Cidadania fica de fora

 

Pela sua relevância, aqui se reproduz, sem mais, o Comunicado de Imprensa do movimento Juntos pelo Sudoeste – Movimento de Cidadãos de Aljezur e Odemira em Defesa do Sudoeste

COMUNICADO DE IMPRENSA 2 de Março de 2023

Em visita ao Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina

Ministro do Ambiente Dialoga com Agricultura Intensiva e Deixa de Fora Ambientalistas

Por ocasião da visita há muito esperada do ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, ao Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, em Odemira, que teve lugar precisamente ontem, o movimento Juntos Pelo Sudoeste (JPS) lamenta que a cidadania tenha sido deixada de fora da agenda desta visita e que não tenha sido ouvida pelo governante, apesar dos pedidos efectuados por este movimento de cidadãos tanto ao gabinete do ministro como ao município de Odemira.

Sabendo-se que o ministro do Ambiente esteve reunido com várias entidades, entre elas representantes do poderoso agronegócio do Sudoeste de Portugal, o Juntos Pelo Sudoeste defende que as opiniões e preocupações dos cidadãos, movimentos, organizações e associações sejam ouvidas e tidas em consideração neste momento de inflexão que a região atravessa. Situações como a que decorreu ontem em que um ministro que tutela a área do Ambiente dialoga com o sector privado da Agricultura e deixa de fora um movimento de cidadãos focado e comprometido com a defesa do património ambiental do Parque Natural do Sudoeste e Costa Vicentina não deveriam ter lugar numa sociedade democrática onde o diálogo entre todas as partes deve vir sempre em primeiro lugar.

Sendo Odemira uma região há muito assolada por vários problemas para os quais o JPS tem vindo alertar ao longo dos últimos anos, e nos quais se incluem:

> A falta de equilíbrio entre o modelo de exploração agrícola e os valores ambientais, marcado por uma forte falta de fiscalização por parte das entidades competentes que tem resultado numa delapidação do património natural que levou à criação do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, conforme atesta o Relatório do Plano de Gestão da ZEC Costa Sudoeste (págs 73 > 77 e págs 83 > 85).

> A falta de uma gestão coerente dos recursos hídricos num cenário de escassez cada vez mais acentuada, marcada igualmente por uma forte falta de fiscalização por parte das entidades competentes e uma necessidade crescente de água por parte do sector agrícola, que tem resultado no decréscimo das reservas da albufeira de Santa Clara a níveis apenas vistos na altura do seu enchimento;

> A crescente ruptura do tecido social, causada inicialmente por uma grande procura de mão-de-obra barata na agroindústria e, mais recentemente, pela proliferação sem controlo de empresas de trabalho temporário e comércios, que não são mais do que fachadas para a venda de contratos de trabalho fictícios e um ponto de entrada na Europa para milhares de imigrantes que se deparam com situações de escravatura moderna e condições de vida deploráveis.

E estando agora num momento em que: [Read more…]

Frutos vermelhos ásperos e amargos

Os governantes portugueses e o seu amor pelo negócio a qualquer custo:

„Enquanto o aumento da área de culturas cobertas de plástico prossegue na região, a seca toma contornos dramáticos: “O baixo Mira está a secar, as plantas aquáticas morrem e os biótopos desaparecem” em nome de um negócio de “247 milhões de euros com frutos vermelhos para serem servidos ao pequeno-almoço na Europa”, realça o semanário alemão.

Face ao diagnóstico da Der Spiegel, o JPS refere que o ímpeto agrícola descrito só é possível porque o “Estado português abdicou de cuidar e vigiar partes muito significativas do seu território, permitindo a instalação de interesses que não devolvem nada à região e que estão em completa contradição com os valores que se pretendem proteger” no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.“

Da mesma maneira que se andou a destruir as cidades costeiras do Algarve com prédios abomináveis, agora destrói-se a terra e a sobrevivência com estas culturas e práticas execráveis.

O legado desta geração é vergonhoso.