Gestão privada da coisa pública

Fotografia: Orlando Almeida/Global Imagens

Paulo Macedo, da Caixa Geral de Depósitos (CGD), antigo ministro da saúde do governo da Troika, está na RTP1 em conversa com Fátima Campos Ferreira.

Numa altura em que indemnizações milionárias a gestores públicos são tema de conversa, seria relevante perguntar ao Presidente Executivo da CGD o porquê de a Caixa ter pago, em 2018, 951 mil euros a um administrador para se ver livre dele.

Gostaríamos todos de saber.

A Caixa Geral de Depósitos pagou perto de 1 milhão de euros para destituir Pedro Leitão, administrador da administração de António Domingues e que Paulo Macedo não quis (…) 

Qual é a pressa?

Versão António Seguro em tons laranja. O primeiro foi de carrinho.

«Montenegro concorda com Marcelo: “não há nenhuma razão” para que o Governo caia agora»

Se calhar tem razão. É melhor esperar que o governo cometa alguma asneira das grandes. Como por exemplo entrar em colapso a partir de dentro, com demissões após demissões.

 

Invasão da Praça dos Três Poderes: estava escrito nas estrelas

Estava escrito nas estrelas: dois anos após a invasão do Capitólio, os brasileiros “do bem” invadiram a Praça dos Três Poderes e as várias instituições ali sediadas. Houve vandalismo, roubo e delinquência para todos os gostos. Parabéns a todos os que, também por cá, se bateram pela falsa equivalência entre Lula e Bolsonaro e pela normalização da extrema-direita. A vossa posição face à democracia é hoje mais clara do que nunca.

Força, Brasil! O extremismo não passará!

Falsas equivalências

No seu discurso de ontem, reagindo à barbárie que os apoiantes de Bolsonaro impuseram em Brasília, Lula da Silva chamou à extrema-direita aquilo que ela é: neo-fascistas de trazer por casa. Logo se levantaram, inconformamos, os empedernidos liberais do extremo-centro, dizendo que as declarações do presidente brasileiro polarizam e acicatam a reacção.

Esta posição é, apenas, e na verdade, mais uma das infindáveis tentativas de colar a extrema-direita à esquerda, quando sabem perfeitamente que o que está em causa não é uma questão de extremos, mas sim de fascistas versus democratas. Esta estratégia de fazer equivaler a esquerda, fundamentalmente social-democrata, à extrema-direita racista, xenófoba, homofóbica e corrupta é antiga, foi recauchutada e colhe hoje os seus frutos. Mas não há equivalência possível entre quem defende os pressupostos constitucionais que regem uma democracia e aqueles que, inscientes, a querem destruir, começando por corroê-la a partir de dentro, para depois extravasarem e passarem à violência declarada contra as Instituições democráticas. Em Portugal sucede o mesmo, sobretudo depois da entrada declarada da extrema-direita na Assembleia da República: a tentativa de colar o Chega, representante dessa direita retorcida e podre de bolor, aos partidos representantes da esquerda tradicional, como o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista, partidos que, quer se queira quer não, quer se goste ou não, nunca tiveram um projecto político de destruição da ordem constitucional e democrática. A estratégia, diga-se, é igual aqui, no Brasil, na Espanha, na França ou na Itália.

Ao Brasil, aos democratas brasileiros, da direita moderada à esquerda, que não se revêem em tais actos e respeitam a democracia, vai daqui toda a minha solidariedade e a vontade de que esses insurrectos fascistas sejam postos no seu devido lugar: na cadeia.

Viva o Brasil. Vivam os brasileiros.

Fotografia retirada de: Revista Veja

Criança de seis anos dispara contra professora. Onde? No sítio do costume

Os tiroteios, no “farol da liberdade”, são mais que normais: são parte intrínseca da sociedade norte-americana, onde o lobby das armas é, de longe, o mais poderoso. Aquele que compra políticos de todas as cores e que determina quais guerras que vão de encontro aos interesses de “segurança nacional” dos EUA.

Mas que uma criança de seis anos tenha acesso facilitado a uma arma, e que a use para disparar contra a sua professora, é descer ao patamar de barbárie do Terceiro Mundo. Mas há quem por cá defenda iguais políticas. E, curiosamente, são os mesmos que defendem e arranjam desculpas para o que se passou ontem no Brasil. Os mesmos que se autoproclamam “pró-vida”, sem se rir.

Importar a lição e nunca repetir

Em Portugal, a direita representada por Iniciativa Liberal, CDS-PP e Chega, torceu para que Bolsonaro vencesse. Do filho de Paulo Blanco, passando pelo Ventura original e acabando no Ventura do Chega, os reaccionários sempre desejaram que isto acontecesse.

Tanto em 2018, quando Jair Bolsonaro venceu as eleições a Fernando Haddad, como agora em 2022, alguns representantes da direita portuguesa, dos liberais aos democratas-cristãos, tinham muita dificuldade em “escolher um lado”, para não assumirem, claramente, que votariam em Bolsonaro; já a extrema-direita, representada por André Ventura, nunca escondeu: Bolsonaro ou a guerra civil.

O resultado está à vista e sabemos a intenção futura: importar este tipo de caos para Portugal. É preciso chamar os bois pelos nomes: são neo-fascistas, mais ou menos assumidos. E não passarão, se nos impusermos já.

Imagem de: Tomás Nery

Direito à greve, sim, mas, dizem eles

Governos, instituições e pessoas reconhecem o direito à greve, mas, quando há uma greve, os governos, as instituições e algumas pessoas tendem a criticar a prática da greve ou porque estão a decorrer negociações ou porque irão decorrer negociações ou porque as afirmações ainda são meras propostas ou porque a greve – esta é a minha favorita – está a incomodar as pessoas.

Fica-se com a impressão de que a greve deveria ser apenas um adorno legislativo que servisse para provar a existência de democracia, deixando-se ficar quietinha e bonitinha na letra da lei, sem se sujar na rua.

Está a decorrer uma greve de professores, para fingido espanto e aparente revolta de um ministro alegadamente ofendido com as mentiras que os grevistas dizem, estratégia habitual deste e de muitos ministros que o antecederam

O discurso que reconhece o direito à greve, mas já está em vigor, como se pode notar num texto da Federação das Associações de Pais do Concelho de Gaia. Realço esta pérola: «Entendemos que os professores têm direito à greve como um direito inabalável consagrado na Constituição Portuguesa. O que nos parece mais difícil de aceitar é o modelo de greve que tem como objectivo causar grandes alterações à vida dos alunos e pais com um custo muito baixo para quem a faz.» Como diria Vasco Santana, “Desculpa que te diga, mas és um ilusionista!”