As gravuras ainda não sabem nadar?

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No início, de modo simplista, havia isto: a barragem ou as gravuras.
Optou-se, bem, pelas gravuras.
Como sempre, parte da substância foi reduzida a discussões de economês básico: qual a solução que geraria mais dinheiro? A barragem, disseram muitos em coro, começando por boa parte da população local.
Paradoxalmente, a defesa das gravuras do Coa foi, talvez, uma das últimas causas capazes de gerar movimentos engajados e participativos em Portugal, integrando vozes e manifestações activas norte a sul, levando a discussões que envolviam modelos de desenvolvimento e salvaguarda de património cultural.
Ora, um paradoxo gera outros, e grande parte dos defensores nunca visitou o local e os percursos postos ao serviço do público, contribuindo, também assim, para a aparente estagnação actual.
E é pena. Pena, porque, de novo, é a gestão do património comum que está em causa, e pena porque se trata de um programa inesquecível para quem nele participa.
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A linha do Tua, a EDP, e os assassinos do caminho de ferro

O Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) aceitou a petição assinada por cerca de cinco mil pessoas para a classificação da Linha do Tua como Património de Interesse Nacional.

Uma boa notícia, mas que remata com a má: a EDP faz de conta que não sabe de nada, e avança na construção da barragem que destruirá o vale do Tua. Mesmo a propósito um analfabeto que foi ministro de Cavaco, Amaral de seu nome, volta ao ataque com as gravuras de Foz Côa, retomando a demonstração que em Portugal qualquer bípede pode chegar ao governo, e que tirando a excepção honrosa que permitiu salvar as gravuras, Património da Humanidade segundo a UNESCO, quem manda é a EDP.

A fotografia (fracota, eu sei) foi tirada de um comboio da Linha do Tua, apeadeiro de Brunheda, onde na parede se podia ler “Cavaco assassino do caminho de ferro“. Foi verdade, mas e a senda continuou. Uma série de assassinatos em série. Um romance de horrores. Mas para as estradinhas o dinheiro nunca faltou, que as petrolíferas também mandam. Ninguém as elege, mas lá lhes vão obedecendo. Chama-se capitalismo, e não é nada democrático.