O inglês, a língua mais rica da Europa pela junção dos elementos “anglo-saxões” com os latinos, (…) naturalmente, enferma de uma estrutura do verbo relativamente acanhada e que só com uma prolixidade de emprego dos verbos auxiliares de certo modo se redime.
— Fernando Pessoa

Retrato de Fernando Pessoa, de José de Almada Negreiros [https://bit.ly/2BXJWLN]
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Quando políticos falam sobre língua e sobre assuntos directa ou indirectamente com ela relacionados, é certo e sabido que tais iniciativas trazem água no bico. Segundo a Iniciativa Liberal (em chilreio antigo, só entretanto lido), Fernando Pessoa “foi uma das principais figuras do liberalismo português”. Para justificar tão ousada afirmação, a IL cita Fernando Pessoa:
Há serviços de Estado em muitos países, que trabalham com deficit previsto para beneficiar o consumidor. Como, porém, esse consumidor é ao mesmo tempo contribuinte, o que o Estado lhe dá com a mão direita, terá fatalmente que tirar-lho com a esquerda. O consumidor é, no fim, quem paga o que deixa de pagar.
Sendo correctíssima quer a citação feita pela IL, quer a seguinte descrição de Pessoa sobre si próprio
Conservador do estilo inglês, isto é, liberal dentro do conservantismo, e absolutamente anti-reaccionário,
também não é menos verdade que Pessoa escreveu esta maravilha:
Uma criatura de nervos modernos, de inteligência sem cortinas, de sensibilidade acordada, tem a obrigação cerebral de mudar de opinião e de certeza várias vezes no mesmo dia. Deve ter, não crenças religiosas, opiniões políticas, predilecções literárias, mas sensações religiosas, impressões políticas, impulsos de admiração literária.
[…] Ontem, dia 14, com a ajuda do Almada, entre uma e outra coisa, como diria Caeiro, escrevi esta defesa de Pessoa contra aqueles que dele se querem apropriar, sejam eles liberais, socialistas, linguistas, […]