aquele para onde os privados mandam os clientes que deixam de poder pagar ou cujas doenças não conseguem curar.
Caminho perigoso…
Tenho vários amigos brasileiros, há uns tempos brincando com um deles por saber que tinha votado Bolsonaro, me respondeu, “eu não sou Bolsonaro, como eu, somos milhões. A gente não quis eleger Bolsonaro, era mesmo qualquer um, o que a gente queria mesmo era correr com o PT do poder. Já não os suportávamos…”
Ontem lembrei-me desse amigo a propósito desta notícia. O fanatismo de quem nos (des)governa e tenta impor uma agenda é de tal ordem, que mais dia menos dia, os portugueses acordarão da letargia em que mergulharam e irão livrar-se destes trastes, só que provavelmente não será para eleger quem estiver de turno na liderança do PSD, que todos sabem há décadas, ser mais do mesmo. Exemplos não faltam por esse mundo fora…
Cavaco Silva esqueceu-se do Acordo Ortográfico de 1990
NAGG
I hope the day will come when you’ll really need to have me listen to you, and need to hear my voice, any voice.
— Samuel Beckett, “Endgame”… the opportunity to use our voice for the voiceless.
— Joaquin PhoenixTodos os meus discursos saem com o acordo ortográfico mas eu, quando estou a escrever em casa, tenho alguma dificuldade e mantenho aquilo que aprendi na escola.
— Cavaco Silva
***
Esta notícia chegou-me no preciso momento em que ouvia, vinda de algures, a voz do Anthony Blanche a declamar à varanda do Sebastian Flyte o The Waste Land do T. S. Eliot (“His vanity requires no response,/And makes a welcome of indifference”). Momentos antes, pensara na razão pela qual Charles Ryder/Jeremy Irons diz “we were eating the lobster Thermidor when the last guest arrived”, quando no livro temos Ryder a indicar que “when the eggs were gone and we were eating the lobster Newburg, the last guest arrived”. Aliás, antes de passarmos ao assunto do costume, ficai a saber que, embora haja (Scottish) lobster Thermidor no Simpson’s in the Strand, no filme a sugestão é “roast beef and Yorkshire pudding”, mas no livro recomenda-se “saddle of mutton”. Quer num, quer noutro, para que não haja dúvidas, “cider to drink”.
Adiante.
Efectivamente, é essencial acabar com a pobreza. É importante desenvolver a rede de cuidados paliativos. A corrupção deve ser combatida. Portugal não pode estar na cauda da União Europeia nem em matéria de desenvolvimento, nem em qualquer outra matéria. Tudo isto é importante, fácil de dizer, mas difícil de fazer. Todavia, acabar com o AO90, além de essencial, é fácil. Muito fácil. Extremamente fácil. Acabemos com isto, sff:
Obrigado.
Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.
***
Eutanásia: Mataram, mas não querem deixar morrer
Mataram milhares de portugueses fruto das suas políticas governativas. Porque não era possível salvar vidas a qualquer preço. Longe vão os tempos em que só restava esperar que os portugueses morressem.
No entanto, agora querem impedir que um adulto, consciente e de livre vontade, decida abreviar o seu sofrimento extremo.
Querem impedi-lo a qualquer preço. Que o povo deve ser ouvido, dizem. Como se algum dia tivessem tido algum interesse no que pensa ou no que diz o povo.
Até os mortos aparecem para falar sobre a eutanásia
João Rafael Koehler, candidato a Presidente do FC Porto
Ao fim de mais de 30 anos, aparece finalmente um candidato a Presidente do FC Porto.
Chama-se João Rafael Koehler, é empresário e um grande portista.
Se vai conseguir vencer Jorge Nuno Pinto da Costa? Não, não vai. Mas vem trazer um vento de democracia a um clube jovem, moderno, virado para o futuro. Mas cuja Direcção, anquilosada, decrépita, parou no tempo há muito, muito tempo.
Bem-vindo, João Rafael!
A incompetente Lucília Gago
Não se pode dizer que o Governo e o papagaio-mor da República estejam descontentes com a escolha de Lucília Gago para PGR.
Inoperância? Incompetência? Protecção aos poderosos?
Pois foi precisamente para isso que ela foi lá colocada!, como haveria de estar a desiludir?
Com Joana Marques Vidal, o Ministério Público parecia querer transformar-se naquilo que realmente devia ser. Com Lucília Gago, voltou a ser aquilo que os políticos querem que ele seja.
O episódio de hoje é apenas triste, nada mais. E vai ser assim até ao fim do mandato.
Que, com sorte, ainda será renovado.
O IVA da electricidade e o IVA da eletricidade
DOROTHY
Toto, I have a feeling we’re not in Kansas anymore.
— The Wizard of OzWovoka had a vision, his words went far and wide.
— Death Cult
***
A decisão sobre o IVA da electricidade foi um dos grandes temas desta semana. Todavia, a pergunta impõe-se: aquilo que os deputados votaram foi o IVA da electricidade ou o IVA da eletricidade? Sim, porque, não são exactamente a mesma coisa e, se bem vos lembrais, ambas aparecem no Orçamento do Estado para 2020. Tendo em conta alguma tradição (“não responde“, “não responde“, “não responde“), ficaremos provavelmente sem saber se é electicidade ou eletricidade.

© psdesign1 / Fotolia [http://bit.ly/2veNZQq]
Quanto ao dilema electricidade/eletricidade, convém igualmente recordar que a supressão do cê da sequência -ct- dá azo a erros em línguas estrangeiras (*fator, *diretion, *eletric). Será possível que um falante/escrevente de português europeu venha um dia a escrever
Development of Analyzing System for Power Fator and Harmonic Diretion in Eletric Power Distribution System using FA Computer,
em vez de
Tendo em conta os “human fator issues“, os “One Diretion” e a “General Eletric“, sim, é possível.
Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.
***
Mais football leaks e o grande Rui Pinto
A Sábado desta semana dá conta de uma série de investigações fiscais aos principais clubes portugueses. Essas investigações incluem fraudes, lavagem de dinheiro e desvios de dinheiro. “Todos suspeitos”, diz a revista.
Lida a reportagem, nada de novo relativamente ao que o Expresso avançou em 2018. E em 90 por cento dos casos, um elemento em comum, Jorge Mendes, o Dono Disto Tudo.
Como portista, fico muito contente que tudo seja denunciado. Infelizmente, nada de novo. Há anos e anos que o clube ganha milhões em transferências, mas o dinheiro desaparece como que por encanto. Principalmente depois de 2004, com os mais de 100 milhões em vendas, foi o descalabro, ao ponto do clube sofrer a humilhação de ser intervencionado pela UEFA.
Para algum lado há-de ir o dinheiro e o grande Rui Pinto já deixou em tempos algumas pistas, com as referências à família Pinto da Costa.
Que se investigue tudo até ao fim. Se for essa a única forma do FC Porto se ver livre desta SAD decrépita que está a levar o clube para o fundo, que seja.
Infelizmente, mais uma vez, nada acontecerá a ninguém. Não vai acontecer ao FC Porto. Não vai acontecer ao Benfica nem a Jorge Mendes – se estes caíssem, caia todo o regime com eles.
Neste país de ladrões de colarinho branco, como muito bem diz Joaquim Jorge, a PGR já se assegurou de que os poderosos nunca serão incomodados. Basta a procuradora Gago contrariar os seus subordinados.
Para a Justiça, o único culpado é o Rui Pinto.
O tal que de repente passou a ser bom para alguns. O tal que para outros passou a ser mau.
Para quem não estiver infectado por clubites, partidarites ou interesses, Rui Pinto não é parcialmente bom ou mau. Não. É todo bom (salvo seja).
Tudo o que divulgou e vai continuar a divulgar será sempre muito mais do que qualquer erro que tenha cometido.
Envolva Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira, Ricardo Salgado, Antônio Costa ou Marcelo Rebelo de Sousa.
Tal como o algodão, o PSD nunca engana…
Pelo menos a mim deixou de enganar após 2002, quando um cherne de má memória chegou ao governo e não cumpriu a promessa eleitoral do choque fiscal. Mais tarde, sob a liderança de Pedro Passos Coelho, ofereceu aos portugueses um brutal aumento de impostos. Hoje, com o pretexto das contas certas, sob a liderança de Rui Rio, deu uma mãozinha ao governo, recusando descer o IVA na electricidade, à semelhança do que Manuela Ferreira Leite havia feito em relação a impostos durante o governo de José Sócrates.
Em matéria de esbulho aos rendimentos dos cidadãos, não encontro diferenças substanciais entre PS e PSD. E mesmo que algum líder do PSD no futuro faça promessas eleitorais, o histórico recomenda cepticismo, porque credibilidade é algo que não abunda no partido laranja.
Na hora de defender os poderosos, a procuradora Lucília não gagueja
Digam uma, uma só investigação a poderosos conduzida pelo Ministério Público que tenha resultado na condenação dos arguidos.
Digam uma, uma só medida de Lucília Gago tendente a combater a corrupção.
Se calhar foi convidada para isso mesmo, para não incomodar os poderosos. Porque quando alguém os incomoda mesmo, ela até vai buscá-los a Budapeste se for preciso. Até tira meios humanos às investigações para esvaziar o que está em curso.
Não satisfeita, e não vá o diabo tecê-las, decidiu que os procuradores hierárquicos dos magistrados possam alterar qualquer uma das suas decisões.
Sendo assim, pode começar já pela vergonhosa quebra do segredo de justiça do primeiro-ministro. Mesmo que algum procurador corajoso queira ir para a frente com o caso, a senhora procuradora Gago encarregar-se-á de fazer abortar o processo.
Afinal, manda quem pode e ela, que é apenas um peão, obedece.
«Oficial: data de fecho do mercado de verão volta a mudar em Inglaterra»
Nada se sabe ainda sobre os mercados de verei, verás, verá, veremos e vereis. Exactamente.
Duas notícias: uma péssima e uma óptima
A péssima é que Jardel pára. A óptima é que, apesar dos boatos, o jornal A Bola não adopta o AO90.
Eutanásia, o boomerang português
[Francisco Salvador Figueiredo]
Parece um assunto bastante complicado, mas só o deve ser para as pessoas que sofrem e que a querem. Não é fácil alguém decidir se vai acabar com a sua própria vida ou não. Nem sequer é justo. Mas para se chegar a este ponto é necessário ter havido bastante sofrimento. O corpo e a vida de cada um de nós apenas ao seu respetivo dono diz respeito.
Da mesma forma que temos um carro, um quadro ou um aquecedor, temos o nosso corpo e a nossa vida nas nossas mãos. Ao longo do nosso crescimento, fazem-nos acreditar que não precisamos de ninguém para alcançar o que queremos, que temos de lutar, que temos de chegar aos nossos objetivos.
Com que direito o Estado impede que uma pessoa possa optar pelo futuro da sua vida? Nenhum. O Estado não tem o direito de impedir uma pessoa de querer colocar um fim à sua própria vida. Pior do que o Estado querer ou não despenalizar a Eutanásia são aquelas pessoas que apoiam o Estado a não despenalizar a mesma. A Eutanásia sendo legal dá liberdade de escolha às pessoas. Ao ser legal, ninguém está a obrigar doentes que sofrem a morrer. Apenas lhe dão o poder de decisão. [Read more…]
No governo Bolsonaro indígenas brasileiros passam fome
Cerca de 64 famílias da etnia guarani-kaiowá que moram no Mato Grosso do Sul não recebem mais as cestas de alimentos que eram entregues com o apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai). A noticia foi dada pela BBC News Brasil.
Varias etnias indígenas brasileiras estão sofrendo com o atual governo classificado como anti-indígena e que só atende as demandas de fazendeiros e grileiros. Bolsonaro chegou a declarar que durante seu governo não demarcaria novas terras a indígenas, mesmo as que já estão em processo como é o caso da aldeia Pyelito Kue ocupada pelos indígenas em 2011.

Presidente da Funai Marcelo Augusto Xavier, é ligado a bancada do agronegócio no Congresso.
Como parte de uma política agressiva aos indígenas o presidente brasileiro designou para presidir a FUNAI ( Fundação Nacional do Índio), Marcelo Augusto Xavier que é ligado à bancada do agronegócio no Congresso , e que obviamente, atua pelos interesses desse setor.
A media soma-se a outras ações do governo como incentivar a evangelização de tribos isoladas como denunciam vários indígenas e indigenistas. O massacre de indígena continua.
A Constituição de 1988 garante aos indígenas o direito de manter sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições — e também os direitos sobre as terras em que sempre viveram. É papel da União demarcar essas terras e protegê-las, segundo a atual Constituição brasileira (art. 231).
Fonte. BBC News Brasil, Brasil de Fato.
Comentários Recentes