Corrupção, o pasto dos “boys”

Não há ninguém, da esquerda à direita, que negue a necessidade de pagar o que se deve, falemos de países ou de pessoas. Existem, no entanto, algumas diferenças: há quem defenda que é necessário saber exactamente quanto se deve, que é importante saber que parte da dívida resulta de corrupção ou de incompetência e que é fundamental negociar, acto diferente de simplesmente aquiescer e que não se confunde com a recusa de pagar dívidas.

No Público de hoje, é possível ler uma reportagem de São José Almeida sobre a inexistência de “uma estratégia de prevenção e combate da corrupção em Portugal”. Trocando por miúdos, para quem tiver ou quiser ter dificuldades de leitura, isto quer dizer que não houve combate à corrupção e que tudo indica que continuará a não haver. A propósito, recomenda-se, entretanto, a visita a um blogue criado recentemente.

Convém não esquecer que a corrupção não é levada a cabo apenas por malfeitores façanhudos escondidos em caves suspeitas e fumarentas. Se assim fosse, seria fácil detectá-los. A corrupção está, também (e, provavelmente, sobretudo), no uso indevido que sucessivos governantes têm feito dos dinheiros públicos, mesmo que aos bois se lhes chame outros nomes. A vantagem de gastar mal o dinheiro dos outros é a de deixar a dívida exactamente para quem não o gastou.

É por essas e por muitas outras razões que concordo, em absoluto, com o conteúdo do “Apelo a Iniciativa Unitária por uma Auditoria à Dívida Portuguesa”. É claro que algumas pessoas mais sensíveis poderão ler a lista de subscritores e descobrir que aquilo está cheio de sindicalistas, comunistas, bloquistas e outros perigosos bombistas. No entanto, ó almas sensíveis, olhem, por um instante, para o conteúdo e esqueçam os mensageiros: não fará sentido saber se faz sentido todo este empobrecimento? Imaginem que se descobre que, afinal, não faz sentido.