Portugal debaixo da mira da Philip Morris

Uruguay's president-elect Jose Mujica celebrates winning the presidential run-off election in Montevideo

Foto@FPIF

Num momento de radicalismo singular, quiçá inspirado pela data ontem assinalada, quero hoje endereçar os meus parabéns ao governo português, na pessoa do ministro Paulo Macedo, pelas medidas aprovadas esta semana no âmbito do combate ao consumo de tabaco. Proibição total de fumar em espaços fechados, aumento do tamanho das advertências relativas aos malefícios do consumo, onde frases como “Fumar Mata” serão substituídas por imagens dissuasoras, e a eliminação de aspectos de “natureza subjectiva” como as opções “light”, “mentol” ou “suave” passam a ser proibidas.

Nada disto é novo. Todas estas e outras medidas foram já implementadas, por exemplo, no Uruguai, pela mão do enorme Pepe Mujica. O país, considerado um exemplo na luta contra o tabagismo, enfrenta por isso um processo da tabaqueira Philip Morris, que considera as medidas em vigor no país como violadoras de um tratado de investimento entre a Suiça e o Uruguai. Façamos votos para que nenhum tratado de investimento desconhecido coloque os lucros de uma qualquer tabaqueira acima do superior interesse da saúde pública.

É proibido respirar, que produz CO2

the brain wash Depois dos nova-iorquinos terem proibido fumar em locais públicos  ao ar livre como praças, jardins ou praias, eis que é a vez dos espanhóis se saírem também com uma tirada fundamentalista: «em Espanha é proibido fumar em casa se houver uma empregada a trabalhar».

Fico com com a dúvida se estes legisladores se vão lembrar a seguir de fazer uma lei que proíba as pessoas de entrar em parques de estacionamento e de andarem em ruas onde circulem automóveis. Ou se, por outro lado, não irão proibir a circulação de automóveis onde caminhem pessoas. É que bem vistas as coisas, a poluição automóvel é reconhecidamente nociva à saúde. Ou será que a parvoíce é só para algumas coisas?

Mais impressionante ainda é a justificação espanhola para a proibição.

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Fumar é como ter de fazer um broche sem nos apetecer

Em França acaba de ser lançada uma campanha anti-tabaco, da responsabilidade da associação DNF – Droits des non-fumeurs (Direitos dos Não-fumadores), que está gerar grande polémica.

Numa das fotos da campanha surge um jovem de cigarro na boca, ajoelhado frente à braguilha de um homem, no que parece ser um prelúdio a uma felação. O homem tem a mão sobre a cabeça do rapaz, numa atitude de imposição. A legenda, e slogan da campanha, diz: “Fumar é ser escravo do tabaco”. Numa outra foto, o rapaz é substituído por uma rapariga, e o homem, já sem casaco (será o segundo escravo sexual do dia?) mostra uma barriga de burguês instalado. [Read more…]

Um último cigarro – dedicado ao amigo Adão Cruz

Amigo Adão, eu li os seus textos de hoje (este e depois este) e assenti em silêncio a tudo o que li. Eu sei que reduzi o risco de contrair múltiplas e terríveis doenças. Admito que recuperei o meu paladar e a capacidade de subir sem parar os intermináveis lances de escadas da minha casa e que até, provavelmente, o meu hálito melhorou, embora não me sinta avalizada para afirmá-lo. Eu sei que foi uma decisão adulta, sensata, ecológica, e que pode ter prolongado o meu tempo de vida. Mas eu trocaria todos esses benefícios por só mais um cigarro fumado sem o remorso da fraqueza de vontade nem a angústia da recaída.  Um só cigarro, sem réplica, e eu não me importava de voltar a arfar a meio das escadas.

Eu reconheço que fumava de mais: nos dias bons um maço completo, nos maus perdia a conta aos cigarros que fumava. E só deixei por completo o tabaco porque estava grávida. Se estivesse em causa apenas a minha saúde teria continuado a fumar sem hesitações. Não há racionalidade no vicio, já sabemos, a compulsão exige ser comprazida. Mas eu justificava-me alegando que o tabaco, com todos os seus malefícios, não induz estados alterados de consciência, não turva tanto assim o discernimento. Não provoca alucinações, não nos leva a fazer figuras tristes, desde que não se considere triste ser a única pessoa a sair da camioneta na paragem de descanso a meio de uma viagem Lisboa-Porto, às três da manhã, com 1 ou 2 graus lá fora, e um vento de cortar (daí que há quem diga que os fumadores morrem mais cedo não devido ao tabaco mas às condições a que são expostos, sempre a apanhar correntes de ar). Enfim, que há dependências mais nocivas, quero dizer. E a companhia digna e silenciosa de um cigarro fumado ao cair da noite, quando se pondera uma decisão difícil ou se lambe a ferida de um desengano? E o fumo conspiratório de uma reunião de amigos, quando o brilho das imagens que se lançam é proporcional à espessura da nuvem que nos vai cobrindo? E o alívio, ainda que momentâneo, do cigarro da espera, aquele que vem aplacar a ansiedade dos grandes momentos, aquele que parece aquietar os batimentos cardíacos, por muito traiçoeiro que isso seja, eu sei, amigo Adão, na verdade faz o contrário? Tudo isto se perde. E parece certo que as vantagens do abandono do tabaco não se vêem de imediato, não.  Vão chegando pouco a pouco, como que para testar a resolução do ex-fumador. Tudo isso acabou para mim. Não me permito sequer colocar a hipótese de voltar a fumar. Mas, juro-lhe, amigo Adão, se fosse apenas um, sem hipótese de recair na armadilha da dependência…