Um liberal miguelista

Fotografia retirada do jornal Público

João Miguel Tavares sugeriu, no sítio onde escreve, que “num sistema democrático a polícia deve ter a possibilidade de usar força letal”, referindo-se à invasão, por parte dos apoiantes de Bolsonaro, dos edifícios dos Três Poderes e afirmando que, na sua visão, a polícia, a tal que até foi conivente com o desenrolar dos acontecimentos, deveria ter o direito de atirar a matar sobre os terroristas.

Assim mesmo, olho por olho. Dente por dente. Puxar cabelos e lutar na lama. Igualarmo-nos a quem queremos combater.

Ora, João Miguel Tavares diz-se liberal mas, como liberal que diz ser, parece não ter percebido que, num sistema democrático (e liberal), deve acontecer exactamente o oposto do que diz (isto é, a polícia não poder usar força letal, a não ser em casos em que a própria vida do profissional da polícia ou de terceiros seja colocada em perigo). A Lei e a Constituição, pelo menos a portuguesa, são muito claras a esse respeito. Não conheço os meandros da Constituição brasileira, mas com certeza também será directa e sucinta em tal aspecto. Os terroristas bolsonaristas que destruíram tudo o que se atravessava no seu caminho, durante os tristes acontecimentos do último Domingo, hão-de ser julgados dentro dos trâmites da Lei; sem fuzilamentos ou execuções sumárias. A vida não é o ‘Inglourious Basterds’.

Já João Miguel Tavares, dizendo-se um liberal, começa a amealhar demasiadas opiniões que o colam aos miguelistas ou não fosse ele um Miguel.

Autoridade Tributária, o homem do fraque da Brisa

Ouvi, a espaços, partes do Fórum TSF de hoje. Já tinha ouvido, lido aqui e ali, mas só naquele momento me apercebi da perversidade que é ter a Autoridade Tributária a fazer o papel de homem do fraque de empresas como a Brisa, destruindo vidas por conta de dívidas de cêntimos. À Brisa, não à AT.

A Brisa é um daqueles negócios ditos da China, que começa com o contribuinte a pagar tudo, passa para uma privatização em várias fases, durante as quais sucessivos governantes envolvidos, do PSD, PS e CDS, saltam da decisão para o conselho de administração, e termina com o privado a lucrar pesado, mas sempre com a possibilidade de recorrer novamente ao bolso dos contribuintes.

Ou, dito em português corrente, uma chulice.

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Continente: Missão comer as migalhas do Povo

Ontem foi noite de jogo no Dragão. Junto ao estádio existem barraquinhas que vendem bifanas, cachorros, cerveja, refrigerantes. Gente do povo. Humildes. Muitos deles com as marcas, nas mãos e na face, de uma vida dura. Vão ali para ganhar uns cobres, completar a reforma, alimentar os miúdos. Não ganham fortunas nestas quatro, cinco horas de biscate mas é qualquer coisa. Desta vez, ao lado, várias “roulotes” dessa coisa da moda chamada “street food”. A apresentação é melhor mas o objectivo é o mesmo. Uns cobres. É o povo, a nossa gente, a fazer pela vida neste país pobre. Ao lado, mais carote mas com todas as condições, o Alameda com a sua “praça de alimentação”. Até aqui, tudo normal. Tudo? Não.


No shopping Alameda (Dragão) existe um Continente. Da SONAE. Uma das maiores empresas nacionais. E na entrada do seu supermercado o que podem ver na foto: uma promoção especial por ser dia de bola. Esta malta que ganha rios de dinheiro, que matou as mercearias, que matou as perfumarias, as papelarias, os talhos, as frutarias, que matou muito comércio tradicional onde vários ganhavam uns cobres para agora só eles ganharem milhões, não satisfeita e nesse infinito de ganância que caracteriza o capitalismo selvagem dos dias que correm, toca a concorrer com aquelas almas que na rua, ao frio tentam uns cobres para salvar o mês. Uma “sandes” de pedaços de bocados de restos Continente a €1,99 e as latas já nem olhei. Que vergonha. Enfim, uns filhos da grande meretriz….