Pepe Mujica, a lucidez das verdades duradouras

Palavras proferidas há mais de um ano, mas que em nada perderam actualidade e acutilância.

(…)  “É que estamos numa era globalizada. Esse vírus é a coisa mais globalizada que já foi vista. (…) Que não temos ferramentas e que não podemos coordenar políticas comuns do ponto de vista mundial. Mas a falta de liderança não é porque homens e mulheres sejam incapazes. É porque o poder, há muito tempo, a essência do poder, já não está mais na representação necessária dos governos. Os governos correm atrasados. A essência do poder está na concentração fenomenal da riqueza e, aparentemente, isto não está em questão. Aqueles que parecem ter poder político num determinado momento, tem cada vez menos. Então, esse é o primeiro assunto. Segundo assunto: passaram muitos anos criticando o Estado, porque, por um lado, havia um modelo estatista do tipo soviético, que acreditava ter resolvido tudo com o Estado. E, por outro lado, surgiram os ultraliberais, que no fundo não são liberais porque abraçam qualquer ditadura; eles acreditam que o Estado tem que ser reduzido ao mínimo. E quando as ‘batatas queimaram’, como agora, todos se voltam para ao Estado; que me deem (dinheiro), que o Estado garanta a disciplina, (…). Mas, passamos bombardeando o Estado em vez de lutar, para começar a entender, uns e outros, que as sociedades modernas são cada vez mais complexas e que renunciar ao Estado é impossível. Então, a verdadeira luta é aquela na qual precisamos lutar para o melhor dentro do Estado. Porque, na realidade, é desse valor coletivo que temos necessidade. E por que procurar o Estado? Porque o mercado não pode consertar isso. Porque precisamos de políticas globais. Porque alguém tem que tomar decisões, certas ou erradas. Porque temos que respeitar essas decisões. Porque temos que nos mover como coletividade, e não que cada louco faça o que está de acordo com  seus interesses (…). Acho que alguma coisa de sabedoria temos que aprender com essa crise. Mas não pensemos que após esta crise virar a esquina, que depois de amanhã, voltaremos a um mundo perfeito, onde nos reuniremos, nos abraçaremos, nos beijaremos (…) reuniremos multidões num campo de futebol ou algo assim, mas provavelmente por muito tempo, estaremos expostos a esse perigo. E o mundo já não será mais o mesmo de antes. Teremos que aprender a funcionar de uma forma diferente. Mas quanto isso vai nos custar? E o preço que vamos pagar? Essas questões vão nos martelar até o dia em que a ciência nos der um conjunto de respostas que hoje está longe de estar ao alcance da mão. Essa crise também pode servir para que o Homo Sapiens seja um pouco mais humilde e que aprenda que a Natureza deve acompanhada e respeitada.”

Pepe Mujica, ex-Presidente do Uruguai, o Presidente mais pobre do mundo” –  ente superior desta duvidosa humanidade

Portugal debaixo da mira da Philip Morris

Uruguay's president-elect Jose Mujica celebrates winning the presidential run-off election in Montevideo

Foto@FPIF

Num momento de radicalismo singular, quiçá inspirado pela data ontem assinalada, quero hoje endereçar os meus parabéns ao governo português, na pessoa do ministro Paulo Macedo, pelas medidas aprovadas esta semana no âmbito do combate ao consumo de tabaco. Proibição total de fumar em espaços fechados, aumento do tamanho das advertências relativas aos malefícios do consumo, onde frases como “Fumar Mata” serão substituídas por imagens dissuasoras, e a eliminação de aspectos de “natureza subjectiva” como as opções “light”, “mentol” ou “suave” passam a ser proibidas.

Nada disto é novo. Todas estas e outras medidas foram já implementadas, por exemplo, no Uruguai, pela mão do enorme Pepe Mujica. O país, considerado um exemplo na luta contra o tabagismo, enfrenta por isso um processo da tabaqueira Philip Morris, que considera as medidas em vigor no país como violadoras de um tratado de investimento entre a Suiça e o Uruguai. Façamos votos para que nenhum tratado de investimento desconhecido coloque os lucros de uma qualquer tabaqueira acima do superior interesse da saúde pública.