Estranhei, no pomar do bairro, que os quivis tivessem vindo do Chile. Foi um comentário impensado, até porque eu nem gosto por aí além de quivis. Mas a dona da loja embrenhou-se numa história rocambolesca sobre a exportação dos quivis portugueses para França, onde são seleccionados e enviados de novo para Portugal a preços mais altos. Os outros clientes – dois homens que nunca por lá tinha visto – juntaram-se à conversa, cada um com outros exemplos de negócios que acabam invariavelmente na espoliação dos produtores e no enriquecimento das grandes cadeias de distribuição. A dona da loja entusiasmou-se. Os clientes também. Saltaram para os banqueiros, as offshores. A justiça, o Rui Pinto, o Salgado. O Sistema. A pouca-vergonha, a gatunagem, o povo português é muito manso, o isto só lá vai quando o povo acordar. Quem os ouvisse, parecia que iam sair, a qualquer instante, de archote em punho, para erguer barricadas frente ao Parlamento e lançar cocktails molotov ao Sistema.
Mas, como sempre, tudo serenou quando se aproximaram do balcão e a juíza deu início ao ritual do saquinho da fruta a repousar sobre o prato da balança, que é quanto todos como que pressentem que o alvoroço dos ânimos poderia traduzir-se nuns gramas a mais. Baixam as vozes e talvez até sustenham a respiração. Anunciado o veredicto («1 euro e oitenta, meus queridos.»), pagaram e despediram-se com um resignado «Pode ser que um dia».
Enquanto os três aqueciam os motores da revolução, eu fui escolhendo as tangerinas de folha mais verdinha, que agora debulho enquanto vos conto. Suspeito que o meu destino é passar ao lado da História.
Excelente exemplo da revolta e resignação de grande parte do povo português. Mais um retrato vivo e realista do que nos rodeia com a sua sensibilidade e mestria habitual. Obrigado Carla Romualdo.
Subscrevo. Nós somos isto, tal e qual.
Já os Da Weaseal cantavam: “toda a gente crítica, toda a gente tem muita pica, mas é na mesa do café que toda a acção fica, manda mas é vir mais um cafezinho, não há dinheiro que pague este solzinho.”
A revolta do povo logo se apazigua com um subsidio.
O povo português a cada dificuldade anseia pela protecção do Todo Poderoso Estado “protector”, e acaba como servo daqueles que o deviam servir.
A típica frase
“Não há um policia que veja isto” resume muito bem onde acaba a espinha dorsal do nosso povinho.
Não queremos resolver os nossos problemas , queremos que os resolvam por nós. É o principio da perda da Liberdade.
Joana Quelhas
“Não queremos resolver os nossos problemas , queremos que os resolvam por nós. É o principio da perda da Liberdade”.
Ora pois!
E a prova disso é que, ao contrário do que acontece com a Quwelllhass, os portugueses estão sempre á espera do Estado para ir à casa de banho.
É assim desde que existe isso de saneamento básico, que foi um truque inventado para esmifrar mais taxas aos contribuintes. Tudo agravado pelo facto de não existir um mercado concorrencial entre recetores de trampa.
Anteriormente, cada um fazia os seus próprios despejos, ou seja, resolvia os seus próprios problemas. Um gajo ia na rua e ouvia: “água vai!”. Era mais um cidadão livre a resolver.
Perdeu-se muita liberdade com isso dos canos de esgoto. Mas a Quwelhass não vai nessa do caminho para a servidão. É vê-la de penico em riste a defender as liberdades. Depois vai para o teclado e escreve mais um comentário.
Para acabar de despejar!
Não sei quem és, nem isso me preocupa, … mas que me fazes rir à fartazana, fases. Esta é mais uma das tuas tiradas bem assertivas.
Louvo a tua ironia, e a desconstrução que fazes do discurso destes idiotas, respaldados em nomes falsos, que isto de dar a cara pelo que acreditas é para quem não tem telhados de vidro.
Ainda bem que apareceu uma alma disposta a “mijar do cimo do poste de iluminação, quiçá de uma árvore frondosa, para destes Troll.
Obrigado pelo elogio, mas não sei se é merecido.
É que ficou um ponto importante por abordar: descobrir a razão pela qual o povinho não confia nos oftalmologistas dos Serviços Sociais da PSP.
Pelo contrário, a Qwellhass confia plenamente, pelo que a espinha dorsal não acaba no mesmo sítio da do povinho: prolonga-se pelas nádegas abaixo e por uma data de metros.
O problema é que agora só consegue sair de casa convenientemente auxiliada por dois militantes da Juventude Liberal.
São as fases da lua…quando me “fases” rir. Enfim…é o que temos. A anedota “fas-se” a si mesmo.
Joana Quelhas
Ó Joaninha, a ti os corretores ortográficos nunca te pregaram partidas. Vê lá se no início da frase, o verbo não está escrito de forma correcta?
Por acaso até te fugiu a boca para a verdade. O humor tem fases. E o riso também.
Nem sempre a inspiração está nos seus melhores dias, apesar da tua “alma penada” nos proporcionar boas idiotices.
Imagino que passe a apoiar que se juntem para resolver os seus problemas laborais e demais condições laborais, então. Ou não conta?