Como aumentar ao comprimento e adequar a potência aos 50 anos

Chegar à meia-idade não é, forçosamente, sinónimo de perda de capacidades. Ou mesmo de possibilidades. Isto mesmo aprendi, recentemente: é possível aumentar ao comprimento e adequar a potência aos 50 anos.

Na verdade, há 20 anos atrás, por sugestão de familiares e amigos, resolvi obter a Carta de Marinheiro. Tendo ficado, então, habilitado a pilotar embarcação de recreio até 7 metros com potência não superior a 45kw.

Ora, a chegar aos cinquenta anos, idade documentalmente crítica que me obrigou a renovar a Carta de Condução, recordei, então, que a validade da Carta de Marinheiro, religiosamente guardada numa gaveta, fora de perigo de salpicos de água salgada ou doce, estaria à bica.

E assim era, segundo rezava no título que dava conta da validade estar para expirar.

Foi então que, após pesquisa, fiquei a saber que, por preciosa alteração legislativa, não só tinha de renovar a Carta de Marinheiro apenas aos 70 anos, como – e aqui os 50 ficaram com outro sabor -, foi-me aumentado o comprimento da embarcação de recreio, que passou para os “até 12 metros”, bem como a potência que passou a ser a “adequada à sua certificação”.

É sabido que com a idade, vem o aumento da sabedoria, do conhecimento, da experiência, a adequação do comportamento, etc.

Agora aumento do comprimento e adequação da potência por força de lei, é obra.

Sente-se Aqui no meu Colo, Mamã

velhinhaSENTE-SE AQUI NO MEU COLO, MAMÃ

“sente-se aqui no meu colo, mamã, hoje faço anos”

Suavemente assim o fez. Quase não a senti. A minha mamã está tão levezinha, tão sem ser, tão quase nada. Encosto a minha mão, espalmada, na sua cara, sobre a face e a orelha esquerda

“que bom! – disse”

Que bom, pensei enquanto a cabeça da minha mamã se inclinava para o lado da minha mão e ma prendia de encontro ao seu ombro. Já há muito tempo que me não fazia isso

“que bom” – disse eu”

E beijei-a na testa, e encostei a minha testa à dela, e fiz movimentos de carinho com os dedos da minha mão direita. A minha mamã fez mais força com a cabeça, prendendo ainda mais a minha mão de encontro a ela, e sorriu.

Há muito tempo que a não via sorrir, ou falar, ou sequer reagir a um qualquer estímulo que eu lhe desse. A doença tinha-a comido e da minha mamã pouco restava. Qualquer dia nada sobraria mesmo, só a lembrança e a saudade.

“sente-se aqui no meu colo, mamã”

E a minha mamã sentou-se, quase sem que eu a sentisse de tão levezinha que estava. E ali ficamos os dois, um bom bocado, a apreciar o calor que transmitíamos um ao outro.

E eu sorrindo

“até amanhã, mamã”

e ela também com um leve sorriso nos lábios

“até amanhã, meu filho”

(Como Se Fora Um Conto)