Lagarde e a fascinante liberdade dos mercados

Christine Lagarde é uma tecnocrata nascida na política. Foi ministra de Villepin e Fillon, durante as presidências de Chirac e Sarkozy, e daí subiu à primeira, contratada para jogar a CEO no miolo do FMI. Seguiu-se o BCE, onde se encontra hoje a mandar nas finanças dos europeus, sem que 99,9999% dos europeus tivesse uma palavra a dizer sobre isso.

Esta semana esteve em Sintra, poderosa, para nos dizer que os juros são para continuar a subir. Para culpar os trabalhadores e os seus parcos aumentos salariais pelo aumento da inflação. Para avisar os governos que os apoios extraordinários relacionados com a covid e a guerra são para reduzir até desaparecer. Para nos dizer a todos, sem excepção, que temos que empobrecer. E tê-lo feito em Portugal tem um simbolismo que dispensa explicações. [Read more…]

Prosperidade socialista II

A austeridade que por acaso nem foi contratada pelo Sócrates no Memorando de Entendimento que negociou em 2011, acabou quando caiu o governo “antipatriótico” de Passos Coelho. Desde esse momento, pagamos menos impostos, o País deve muito menos, a prosperidade não está só no discurso e nas cabeças dos governantes,etc.

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Sobre a pseudo-negociação do Ministério da Justiça com os oficiais de justiça

A Ministra da Justiça esteve na passada sexta-feira em negociação com os sindicatos dos oficiais de justiça por causa da reposição das carreiras, após a aprovação da dos professores.

A proposta apresentada foi, no entanto, absolutamente vergonhosa. Faz o paralelismo com as carreiras dos professores, que sobem de 4 em 4 anos, mas como para os oficiais de justiça o ciclo é de 3 em 3 anos, “ofereceram” menos tempo e, com especificidades tais, que poucos tirarão algum benefício.

Pior, como se pode ver pelo documento apresentado, na folha 2, os génios do ministério tiveram tanto cuidado preparação da proposta que, em vez de se referirem aos oficiais de justiça , referem-se aos professores.

Mais, os oficiais de justiça estiveram mais tempo congelados que as outras carreiras, pois a DGAJ, entendeu que determinado descongelamento não se lhes aplicava, havendo inclusivamente uma acção a correr termos no Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa sobre isso.

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Não, a austeridade não acabou!

[Santana Castilho*]

Os argumentos de Costa e Centeno dizem uma coisa, mas os factos dizem outra: a austeridade não só não acabou, como se agravou para os funcionários públicos, devido à manutenção dos salários nominais em 2018 e 2019. Os professores e todos os funcionários do Estado estão sujeitos a uma austeridade salarial clara e todos os portugueses sofrem uma impiedosa austeridade fiscal, via impostos indirectos.

Qualquer trabalhador do sector público pode fazer o seguinte cálculo: considere o valor da remuneração auferida em Dezembro de 2017; considere o valor da remuneração resultante do descongelamento das carreiras e do aumento faseado, tal como previsto, durante os anos de 2018 e 2019; ao valor do aumento registado no fim de 2019 subtraia o valor da inflacção no período em análise; verificará que o que melhorou não chega para anular a erosão do poder de compra do seu salário nominal. Recorde-se que a erosão aludida começou com o agravamento do IRS em 2013, prosseguiu com a sobretaxa e a revisão dos escalões e acentuou-se com a subida dos descontos da ADSE (de 1,5 para 3,5%) e da CGA (de 10 para 11%), subidas estas que não foram revertidas. [Read more…]

Olhemos para os resultados

Desde que a crise financeira nos bateu com toda a sua força, a partir de 2010, a maioria dos cidadãos viu os seus rendimentos diminuírem, tanto cá, como na generalidade dos países. Foram cortados salários, pensões e reformas, os impostos aumentaram em catadupa e os serviços públicos viram a sua operacionalidade reduzia. Assim o exigiu a política seguida, chamada de austeridade, através da qual se pagou a dívida privada do sistema financeiro em ruínas e os juros galopantes da dívida pública.

A austeridade funciona? Certamente que sim, dependendo dos objectivos, pelo que olhemos para os resultados. [Read more…]

Presidência Portuguesa do Eurogrupo

A candidatura de Mário Centeno à Presidência do Eurogrupo tem suscitado diversas interrogações, manifestações de apoio e algumas de repúdio. Apartando-me dos apoios e repúdios de famílias partidárias por pouco interessantes, detenho-me sobre algumas interrogações que me parecem estranhas.
Desde logo, a de saber se Centeno terá ou não tempo para assumir essa presidência e continuar a assegurar as suas funções como Ministro das Finanças de Portugal. Não sei como não haveria de ter tempo para desempenhar, em simultâneo, as funções que outros assumiram antes, para mais com a equipa de qualidade que Centeno diz ter constituído no seu Ministério.
eurogrupo
Outros questionam-se se Mário Centeno estará habilitado com a experiência necessária para o cargo a que se candidata. Parece-me uma questão que não faz sentido, uma vez que se trata de alguém academicamente habilitado e com a experiência que estes dois anos de governação e negociação com o Eurogrupo e Bruxelas lhe granjearam, sempre com sucesso.
As interrogações [Read more…]

Austeridade da boa

Na sessão de votação do OE18 na especialidade, que aconteceu na passada semana, as infames esquerdas unidas aprovaram um aumento da derrama estadual do IRC para as empresas com lucro superior a 35 milhões de euros, que passa dos actuais 7% para 9%. Austeridade da boa. Tímida, mas boa.

Não demorará muito até que os suspeitos do costume tentem transformar esta medida num ataque à classe média, ou noutra treta qualquer, tal como fizeram, por exemplo, com o imposto sobre o património, presente no OE17. Mais do que as motivações ideológicas, irrefutáveis, é também para isso que lhes pagam ou que virão a pagar um dia, quando for altura de dar aquele salto público-privado que todos conhecemos bem. Mas não se preocupem, que à partida não haverá o que temer. O que é que classe media-multimilionária pode fazer? Mudar as sedes sociais das suas empresas para a Holanda? Fugir aos impostos através do Panamá e das Caimão?

Uma pena que, mesmo com BE e PCP a influenciar o rumo das coisas, não seja possível ir mais além. Fazia falta carregar um pouco mais em quem pode mais, em quem mais beneficia de apoios estatais e em quem frequentemente contorna as suas obrigações fiscais, prejudicando o todo por simples ganância. Só para não serem sempre os mesmos a financiar a gatunagem.

 

Clientelas e imbecis

Fotografia: Pedro Granadeiro/Lusa

Segundo António Leitão Amaro, o deputado do PSD que há uns dias afirmou na SIC-N que o governo Passos/Portas havia proibido a legionella, o governo “É governado pelas pressões de interesses particulares“.

Fico logo a pensar com os meus botões: quem é que andará a mamar na teta dos nossos impostos, com o alto patrocínio do Costa? Até que me cai a ficha e percebo que o deputado laranja se refere a megalomanias como a reposição de salários, o descongelamento de carreiras ou a redução de impostos para as classes mais desfavorecidas, esses ninhos de carros de alta cilindrada, evasão fiscal e férias nas Caimão. [Read more…]

Quem diria?

Salvar os bancos da Alemanha não ajudou muito a Grécia.

Sobre o comunicado da Administradora Não Executiva da Arrow Global

“A autossatisfação com alguns resultados alcançados, ignorando o que os permitiu e desprezando o que devia ser feito para os manter, é a receita infalível para voltarmos, mais dia menos dia, aos problemas do passado.” Maria Luís Albuquerque 

Em 2016 o crescimento era fraco porque a Geringonça só fazia reversões. Agora, o crescimento deve-se ao que veio de trás, apesar de ter sido revertido. A tese do PSD resume-se a isto.

Este crescimento deve-se à conjuntura externa e aconteceria independentemente do governo que estivesse em funções. Maria Luís Albuquerque é apenas mais uma demagoga que não preza a honestidade intelectual. 

Com uma pequena diferença. Estivessem o PSD e o CDS agora no governo e ninguém calaria as suas teses de que a austeridade estava a funcionar. Por isso é que Maria Luís tenta demonstrar, sem o conseguir, que a austeridade se manteve igual. 

E, no entanto, aí está o crescimento,  sem o constante matraquear miserabilista do viver acima das possibilidades para continuar a fazer a única coisa que PSD e CDS fizeram: baixar salários,  pensões e reformas.

É um crescimento efémero? Pois é. E o segredo está em aproveitar as oportunidades, em vez de insistir na auto-flagelação. 

Pobre TINA

Afinal, havia outra. E nisso reside o busílis do diabo. 

Interliga, Cristas, interliga

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Assunção Cristas, em permanente campanha por todo o lado, surgiu ontem de ar grave e semblante taciturno a comentar a consolidação orçamental. Engole em seco quando afirma que “a consolidação orçamental é relevante“, imediatamente rematando com um “é preciso ver como é que é feita essa consolidação orçamental e o que vemos é uma grande degradação de serviços públicos“, apontando baterias ao estado da Saúde e da Educação.

A lata não surpreende. Apesar de ter integrado um dos governos que mais atacou o Estado Social, que desinvestiu brutalmente na Educação e que deixou os serviços de urgências do país a rebentar pelas costuras, sem que a preocupação que agora procura demonstrar estivesse presente, a líder do CDS-PP parece esquecer-se que, mesmo assim, o executivo co-liderado pelo seu antecessor falhou todas as metas do défice. Todas. E que o país pagou caro os sucessivos falhanços. Na relação com a UE como na degradação dos serviços públicos que agora parece ter descoberto. [Read more…]

Aquele raro momento em que a crise financeira serve de pretexto para alguém se safar

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Portugal foi assolado por uma violenta crise que, tendo tido a sua origem num cocktail de especulação financeira, terrorismo de mercado e décadas de governação criminosa, criou as condições perfeitas para um processo de sequestro democrático que o bloco central amavelmente aceitou, ou não fosse Portugal um protectorado pobre da burocratocracia de Bruxelas.

Tomados por um poderoso surto de síndrome de Estocolmo, os dirigentes do PS e, posteriormente, os de PSD e CDS-PP, comportaram-se como bons alunos, o equivalente moral, neste tipo de cenário, a dizer que se comportaram como um cão com um dono violento, que por muito que apanhe continua a abanar o rabo e a pedir festas. Seguiram-se meses de venda de património estatal ao desbarato, cortes salariais, em pensões e em prestações sociais, desinvestimento no Estado Social, desregulamentação laboral, brutais aumentos de impostos e milhares de portugueses em fuga para o estrangeiro. Os ricos ficaram mais ricos, os pobres ficaram mais pobres, a classe média entrou em vias de extinção e o fosso transformou-se num buraco negro. [Read more…]

Deram-nos cabo da saúde

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Truques à parte, que isto da engenharia informativa político-partidária é já um fenómeno descontrolado, quero focar-me na parte verdadeiramente preocupante desta peça do Expresso. Na sequência da onda de terrorismo financeiro que culminou com o crash de 2008, a que se seguiu o advento da austeridade fundamentalista e contraproducente, o número de portugueses sem recursos para pagar consultas médicas triplicou. Os dados são da Comissão Europeia e confirmam o agravamento da desigualdade, num país onde a mesma não parou de crescer durante os anos do fundamentalismo além-Troika, sendo que os mais afectados, como não poderia deixar de ser, foram e continuam a ser os mais pobres.  [Read more…]

Um país que secou

A propósito dos chineses que passaram a controlar o BCP, Nicolau Santos faz uma análise daquilo em que se tornou o país em meros 5 anos. É um retrato desolador, de uma nação que deixou de ter controlo sobre os seus mais sensíveis e estruturais elementos. Ilustra, ainda, como estavam profundamente errados aqueles que defenderam (e defendem) um Estado minimizado, vendido ao sector privado.

O cronista do Expresso aponta o mandato de Passos Coelho e Paulo Portas como a causa do problema. Foram anos de completa reviravolta, é verdade, mas não chega para explicar onde chegámos. Apesar do fanatismo ideológico que atingiu o expoente máximo com o anterior governo, a loucura já vem de trás. É anterior a Sócrates, o mal do mundo, veja-se só.
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As pieguices de Luís Montenegro

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O artista, já dizia Diácono Remédios, é um bom artista. E Luís Montenegro, gostemos ou não do personagem, é, efectivamente, um bom artista. Mas a desfaçatez da sua intervenção de ontem no Parlamento é de bradar aos céus. Quem ouviu o líder parlamentar do PSD, fica com a sensação de que os anos em que o seu partido governou não terão realmente existido. Que trabalhadores e pensionistas não foram espremidos até ao tutano. Que o estado-providência não foi profundamente afectado. Que os portugueses não foram alvo de um brutal aumento de impostos. Que não se vendeu património do Estado ao desbarato. [Read more…]

Fezes de Coelho não chegam ao céu

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Todos recorremos a mecanismos de negação para lidar com situações especialmente perturbadoras, é uma forma de defesa e pode preparar a consciência para o rebate. Eu uso a desvalorização para não soçobrar à realidade. Morreram 200 mas salvaram-se 500. E há dezenas de reconfortantes maneiras de chupar um seixo… Agora, insistir nas virtualidades da austeridade para a recuperação económica de um país e na eficácia dos seus resultados tendo à frente o resumo do estudo coordenado por Carlos Farinha Rodrigues, intitulado “Desigualdade do Rendimento e Pobreza em Portugal – As Consequências Sociais do Programa de Ajustamento”, já não pode ser negação, é perversão sexual. Saborear o produto defecado e insistir em servi-lo aos outros como uma iguaria não é senão uma forma de sado-masoquismo coprofágico.

São conhecidas as primeiras conclusões do documento: o “processo de ajustamento” teve profundas consequências na distribuição de rendimentos em Portugal. Entre 2009 e 2014, os 10% mais ricos sofreram uma quebra de 13% no seu rendimento enquanto os 10% mais pobres tiveram uma quebra de 25%, o que agravou o fosso entre ambos os extremos, ou seja, a desigualdade social.

É que, na verdade, como se refere no dito estudo, a forma como os custos do “processo de ajustamento” foram repartidos entre a população portuguesa constitui um elemento essencial para a caracterização das políticas seguidas neste período. O desemprego delas resultante tornou irrelevantes os paliativos fiscais para os rendimentos do trabalho mais baixos. E, citando, o recuo das políticas sociais (no Rendimento Social de Inserção, no Complemento Solidário para Idosos e no Abono de Família), tanto na sua abrangência como nos montantes atribuídos, alterou significativa e decisivamente as condições de vida das famílias mais pobres.

Ou seja, o discurso oficial da justiça distributiva da penalização dos rendimentos revela-se uma treta absoluta em todo o seu esplendor.

A pobreza disparou, mais cerca de 143.500 pobres – eram, em 2014, números corrigidos, 2,5 milhões de pobres, quase ¼ da população -, como cresceu a intensidade da pobreza e em números que rondam os 30%, atingindo este indicador o valor mais alto desde que há registos desta natureza (2002). O estudo não leva sequer em conta a situação dos 500.000 portugueses que tiveram de fugir de toda esta carnificina programada.

Foi assim, enojado e enjoado, que ouvi ontem o debate parlamentar. Que a política se pode tornar num alucinado exercício de retórica… Mas isto, em bom inglês, já é tomates.

 

 

A não perder!

nuno-lopes

Nuno Lopes dedica prémio de melhor actor da secção Horizontes no Festival de Cinema de Veneza:

“Gostava de dedicar este leão a todas as pessoas do Bairro da Bela Vista e do Bairro da Jamaica (…), eles são os os verdadeiros heróis do filme” na sua luta contra “o dragão da austeridade”. E “Quando as pessoas começarem a ser vistas como seres humanos e não como números numa folha de excel, poderemos começar a discutir o futuro da Europa e dos nossos filhos”.

Mais palavras para quê?  Houvesse mais artistas portugueses deste calibre a dizerem coisas destas…. É ir ver o filme, sem falta!

Nuno Lopes no festival de Veneza

Madalenas arrependidas e outras prostitutas

IMF

Depois das críticas à agenda neoliberal, dos vários falhanços apontados à sua acção no nosso país e dos sucessivos anúncios que revelam projecções e decisões erradas, que agudizaram o impacto da política de austeridade cega e contraproducente em Portugal, o último dos quais na passada Quinta-feira, o FMI assemelha-se cada vez mais à reencarnação de uma Madalena arrependida, após anos de prostituição financeira e doenças reaccionariamente transmissíveis. Sobre este tema, pouco haverá a acrescentar ao esclarecedor artigo de Pedro Marques Lopes. [Read more…]

Ratos de laboratório

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O que mais choca no relatório não é a assunção dos erros, é perceber a descontração com que se fizeram experiências com as vidas pessoas, como se decidiu verificar como uma comunidade reagiria a um plano revolucionário nunca testado, como se decidiu friamente perceber se nós aguentávamos, como nos trataram como meras cobaias ao serviço de uns senhores que nunca tinham testado uma fórmula e que encontraram os ratinhos certos: obedientes, submissos e a sentir-se culpados (alguém os tratou de convencer) porque tinham feito muitas maldades, plasmas, viagens, carros fantásticos e por aí fora.

O artigo completo do Pedro Marques Lopes, Desculpem qualquer coisinha, recomenda-se e está disponível no DN. Aficionados da austeridade cega devem consultar o seu médico antes de iniciar a leitura.

Foto via Huffington Post

Festival Eurovisão da Sanção

100589474-Jeroen-Dijsselbloem-dumbfounded-gettyp.1910x1000Não faltará quem diga que o título é um trocadilho engraçadinho e que o autor tem a mania que tem piada. É tudo verdade e outras coisas piores que queiram pensar.

Contudo, a realidade também tem alguma culpa nesta facilidade em descobrir frases que parecem apenas louras burras, mas que, no fundo, são relativamente inteligentes e algumas nem sequer são louras, como se sabe.

Na distante Bruxelas, capital de um Árctico sentimental, há um coro que canta “sanções” e, pelo mundo fora, outros existem que vão na cantiga. Passos Coelho é, além de barítono de créditos firmados, autor (in)voluntário de sanções que ficam no ouvido dos mais distraídos. Curiosamente, ao contrário de outros compositores, Passos Coelho recusa a autoria, mesmo quando se sabe que foi ele que esteve sentado quatro anos a compor, ao lado de Maria Luís, grande artista do pimba financeiro (Maria Luís tem, aliás, uma versão do sucesso de Emanuel, em que o refrão é “E se eles querem um salário ou um direito, nós pimba, nós pimba!”). [Read more…]

A Igreja Católica? Estava a protestar contra a manifestações

ICdA

Percebes Jorge? Em 2012, quando o governo amarelo laranja e azul do PSD e do CDS-PP aplicava cortes violentos, não só na Educação como na Saúde ou em salários e pensões, o então cardeal Patriarca D. José Policarpo afirmava que manifestações de rua não resolviam os problemas do país e que eram “uma corrosão da harmonia democrática“. Em suma, o líder da Igreja Católica em Portugal concluía que “não se resolve nada contestando“. Era portanto aqui que estava a Igreja Católica, e não há registo que qualquer um dos actuais líderes, que decidiu por estes dias apoiar a causa dos colégios privados, tivesse contestado as declarações do cardeal. Como não há, com uma ou outra rara excepção de uma ovelha tresmalhada do rebanho do Senhor, qualquer registo de apoio da Conferência Episcopal às diferentes manifestações contra cortes ou contras a delapidação de direitos sociais que aconteceram durante o consulado de Passos Coelho e Paulo Portas. Hipocrisia? Talvez. Mas acima de tudo a agenda política de uma instituição que supostamente não a tem.

Fotomontagem via Acordar Portugal

 

Sim Passos, quem se lixou foi o mexilhão

PPCpobreza

Num seminário organizado pela União das Misericórdias de Portugal, em Dezembro de 2014, Pedro Passos Coelho afirmava, convicto:

Ao contrário do que era o jargão popular de que quem se lixa é o mexilhão, de que são sempre os mesmos (…) desta vez todos contribuíram e contribuiu mais quem tinha mais, disso não há dívida

As falanges rejubilavam, a mocidade elogiava o herói, qual Zé do Telhado, mas os indicadores, irrelevantes para muita da nossa imprensa, mostravam a verdade e, dois meses depois das declarações do ex-primeiro-ministro, o INE era categórico: o fosso entre pobres e ricos não parava de aumentar desde 2010[Read more…]

Austerity – The History of a Dangerous Idea

Austerity-Cover

Palestra sobre a crise mundial que nos assola desde fins de 2007. Apesar de ter sido gravada em 2013 é interessante verificar como os argumentos pró austeridade são desmontados por Mark Blyth e aferir até que ponto estão correctos (basta olhar para o estado do país para sabermos a resposta). Em inglês, legendado em inglês – para activar as legendas clique em CC.

A claustrofobia democrática de Passos Coelho e a activista que vai a julgamento por ter pedido a demissão dele

Activista vai a julgamento por exigir demissão de Passos Coelho no Parlamento

A Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis, vem por este meio prestar a sua total solidariedade para com a activista Ana Nicolau, que será brevemente ouvida em tribunal por ter exigido a demissão de Passos Coelho no Parlamento, em Março passado. Este julgamento representa a falta de liberdade de expressão, associada à desresponsabilização política de governantes que, como o anterior Primeiro-Ministro, não cumprem as suas responsabilidades fiscais e sociais, recebendo tratamento especial pelo seu posicionamento político. [daqui]

Ao mesmo tempo que o PSD ensaia recuperação do discurso da asfixia democrática, Ana Nicolau sufoca com a perseguição movida pelas forças políticas que suportaram o anterior governo.

A crise que se segue: Deutsche Bank, os mercenários de serviço e o OE16

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A Mariana Mortágua explica tudo no seu artigo de ontem no Jornal de Notícias: há um incêndio na Europa e um batalhão de burocratas sem escrúpulos em negação. O Deutsche Bank arrisca-se a ser o próximo Lehman Brothers, depois de ter anunciado perdas no valor de 6 mil milhões de euros, a que se juntam 65 triliões de euros acumulados em derivados, o que equivale a 20 vezes o PIB alemão. Se a isto juntarmos a crise dos refugiados, a eventual saída do Reino Unido da UE e, acrescento eu, a insistência na imposição dessa não-solução chamada austeridade, que ao invés de resolver aprofunda os problemas europeus, a conclusão só pode ser uma: o problema da União é o orçamento de estado português. Só pode ser essa a justificação para o nervosismo dos mercados. Pelo menos pela óptica da direita nacional e do seu ministério da propaganda, sempre firmes ao serviço da direita neoliberal europeia. Quem quiser, como sugere Mortágua, ver para além da porta da gaiola onde esta gente nos enfiou, percebe que tudo isto não passa de uma forma moderna de totalitarismo, onde a violência física é substituída pela imposição do medo levada ao extremo, que explora os instintos mais primários do ser humano. Já era tempo de corrermos com estes mercenários.

Imagem via Rabble.ca

Portugal sob chantagem

Wolfgang Schäuble: “Estamos a observar os mercados financeiros e eu já disse que Portugal tem de estar bem ciente que pode perturbar os mercados, se der a impressão que está a inverter do caminho percorrido” [DN]

O Orçamento de Estado visto por um leigo

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Tal como a esmagadora maioria dos portugueses, tenho muitas dificuldades em perceber as linhas com que se cose um orçamento de Estado. Recebo informação através da imprensa, dos actores políticos e dos vários grupos de interesses que gravitam em torno dos cofres do Estado, dos funcionários públicos às clientelas partidárias, e tento juntar as peças. E a primeira conclusão a que chego é que nós, portugueses, nos encontramos numa posição perto da irrelevância no que toca a esta matéria. A nossa soberania está hoje nas mãos de Bruxelas e a tendência, tanto quanto me é dado a entender, é para piorar. Claro que, perante o poder do regime europeu, existem duas abordagens possíveis: a abordagem Pedro Passos Coelho, que consiste em aceitar toda e qualquer imposição sem contestação, e a abordagem que defino como patriótica, que consiste em negociar e defender o interesse nacional, que me parece ter sido aquilo que António Costa fez. Manuela Ferreira Leite defendeu mesmo que o governo saiu vitorioso da negociação. Estes sociais-democratas… [Read more…]

Do legado do governo PSD/CDS-PP

Serviços básicos subiram 25% desde 2011. Salários nem 2%.” [DN]

Mário Centeno: aqui está o link para a Grande Entrevista

realizada ontem por Vítor Gonçalves e emitida pela RTP3. Aqui onde? Aqui. 🙂
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