
Ted Cruz, senador ultraconservador do Partido Republicano, teve mais um momento de brilhantismo, a propósito de mais um massacre numa escola americana. O 30° este ano. 39°, se contarmos com universidades.
Afirma Cruz que o problema não é a proliferação descontrolada de armas nos EUA. O problema é as escolas terem demasiadas portas, quando deveriam ter apenas uma, guardada pelas forças de segurança. Estava resolvido o problema. Nunca um destes terroristas se lembraria de estacionar o carro em frente à escola e esperar pelo toque de saída. Ou de saltar o muro. Ou de começar por matar os polícias que guardavam a porta. Nada disso. Um génio, este Ted sem X.
Não admira, portanto, que Ted Cruz seja um dos oradores da conferência da NRA, o poderoso lobby que garante que a ideologia da morte sobre a qual assenta a proliferação descontrolada de armas continue a matar crianças, adultos e idosos todas as semanas, em escolas, igrejas e supermercados, só para citar os massacres deste mês. Em 2022, registos oficiais revelam um acumulado de 251 tiroteios, uma média de 1,7 por dia. Mas campanhas de Cruz não se vão pagar sozinhas. Dance, monkey, dance.
Todas as escolas que os meus filhos frequentaram, em Lisboa, tinham uma só porta, que era guardada em permanência por um porteiro.
Ainda bem. Assim ficaram protegidos dos zero tiroteios anuais que têm lugar nas escolas portuguesas. Um alívio.
Uma vez gusano, sempre gusano. Faz lembrar o barbado que de vez em quando aparece pela província, estão dispostos a vender a mãe desde que agradem aos financiadores.
Acho um piadão ao sistema jurídico americano. Colossal!
Uma constituição feita no século XVIII que é sagrada, mas só para o que convém.
A segunda emenda permite o porte de arma? Sim. Mas é preciso ler a emenda toda, pelo menos, digo eu:
Diz assim:
“Sendo necessária à segurança de um Estado livre a existência de uma milícia bem organizada, o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser impedido”.
Costuma citar-se apenas a parte que vem depois da vírgula. Ainda ontem o vi num dos canais noticiosos da nossa praça. Mas o resto não é importante? Porquê?
Porque não convém.
Na realidade, o uso e posse de armas tem uma finalidade: a existência de UMA MILÍCIA, sendo esta BEM ORGANIZADA. Não sei como alguém passa por cima disto para dizer que essa milícia é composta pelo conjunto de chalupas que resolvem encher a casa de armas de assalto.
Até porque, feita a necessária interpretação atualista, essa “milícia” já existe há muito: é a polícia!
Antigamente, lá nos séculos XVIII e XIX, o papel de polícia estava entregue ao Xerife e aos seus “adjuntos”. Que podiam ir mudando, por isso todos os cidadãos deviam estar preparados. Parece ser essa a finalidade da norma.
Mas para os aboletados da NRA a finalidade não conta.
Mas como tudo é sagrado, agora cito eu Sagrada Constituição de MIl Oitocentos e Carqueja:
Artigo 1º, Secção 8
Será da competência do Congresso:
(…)
“Organizar e manter exércitos, vedada, porém, a concessão de crédito para este fim por período de mais de dois anos”; (…)
Parece que isto aponta para que não possa existir exército permanente. E, muito menos, espalhado por esse Mundo fora.
Era a conceção dominante nessa época. Aqui já se faz uma interpretação diferente: as condições de segurança mudaram e patati, patatá…
Hiroxima here it goes! Watch out Iraq! Granada, here we go!