Anacoreta Correia diz que não há tempo para mudar o projecto, que há um contrato assinado e mais um rol de motivos para recusar alterações de última hora.
E eu não posso concordar mais.
Porém, o diabo está nos detalhes e, neste evento, parece também estar no altar-palco.
E os detalhes dizem que este evento era conhecido há anos (não houve tempo para planear?), que os contratos foram feitos por ajustes directos (com valores partidos, para contornar a lei) e que todo este colossal investimento foi mantido fora da discussão pública (antecipam-se as habituais investigações do MP e respectivas fugas de informação daqui a cinco anos).
Anacoreta diz ainda que o retorno é enorme, umas três vezes o investimento.
Se há assim tanta certeza sobre o retorno, pode-se acabar com toda a polémica sobre os custos.
Entra zero dinheiro público e todos valores deverão vir do próprio evento. Simples, não é? Com tanta segurança de retorno, ainda fazem lucro.
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O problema está nos milhões que se vão gastar, ou no facto de ser um evento católico?
É que não vi polémica semelhante quando se soube que o Governo pagou 100 (CEM) milhões a Paddy Cosgrove para assegurar os direitos da Web Summit para mais dez anos. Isto sem contar com os custos da organização. E o evento não traz, nem de perto nem de longe, o número de pessoas que as JMJ vão trazer.
Acresce que, até agora, não vi nenhuma sindicância ao suposto “retorno” da Web Summit. DEve ser por ser muito “moderna”, e ser tudo muito “prá frentex”. E todos querem estar “prá frentex” não é? Assim, sempre poderemos ir ouvir a Cristina Ferreira e a Sara Sampaio (duas reconhecidas especialistas) a falar sobre as maravilhas das TI.
Para mim é igual.
Obviamente, os dois factores são relevantes, em medidas diferentes consoante a pessoa.
O desperdício com positivismo tóxico dos dois é, contudo, igual.
O problema está nos milhões que se vão gastar, ou no facto de ser um evento católico?
Ou, e… ambos.
Convenhamos, o que não falta em Portugal é dinheiro usado em eventos e obras cujo retorno é no mínimo duvidoso, embora no papel venham sempre milhões. Este é apenas mais um.
E nem é a questão do montante (dir-se-ia o mesmo, caso o palco custasse 10 milhões) ou a possível derrapagem orçamental, é a constante procura deste tipo de eventos como alavanca(?) económica do país. Relembrar que estamos na corrida para um Mundial de futebol… quando ainda estamos aacabar de pagar o Euro.
Os católicos terão argumentos para defender o evento, os não-católicos argumentos terão no sentido oposto. Não vale a pena fingir objectividade ou isenção