Atraso de vida

Portugal tem uma longa história e uma das suas curiosidades, decerto será a opção pela via férrea como meio de transporte moderno. Há cento e dez anos, tínhamos uma impressionante rede de caminhos de ferro. Assim, os infelizmente cada vez mais improváveis sucessores de Fontes Pereira de Melo, teriam a obrigação de colocar este transporte numa plataforma de primazia, estudando cuidadosamente aquilo que outros países fazem em matéria de mobilidade e poupança. Mas não, por aqui continuamos com a querida e velha mania do cata-piolhos, ou seja, da procura de um homem providencial em todos os escalões da sociedade, seja ele um gestor de fortunas, um “autoador” de multas que interpreta as normas a seu bel prazer, ou neste caso, um revisor que decida acerca dos direitos de um passageiro.

Esta notícia não devia existir, pois cada vez mais nos arriscamos a ficarmos a “ver comboios” em casa, brincando com um ou outro exemplar da Märklin.. De vez em quando, Portugal bem podia rever os conselhos, velhos de décadas, prodigalizados por Ribeiro Telles. Ainda vamos a tempo.

Importam-se de explicar?

Anda TGV, não anda TGV. Vai a 350 Km/hora ou a uma “velocidade razoável”? Vem ou vai com passageiros ou mercadorias, é ou não é o tal comboio dos negócios de Sócrates, sim, esses mesmo que cheiram a comissões depositadas um pouco por todo o lado?

Gostava que alguém me explicasse o que se passa. É manigância? É aldrabice? É o confirmar daquilo que se sabe mas utilizando outras palavras? Pelo que hoje se diz, mais umas centenas de Km da “via férrea tradicional” serão liquidados. Seria bom imaginarmos a cara dos Fontistas, vendo mais uma das suas obras ser transformada em ferro velho, quiçá mais um pasto para certos sucateiros que se foram transformando paulatina, mas irreversivelmente, numa espécie de tutores do regime.

Já não bastava o papaguear de uma “história” de cem anos que afinal não passa de estória, talvez comparável às Aventuras da Anita. Já não bastava a ferrenha mastroncização das Avenidas Novas que um dia Ressano Garcia felizmente concebeu, hoje vítima de Zés que não fazem falta nem ao Menino Jesus, Salgados duplos – BES+CML – e Costas, apelido que em Lisboa parece sinistra sina. Não, não basta. O legado daquilo que de melhor a Monarquia Constitucional – a única e verdadeira precursora da actual democracia – nos deixou, será dentro de pouco tempo uma mera recordação patente em livros à venda em qualquer supermercado. Aqueles que têm estampado nas capas o sugestivo título “Lisboa Desaparecida.

É de facto Portugal que para sempre desaparecerá. Triste fim.

Outra vez os tontinhos do pouca-terra.

Várias vezes o Henrique Pereira dos Santos, do blogue Ambio, tem atacado a ferrofilia, traçando um perfil pouco simpático em relação aos entusiastas do caminho de ferro que, segundo ele parecem ser uns tontinhos capazes de se atarem a um carril para salvar o comboio. Porquê? Simplesmente porque o comboio é giro e os pobres coitados enfermaram, na infância, de um défice de atenção.
Volta agora à carga com a questão Porto-Vigo ou a sugestão (que por acaso também me me parece estapafúrdia) do aproveitamento do canal Lisboa-Corunha. Segundo ele «o facto de haver muita gente num sítio não quer dizer que haja muitos utilizadores de comboio. O facto de haver muita gente só quer dizer que há potencialmente muitos utilizadores de comboio. Mas que esse potencial só se transforma em bilhetes vendidos em algumas circunstâncias.». Caso para dizer: elementar, caro Henrique. Esta paliciana asserção serve para tudo o que tenha rodas e ande e mesmo para alguns quadrúpedes.
Porém, ao contrário do que HPS pensa, nesta altura do campeonato, a questão não é tanto um caso de procura-oferta. Isso era há uns anos, durante a gloriosa década de 1980, quando se começou a fechar em vez de modernizar. Hoje é uma questão de: vale a pena ter comboio que não seja do tipo suburbano, em Portugal? [Read more…]