Em linguagem deliciosamente pedestre, há quem se queixe de estar a ser fornicado e a ver. O utente desta expressão mostra-se objecto passivo da fornicação e usa o acto como metáfora de prejuízo. Ao mesmo tempo, a dita expressão mostra que a vítima, ainda que ciente do que lhe está a acontecer, não tem poder para impedir que o acto prossiga. Está a ver.
Por estes dias, e comprovando, mais uma vez, a minha vasta ignorância, descobri a existência da expressão “salário emocional”.
Note-se que não me parece descabida a ligação entre salário e emoções. Efectivamente, o salário pode ser causa de várias emoções, desde a alegria festiva até à depressão chorosa. Também neste caso, talvez possamos dizer que não há salário como o primeiro ou que o mesmo salário é eterno enquanto dura. Não me espantaria que o próximo livro de António Damásio tivesse o título O Erro de Marx. Emoção, Salário e Cérebro Humano.
Descobri, então, a expressão “salário emocional” numa crónica de Hugo Protázio. Carmo Afonso já teve, entretanto, o cuidado de chamar a atenção para o facto de o autor da dita crónica usar sempre a palavra “colaborador”, mostrando a moderna alergia ao termo “trabalhador”, designação que se pode relacionar com sindicatos e direitos.
As definições do dito salário emocional são bonitas, apresentam-se bem, parece que têm uma face amena. O tal salário, contudo, é apenas uma variação da frase “O dinheiro não é tudo”, descende directamente da velha recomendação para que os pobres se conformem com a recompensa que virá no Além.
Entretanto, convém lembrar que trabalhadores, colaboradores e necessitados raramente usam estas expressões luminosas, porque estão estupidamente preocupados com o pagamento de contas ou com o preço da comida. É gente que se comove por dinheiro, incapaz de reconhecer o privilégio da pobreza, da casa tão modesta como ela. E estão a ver.
A emoção marxista:
– Os patrões só pesam nos lucros
– Os assalariados só pensam no salário
Os humanos de seres a teres.
Pois é!
Os patrões só pesam nos lucros.
Mas temos de compreender. Deve ser muito doloroso pesar nos prejuízos.
Quando um patrão pesa os prejuízos e se põe a pensar nos coitadinhos dos credores…é de partir a alma, senhores!
Pois, no liberalismo os patrões pensam nos lucros e os colaboradores em como melhor lamber botas.
Desculpe lá, ò Nabais, mas não está a compreender o alcance do conceito de salário emocional e a sua importância. Isto porque só está a ver um dos lados do problema.
Com efeito, numa revolução que vai ser liderada por forte liderança de arrojados liberalescos, comandados pela sólida rochosa liderança da Impetuosa Liberalesca, o salário emocional irá ser objeto de aceitação geral, pelo que os colaboradores irão sentir as suas evidentes (1) vantagens.
Assim, todos os colaboradores que receberem o salário emocional poderão, por exemplo, pagar o esparguete no supermercado em beijinhos, a gasolina em miminhos, a eletricidade em abraços, um par de sapatos em festinhas ou a renda de casa em Lisboa em chupões. E, se exteriorizarem convenientemente a sua intensa alegria, os colaboradores terão ainda descontos em cartão.
A cadeia “Gota Açucarada” é a primeira aderir, estando já a pensar em instalar máquinas de beijar para evitar a contratação de novos colaboradores, a fim de poder manter a sua competitividade de mercado.
É assim, Nabais! Se, de repente, encontrar dois desconhecidos a beijarem-se sofregamente, é porque são dois cidadãos livres a exercer a sua ampla liberdade contratual!
(1) Até os mais cépticos esquerdeiros irão ser convertidos, por interceção de São Hayek, via Bispo Calhau!
O Protozoário é mais um Imbecil Neoliberal.
O que ele queria era um “colaborador” a meter-lhe emoção pelas nalgas acima.
O salário não é tudo, nunca foi.
Há empresas intransigentes no que respeita a folgas ou faltas por doença, outras mais flexíveis; e sim, a cultura (que em PT é um chavão, mas que é real) da empresa é importante. Havendo possibilidade, muda-se para outro lado onde não sejamos, empregados, tratados como números (gado não, que o gado é bem tratado).
Claro que tudo isto é bonito, caindo dinheiro suficiente na conta. E havendo opções.
A FP é um bom exemplo de má cultura, qualquer trabalhador desmotiva mais cedo ou mais tarde, perante a inoperância de dirigentes e da organização em geral. Mesmo quem tem vontade, perde-a.
Não diga mal do homem, que pode causar-lhe problemas chatos…
É que o Protázio ganha em amor. E à percentagem.
Conhecia uma artista que se lamentava por os funcionários a quem pagava ordenado mínimo por 14 horas de trabalho, literalmente de Sol a Sol, não pensarem nas dores de cabeça que ela tinha como patroa Por mim eu preferia ter as dores de cabeça que ela tinha, com novo carro topo de gama de dois em dois anos, uma casa de dois piosos com ar condicionado, viagens onde queria e lhe apetecia que as dores de cabeça que as empregadas tinham para o salário lhes chegar até ao fi do mês. mas enfim, há dores e dores e isso não tem nada a ver com marxismo, ao contrário do que pensam certos iluminados. Tem a ver com a exploração, que nasceu com a raça humana e muito antes de haver marxismo. E houve sempre quem não achasse graça á exploração e se revoltase pois que não consta que Spartacus fosse inspirado em marx.Nem os desgraçados servos medievais que eram depois chacinados pelos senhores nem todos os “colaboradores” à força que se revoltaram contra a exploração ao longo de séculos. E, claro, em todas as épocas a malta precisa de um salário que lhe permita suprir as suas necessidades mas isso é difícil de perceber por certos espíritos iluminados. Não se trata de esquerda, nem de direita, nem de marxismo, mas sim de decência e humanidade. Uma coisa que anda a faltar em quem nos chama “colaboradores”.e diz asneiras como “o salário não é tudo”. Pois, tentem lá trazer do supermercado um quilo de arroz dizendo que não têm dinheiro e estão muito contentes porque o salário não é tudo, a ver o que vos acontece.
«a exploração, que nasceu com a raça humana»
Ó Baleia, vais ser massacrado pelos iluminados cá do sítio!
Então a ‘bondade natural do homem’ que a propriedade perverteu?
Atreves-te a negar o princípio maior da esquerdalhada, que permite que os ‘colaboradores’ ao serviço do trabalhadores encham a pança sem terem dores de cabeça com os lucros?
Claro que nasceu com o homem, só este é capaz de inventar uma super-estrutura que o impeça de levar cacetada só por se lembrar de tal coisa.
Nada como cutucar a Besta para lhe ver os cascos.
Trabalhadores?
Indigentes frustrados a terem que vender tempo para poderem ir às compras!
Tadinhos não-liberais …
Pois mas…
Quem é que estará interessado em ver os cascos de Vosselência?
Não estamos a ver. Parece que Vosselência vai ter de cutucar-se a si mesmo. Bem vistas as coisas, Vosselência já deve estar habituado. De outro modo, o que é que está aí a fazer essa mesa com camilha na sala de jantar?
Olha, foste tu que andaste no Twitter a dizer que os trabalhadores são quem gere?