A São solidária e a função diacrítica

Este recheio também é óptimo para tartes.
O Livro de Pantagruel

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Os excelentes Tradutores Contra o Acordo Ortográfico encontraram um belíssimo exemplo das consequências da base IV do Acordo Ortográfico de 1990. Ainda por cima, com potencial crase — não ocorrida e ainda bem. É a prova do crime (aliás, uma das provas do crime), ao cuidado dos incréus por conveniência.

Para quem não tiver Facebook, eis o vídeo publicado pelos Tradutores.

Muitos e bons (e.g., Castro, Duarte, Delgado Martins, Emiliano — e, deste rol, estou intencionalmente a excluir autores de ortografias autênticas, como os maravilhosos Gonçalves Vianna e Rebelo Gonçalves) indicaram a função diacrítica das letras c e p. Há uns anos, além de também me caber o papel de a indicar, dediquei algumas páginas a explicá-la, em publicação de referência, com revisão por pares (pdf). Desde então, até no Ciberdúvidas a função diacrítica (da letra c) chegou a ser mencionada. Mas sem consequências.

Fica o registo e ficam também os meus votos de uma óptima semana.

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Brevíssima apreciação da aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990

J’ai seul la clef de cette parade sauvage.
Rimbaud

Es ist nach Disposition der Sätze (von denen der gewöhnliche I. Satz erst an 2. Stelle kommt) schwer möglich von einer Tonart der ganzen Symphonie zu sprechen, und bleibt, um Mißverständnissen vorzubeugen, lieber eine solche besser unbezeichnet.
Mahler

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Ontem, ao serão, um amigo enviou-me uma mensagem, na qual referia as denúncias que aqui amiúde faço acerca do aspecto da montra. Nessa missiva electrónica, o meu amigo mencionava concretamente a 2.ª série do Diário da República como fonte dos meus exemplos. Efectivamente, privilegio a 2.ª série, em detrimento da 1.ª, mas por meras razões de conveniência, devido à natureza dos actos, ao tratamento dos mesmos ou à dimensão dos diplomas. Todavia, com efeito, essa selecção de actos da 2.ª série pode dar aos leitores do Aventar a impressão errada de a 1.ª série ser extremamente virtuosa, digamos, uma espécie de paraíso do A090, no qual os fatos e os contatos não entram, em contraponto com o inferno da 2.ª série, e, lá está, lasciate ogne speranza, voi ch’intrate. Não é verdade. Um excelente exemplo do caos na 1.ª série foi dado através daquele que é, provavelmente, um dos diplomas mais marcantes do ano passado: a Resolução da Assembleia da República n.º 77/2020, de 6 de Outubro, com a apreciação da aplicação do estado de emergência, declarado pelo Decreto do Presidente da República n.º 17-A/2020, de 2 de Abril (pdf).

De facto, nessa apreciação, publicada na 1.ª série, encontramos vários o fato de

Mas não só.

Também encontramos diversos [Read more…]

A Mahler o que é de Mahler

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Eu sou do tempo em que o JN era uma escola de revisão. Conheci alguns profissionais desse jornal com quem fiz amizade, e habituei-me a respeitar a prosa lavada com que se apresentava. Hoje, continuo a lê-lo, diariamente, mais não seja, por esse respeito quase histórico.

Outros tempos vieram, e com eles, os correctores ortográficos, muito mais leves que a sala de revisão, cheia de fumo e silêncio. Mas impessoais e dados a erros, se mal utilizados ou se utilizados de forma distraída…

Duvido, aliás, que qualquer corrector permita, sem o rasurado a vermelho, que se confundam nomes imortais.

O caderno “etc.” de hoje traz uma entrevista com a fadista Aldina Duarte, à luz do seu mais recente trabalho discográfico.

Ficámos a saber que a fadista gosta de muitos géneros musicais e que, entre outros, não dispensa Gustav Mahler.

Fica-lhe bem!

Ao jornalista que a entrevistou é que fica mal a troca de Mahler por “Mhaler”. Não se trata de gralha fortuita no título. No corpo da entrevista, o plumitivo volta a trocar o nome. Não sendo uma gralha, é incompetência.

Gustav-Mahler-KohutComo serviço público, que gostamos de assumir, aqui fica a fotografia do músico e o seu nome correcto: Gustav Mahler, nascido na Boémia em 1860, faleceu num sanatório em Viena, no ano de 1911.

Se fosse vivo, Mahler teria, por certo, agarrado o jornalista do JN e, tal como Lopegui a Jorge Jesus, ter-lhe-ia dito: “Se voltas a trocar-me o nome, apanhas um murro”.

E seria um folhetim!