O Sérgio

Fotografia retirada do site https://observador.pt

O Sérgio veio de um lar humilde e pobre. O Sérgio aprendeu, desde cedo, que quem nasce no berço de vime tem de trabalhar a partir do berço. O Sérgio foi feirante, depois jogador de futebol.

O Sérgio começou na Académica de Coimbra, de onde é natural. Aos dezasseis anos, o Sérgio foi para o Porto para jogar no FC Porto. No dia seguinte, morreu-lhe o pai. Poucos meses depois, morreu-lhe a mãe. Ainda nem tinha completado a maioridade e o Sérgio já se via sozinho no mundo. Singrou no FC Porto, depois de um empréstimo bem sucedido a um Felgueiras treinado por Jorge Jesus.

Depois, foi para Itália. Naquela altura, o Sérgio era um dos melhores jogadores da Serie A, o melhor campeonato do mundo nos anos 80 e 90. Voltou ao FC Porto já na fase descendente da carreira, passou pelo Standard Liège na Bélgica e acabou na Grécia, no PAOK. Na memória ficarão, para sempre, os três golos marcados à Alemanha no Europeu de 2000. E a sua postura aguerrida e intempestiva.

O Sérgio fez-se, depois, treinador. Começou no Algarve, em Olhão, e foi escalando muros. Voltou à terra-mãe para treinar a Académica, esteve no SC Braga e no Vitória SC e emigrou para França onde fez uma excelente temporada no modesto Nantes. E é então que surge, novamente, o FC Porto. Em 2017 volta à cidade Invicta e ao clube do coração, o que nunca escondeu.

E, quem segue mais vezes o coração do que a razão, não sabendo encontrar o balanço, acaba vítima da sua própria paixão. É o caso do Sérgio.

O Sérgio é um excelente treinador. É, aliás, o melhor treinador português da actualidade. É o único treinador que, no FC Porto do Papa Pinto, conseguiu manter-se mais do que três anos no cargo. E, ao contrário do que transparece dentro das quatro linhas e da opinião generalizada dos rivais, o Sérgio não é um arruaceiro ou mau Ser Humano. Pelo contrário, o Sérgio tem mostrado, fora dos estádios, ser uma pessoa com bom coração, acudindo a diversas causas sem pedir nada em troca.

Acredito que a história de vida do Sergio o molde, o faça ter este temperamento repentino e agri-doce, vilão no estádio, herói na vida. Como o próprio já disse, noutros idos, noutras entrevistas, a morte prematura dos pais é-lhe “um lado sombrio” que o molda e não o deixa avançar.

Mas, apesar da empatia que sinto, porque sei que as pessoas não são só uma parte do que transmitem, é indesculpável que, depois de tantas atitudes acaloradas e desproporcionadas, depois de tantas palmadas nas costas e batidas no peito, e aos 48 anos, o Sérgio ainda não tenha sabido dosear a sua intensidade e percebido que algumas das suas atitudes são prejudiciais ao clube e ao desporto que tanto ama. O Sérgio já está na História do FC Porto e do futebol português. E está na História pelas boas e pelas más razões: por um lado, pelos dez títulos conquistados em sete anos como treinador do FC Porto, por outro, pelas dezenas de expulsões que protagonizou, com atitudes a roçar o juvenil.

A recusa em abandonar o banco de suplentes depois de receber ordem de expulsão, na última Quarta-feira em Aveiro, é o mais recente (e talvez o mais grave) capítulo desta estória de duas faces do Sérgio. E não é por se bater com força no peito ou trazendo situações semelhantes com treinadores de equipas rivais que se apaga a vergonha alheia que todos nós, portistas, devemos sentir com a atitude tida. Sim, eu sei que o Sérgio não o fez de forma totalmente inconsciente. Sei-o porque, depois do jogo, mais se fala do incidente do que do jogo e da vitória do Benfica em si. E foi essa a estratégia do Sérgio, tirar o foco da derrota e centrá-las nele mesmo, para que a equipa possa trabalhar de forma mais resguardada durante a semana. Ainda assim, indesculpável, porque prejudica indirectamente a equipa (vai ficar de fora, provavelmente, vários jogos) e porque acaba a dar mais tiros à concorrência para que a imagem do clube saia manchada.

Eu gosto muito do Sérgio. Reconheço-lhe as capacidades enquanto treinador e sei que é o único, neste momento, na estrutura do FC Porto que está realmente interessado em ajudar o FC Porto. Apesar do futebol jogado não ser o melhor, apesar de ter desperdiçado algumas pérolas ao longo destes anos, em termos de reforços, também é verdade que no geral fez sempre muito com muito pouco e que isso se traduziu em títulos.

Mas eu não sou Sérgio Conceição. Sou FC Porto. E eu quero ver o FC Porto ganhar. Sempre. E na última Quarta-feira não ganhou, sendo isso que me interessa. E interessa, também, perceber por que razão não ganhou. O Sérgio ficará no FC Porto enquanto quiserem e enquanto quiser. Mas o FC Porto continuará a ser FC Porto, com ou sem o Sérgio. Como tal, seria benéfico para o clube que o Sérgio soubesse dosear a paixão e comportar-se, por vezes, mais como treinador do que como adepto. Para figura de adepto estaremos cá nós, uns a ser Sérgio, outros a ser FC Porto. Como o Sérgio.

Comments

  1. JgMenos says:

    A má notícia é exactamente essa: personificar o adepto de FCP como um brutinho todo paixão e maus modos.
    Será o FCP do Pinto & C.º, mas não o Porto que deveria representar.

    • POIS! says:

      Pois é, ou seja, segundo Menos…

      Será o Futebol Clube do Pinto, com sede no Porto.

      E foi para disfarçar e compensar a tão minúscula aviária criatura que resolveram arranjar para insígnia o Dragão.

      Até agora, tem corrido bem. Mas se o símbolo um dia se revolta ainda vamos ter Pinto de Churrasco para a ceia…

      • Salgeiros says:

        O nome de Dragão foi para escolherem o nome mítico que o merecia: Jose Maria pedroto, o Ze do Bone
        Assim quando o gangster falecer, haverá muitos a trocar o nome do Estadio do Dragão por Estádio Pinto da Costa, sem muita oposição.

        O criminoso nunca dá ponto sem nó.

    • Paulo Marques says:

      O poder luminário nunca precisou do Sérgio para isso, não era agora. Quando muito, troca entre bruto e burro, para dar menos nas vistas.

      • Douriense says:

        Tens razão, porque a máfia que controla esse clube
        e não é apenas o bimbo, já existia há mais de 30 anos e os seus crimes igualmente. Mas agora são cada vez mais evidentes e o isolamento também, mesmo nas pessoas bda cidade.

        • Paulo Marques says:

          As aldrabices da catedral já não chegarem mas continuarem a achar que continua a ser por aí é um problema grave que não vos vai preencher o buraco deixado pela falta de luta de classes, lamento.

    • Salgueiros says:

      Carissimo JgMenos

      ” personificar o adepto de FCP como um brutinho todo paixão e maus modos.”

      está a ver como ate um Salazarento retrógado chegou lá

      Eu que odeio o Pinto da Costa e sua máfia, agradeço ao rapaz de Taveiro – Coimbra, as ajudas que nos dá para desmontar essa quadrilha de malfeitores que anda á 30 anos a destruir o futebol e a minha cidade do Porto

      Levem o pintinho a tribunal porque ele é que é o responsavel das alarvidades do rapazola Conceição


  2. Quando foi para Itália, o Scudetto já não era indiscutivelmente o melhor campeonato do mundo, já perdera esse estatuto, foi na altura da ascensão do futebol espanhol e do futebol inglês. O fim do século marca essa mudança, aliás visível em diversas áreas do futebol.

  3. Anonimo says:

    O SC pode ter o seu feitio, como tem o Sá Pinto, mas *também * é um produto do ambiente. Na Europa estas fantochadas não acontecem. Houvesse no futebol justiça célere e dura, e para todos, aprendiam a portar-se bem.

    • Paulo Marques says:

      lol

      • Anonimo says:

        Sim, na Europa faz destas. Pedia um árbitro com insígnias uefa para lhe explicar o porquê de o expulsar. Depois os apanha bolas atiravam umas cadeiras lá para dentro.

        • Paulo Marques says:

          Ele e muitos outros.

        • Paulo Marques says:

          Nem digo agora, porque, honestamente, tenho mais com que me preocupar, mas isso da Europa tem muito que se lhe diga. Ele há génios da táctica que nada ganham, brilharetes que passam a pífios quando têm que correr, jogadores correctos que amansam logo depois de serem expulsos no primeiro jogo, anti-jogo magicamente a desaparecer, descobertas de faltas atacantes que não os salvam…
          Fenómenos que não passam na TV, vá-se lá saber porquê. Mas também, na verdade, nem a Europa é o que era; o dinheiro é tanto que até em péssimos anos há equipas ajudadas cirurgicamente, nem que seja para magras vitórias passarem a certezas inquestionáveis. Nunca deixa de ser de rir o SCP nunca estar à espera.

  4. Carla Afonso says:

    “A recusa em abandonar o banco de suplentes depois de receber ordem de expulsão, na última Quarta-feira em Aveiro, é o mais recente (e talvez o mais grave) capítulo desta estória de duas faces do Sérgio.”

    by João L. Maio, não foi o mais grave. O mais grave foi em 2006 na Bélgica, onde fez o 3 em 1 após a expulsão:
    1- Cuspiu num adversário
    2- Atirou com violência a braçadeira de capitão para o relvado
    3- Despiu a camisola, fez dela um embrulho e lançou a mesma á cara do sr. árbitro
    https://www.record.pt/internacional/detalhe/sergio-conceicao-arrisca-duro-castigo

    Esteve a seu favor (na época) um conhecido vermelhusco “espírito santo de orelhas”, que o salvou de ser irradiado do futebol belga


  5. Deve ter sido o único ser humano que teve uma vida trágica. Está tudo explicado.

    • Anonimo says:

      Há um certo fascínio pelo pessoal que não se fica, e resolve os problemas como preconizava o MST. O SC insulta, ameaça, “alegadamente ” já puxou uns colarinhos ou pescoços. Mas como foi a um dos colarinhos brancos, e ele é do povo, fez muito bem (até porque fora roubado, aí sim literalmente).
      Na altura em que estiverem do lado errado do punho, aí a violência volta a ser a arma dos fracos.

  6. Zabka says:

    Coitadinho do minorca zangado e do seu duende careca que são um exemplo de superação de tragédias inauditas na história da humanidade.
    É preciso ter uma grande lata e falta de noção para defender este ser abjecto, mal-criado, bronco que não respeita ninguém. Muita gente tem problemas e tragédias na sua vida, não são milionários como este brugesso e não fazem as figurinhas tristes para disfarçar a incompetência. É um calimero mal-educado que é constantemente beneficiado, mas chora porque as regras são só para os outros.
    Isto define o clubezeco de bairro e o complexo de pila pequena que têm por lá. Atirem-se ao rio Douro que o país agradece.

  7. Rui Figueiredo says:

    “o Sérgio, o Sérgio…” !!! não é mais do que uma criatura da merda da bola (Mário de Carvalho dixit)

  8. Paulo Marques says:

    Não sei o que leva um homem com tantas oportunidades a ficar onde é odiado por ser quem é independentemente do que fizer. Outros puseram-se a andar com bem menos.
    Não tem nada a ver com ser bom modelo ou o clube limpinho, limpinho, mas não deixa de ser um desporto nacional, e bem lucrativo, dirigir todos os problemas a meia dúzia. E podia ser tudo o que acham, continua a não estar perto do topo da culpa dos problemas que temos.

    • Nortenho says:

      Mas o que é que isso tem a ver com o SC e toda a estrutura desse clube, sempre que perde manifestações de mau perdedor.
      Se fosse o meu clube eu tentava perceber porquê e quais as razões e ainda eventualmente fazer as correções necessárias.
      Com estas atitudes têm cada vez menos crédito em todos mesmo as pessoas do clube que gostam de pensar pela própria cabecinha.

      • Paulo Marques says:

        Mas quem é que fala em Conceição? Fala tudo no Pinto da Costa, e às vezes no gangue do Madureira, bastante mais calminho com a idade. Tem manifestações pelo que se diz acima, também é adepto, além do facto óbvio futebol português não ter noção do ridículo que é ter um estado dentro de um estado, onde até ganhando por jogar menos mal é incapaz de deixar a mesquinhez disciplinar de lado.
        O legado de PdC também é que os portistas não gostem de nenhum treinador, não vá roubar o brilho do rei sol, com a excepção do Mourinho que não esperou por um mau resultado que acontece a todos. A decisão inteligente era o Sérgio ter-se posto a andar à muito, como qualquer outro.

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