Dia Internacional da Biodiversidade sabotado

 

É hoje. E são inúmeras as vozes que dizem: isto não faz sentido nenhum, há que inverter a marcha.

Mas os chefes de estado da UE, subservientes face aos grandes interesses económicos, estão prestes a aprovar uma Política Agrícola Comum 1]  que devora muitos milhares de milhões de euros e continua no mesmo sentido: atirar a maioria dos subsídios agrícolas para os bolsos das grandes empresas industriais, em vez de proteger o ambiente,a biodiversidade, o clima e a saúde.

Há décadas que se fazem as mesmas críticas, os mesmos apelos. Mas nos seus fatinhos, nos seus carrões, nos seus salões, são imunes ao direito à vida futura.

 

1] A Política Agrícola Comum (PAC) da UE paga subsídios aos agricultores da Europa. Este enorme negócio ascende a 400 mil milhões de euros distribuídos entre agora e 2027. Com uma percentagem de 35%, este é o maior item do orçamento da UE. Os maiores beneficiários são as grandes explorações industriais que cultivam intensivamente as suas terras, cultivam monoculturas, criam grandes quantidades de animais e utilizam enormes quantidades de fertilizantes artificiais, pesticidas químicos e antibióticos. Tudo isto alimenta a crise ambiental, polui os solos e as águas subterrâneas e destrói a biodiversidade; mas mesmo assim, as grandes explorações agrícolas recebem, de longe, a maior parte dos subsídios. Isto porque os subsídios se baseiam principalmente na dimensão dos campos dos agricultores e no número de animais que possuem. O acordo agora negociado para os próximos 7 anos (!) não altera nada de substancial neste sistema prejudicial ao ambiente e ao clima. Os detalhes finais do acordo serão discutidos no chamado trílogo. As reuniões entre os líderes da Comissão, do Parlamento da UE e do Conselho de Ministros da Agricultura terão lugar nos dias 25 e 26 de Maio.

Ou sim ou sopas

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Foto: dpa

Diz um ditado alemão que “até uma galinha cega acaba por encontrar um grão”; pois foi o que aconteceu, a Comissão Europeia encontrou um saboroso grão: a insuficiente protecção dos lençóis freáticos e consequente contaminação da água potável com níveis demasiado elevados de nitrato. Depois de vários avisos, a Comissão instaurou agora junto do Tribunal Europeu uma acção judicial contra a Alemanha.

A principal causa dos elevados valores de nitrato é a prática agrícola de fertilização da terra com chorume e estrume. Em exagero, o nitrato polui a água doce, sendo tóxico tanto para plantas como para animais. Estudos indicam que a substância pode ser cancerígena. No ecossistema marinho, o excesso de nitrato contribui para a proliferação de algas e consequente aumento de bactérias aeróbicas, rarefazendo o oxigénio na água e provocando a morte de outros seres vivos (por exemplo peixes).

Enfim, já não falando no “pequenino defeito” resultante deste uso e abuso que é aspirar o cheiro nauseabundo quando se passeia pelos campos, pensando nisso, até beber água da torneira se pode tornar ligeiramente desconfortável.

Em caso de condenação, a multa poderá ser da ordem dos milhões de euros por dia. A França já foi condenada por idênticas razões, podendo a multa ascender a 3 mil milhões de euros.

Só é pena a falta de coerência entre os diversos ressorts da UE: distribuir multas a prevaricadores ambientais é uma óptima ideia, mas enquanto se continuar com uma política agrícola comum que privilegia totalmente a agricultura e pecuária intensivas, não é possível ter mão nos problemas e prejuízos ecológicos – degradação da paisagem, perda da biodiversidade dos ecossistemas, erosão do solo e poluição. Talvez começando por aí…