Carlos Moedas e a imigração sem noção

Carlos Moedas fez um número de circo político como há muito não se via. Visivelmente incomodado com as críticas certeiras de Marcelo Rebelo de Sousa, que alertou a cúpula do PSD para os perigos de se remeter ao papel de cópia de um perigoso original, a propósito das intervenções infelizes de Moedas e Montenegro sobre os problemas da imigração, o edil de Lisboa saiu-se com esta:

Eu fui emigrante, sou casado com uma imigrante, não aceito lições de ninguém nesta matéria.

Imagino as dificuldades que atravessou o emigrante Moedas, numa frágil jangada de madeira a caminho do Goldman Sachs. Ou a arriscada travessia do deserto que fez, a pé e sem comida, de Portugal até Bruxelas. Que importantes lições terá aprendido, nessas jornadas onde a morte está sempre à espreita? A da noção não foi de certeza.

Tudo isto são excelentes notícias

desde que não fiquem por executar. Ou acabem num pavilhão transfronteiriço qualquer.

Se vamos investigar o PCP, investigue-se o PSD também

Essa ideia de se investigar um partido, por ter uma posição com a qual não se concorda, parece-me uma ideia pouco democrática. Mas se é para ser, então que seja retroactiva. Porque se vamos investigar as ligações do PCP ao Kremlin, talvez fizesse igualmente sentido investigar o PSD, porque a ascensão meteórica de Durão Barroso, da Cimeira das Lajes para a presidência da CE, e daí para a do Goldman Sachs, para ainda ir parar à Aliança Global para as Vacinas, também dava uma bela de uma investigação.

“Can you hear me?”, de Colin Chapman

Efectivamente, EU can do better.

Como escrevi há dias, a página EUAid4Interpreters tem informação completa e actualizada sobre a situação.

Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.

Bruxelas, 24 de Junho de 2020 Foto: Laura Neri & Francesc

Protesto dos intérpretes nas instituições da UE e #EUsolidarity ?

Nobody should be left behind.
— Nicolas Schmit, 4 de Junho de 2020

I would like to highlight that there is a big issue with the freelance interpreters in this house.
Sophia in ‘t Veld, 4 de Junho de 2020 (entre 09:09:18 e 09:10:29)

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Na página EUAid4Interpreters, podeis encontrar informação completa e actualizada sobre a situação.

 

Protesto dos intérpretes nas instituições da UE (Euronews, 3/6/2020)

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#EUsolidarity ?

UE sem palavras com o coronavírus a limitar o trabalho dos intérpretes

[tradução: Nuno Bon de Sousa]

Versão portuguesa de artigo publicado no POLITICO de 30 de Abril de 2020 e actualizado hoje, 25 de Maio de 2020.

A tradução é de Nuno Bon de Sousa.

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Linguistas definham enquanto Bruxelas adopta o distanciamento social e reuniões virtuais.

Por Maïa de la Baume 30/4/2020
(actualizada em 25/5/2020)

O coronavirus turvou a clareza e aumentou o ruído na bolha de Bruxelas.

A pandemia reduziu de forma drástica o volume de interpretação oferecido pelas instituições europeias, o que levou ao cancelamento de contratos de intérpretes freelance e deixou os representantes europeus com dificuldades de expressão.

Há duas semanas, Sandra Pereira, uma eurodeputada portuguesa da extrema esquerda, comunicou numa reunião da Comissão da Indústria do Parlamento Europeu que “lamentava” não poder falar na sua língua materna “num momento em que os tradutores e intérpretes estão a ser afastados.”

Numa reunião da Comissão de Assuntos Externos do Parlamento Europeu, o Presidente, David McAllister, pediu aos eurodeputados que falassem “na sua língua materna se for uma daquelas para as quais há interpretação.” Posteriormente pediu a um eurodeputado “que falasse inglês, porque os intérpretes já cá não estão.”

Apesar do distanciamento social e da proibição de viagens, o Parlamento afirma conseguir agora fornecer interpretação em todas as 24 línguas da UE para as sessões plenárias. Inicialmente não houve interpretação de gaélico e maltês, porque os intérpretes freelance dessas línguas não se podiam deslocar a Bruxelas.

“Os intérpretes garantem o multilinguismo da UE e são essenciais para a manutenção dos trabalhos e funcionamento das instituições” – Terry Reintke, eurodeputada alemã. [Read more…]

O vírus e os governos do lado da ganância

O expoente máximo da ordem económica mundial canibalista* em que vivemos, drogada no lucro e na competitividade, é … o patrão e accionista maioritário da Amazon, Jeff Bezos. Esse monstruoso poço de egoísmo e cinismo, que não faz segredo de querer substituir os seus empregados por robots – e que como tais já os trata – recebeu em 2014 o título de “pior patrão do mundo” da Confederação Sindical Internacional. As empresas que se subjugam ao seu Marketplace são igualmente esmifradas e, se têm sucesso, arriscam-se a que lhes seja roubado o negócio pela própria Amazon. No início de Novembro, Bezos foi nomeado o homem mais rico do mundo pela revista norte-americana “Forbes” e pela plataforma de notícias “Bloomberg”.

Perversamente, a pandemia do coronavírus beneficia a empresa de Bezos como poucas outras. De acordo com o índice Bloomberg Billionaires, desde o início do ano os activos do chefe da Amazon aumentaram em 23,6 mil milhões, para 138 mil milhões de dólares. Nenhuma outra pessoa na lista da Bloomberg dos 100 mais ricos do mundo aumentou tanto os seus bens desde o início do ano, como Bezos. Já em plena crise, a Amazon contratou 100.000 novos funcionários nos EUA – e agora anunciou mais 75.000 posições.

Mas, em consonância com o seu implacável instinto predador, a protecção da saúde e segurança dos trabalhadores durante a crise do coronavírus é desprezível para Bezos. Nos EUA, três empregados que denunciaram falta de qualquer material de protecção foram de seguida despedidos por “repetidas violações das orientações internas”.  E na terça-feira passada, um tribunal francês decidiu que a Amazon não tinha cumprido devidamente as suas obrigações de protecção nos seus centros logísticos em França, tendo determinado que durante um mês a empresa só pode vender bens essenciais, enquanto elabora novas medidas de segurança.

20 anos após a entrada na bolsa, a Amazon tem um valor total de 457 mil milhões de dólares. Obviamente, Bezos aproveita também as manigâncias fiscais a que os governos fecham os olhos, pagando assim impostos minimalistas. Em 2017, a Comissária responsável pela concorrência, Margrethe Vestager, declarou em conferência de imprensa em Bruxelas, que, entre 2006 e 2014, a Amazon não tinha pago impostos sobre três quartos dos seus lucros na Europa, devendo 250 milhões de euros ao estado luxemburguês – coisa de que este último se mostrou inocentemente surpreendido (ou não fora um dos paraísos fiscais europeus).

Segundo os cálculos da Comissão Europeia, a taxa efectiva de imposto que pagam as grandes empresas tecnológicas é de, em média, 9,5% – enquanto a generalidade das empresas paga em média 23%. Mas a Europa continua a dar-se ao luxo do faz que faz, mas não faz, quanto ao imposto sobre os gigantes tecnológicos (GAFA) e deixou a França, que acabou por avançar sozinha, exposta às ameaças de aumento de taxas alfandegárias de Trump. Muito altos são os interesses a impedir que a cobrança de tal imposto venha dar uma ajuda ao financiamento desta crise que ainda tanto vai doer.

*(na expressão do sociólogo suiço Jean Ziegler)

Os anos excepcionais

La palabra “jubileo” proviene del término hebreo “yobel”que era el cuerno de cordero que anunciaba a los judíos el comienzo de un año excepcional dedicado a Dios.
González, González & Brunner

Como se mencionó en el primer informe, 1998 fue un año excepcional para la construcción naval en el mundo, ya que la crisis financiera de Corea del Sur bloqueó la producción y la aceptación de pedidos en Corea.
Comissão Europeia

O respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho?
José Mário Branco (1942-2019), “FMI” [“por determinação expressa do autor, fica proibida a audição pública parcial ou total desta obra“]

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De facto, os fatos do Diário da República vieram para ficar.

Embora hoje não haja contatos no sítio do costume, podemos sempre contar com a colaboração desse maravilhoso espaço de resistência silenciosa cercado por liberdade de expressão (os meus agradecimentos ao muito atento e excelente leitor do costume): [Read more…]

Premiar e negociar

Ao receber, no passado dia 20 de Outubro, o Prémio da Paz do Comércio Livreiro Alemão, o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado afirmou que “passou grande parte de sua vida testemunhando o sofrimento do nosso planeta e de seus habitantes que vivem em condições cruéis e desumanas”. “A missão de iluminar a injustiça guiou meu trabalho como fotógrafo social”.  “As minhas fotografias mostram o presente e por mais que ele seja doloroso, nós não temos o direito de desviar nosso olhar“.

A profunda sensibilidade social de Sebastião Salgado tinha já sido notavelmente documentada por Wim Wenders e Juliano Salgado no premiado filme Sal da Terra.

O fotógrafo e fundador do Instituto Terra denuncia agora, também através de palavras certeiras e transparentes o que está a acontecer na Amazónia. “(…) o modelo económico do Brasil e do mundo é um modelo predatório, que destrói a Amazónia”.*

Entretanto, os dirigentes europeus fazem de conta que se indignam, mas não deixam de desviar o olhar, promovendo e assinando o acordo de comércio UE-Mercosul e assim contribuindo para essa destruição e dando mais uma estocada contra uma agricultura e pecuária sustentável, a bem da indústria automóvel.

Quão esquizofrénica é uma Comissão Europeia que promove a importação de produtos agrícolas do Brasil, quando o Governo brasileiro, sob a presidência de Bolsonaro, autorizou há alguns meses atrás mais de 150 novos pesticidas, enquanto essa mesma Comissão Europeia está a pretender adoptar uma estratégia para os produtores europeus que visa ter exactamente o efeito contrário?

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Há festa na Comissão

A eufórica Comissária Europeia do Comércio

Já a caminho da porta de saída, pressurosa, a (ainda) actual Comissão Europeia celebrou mais dois sucessos referentes a acordos comerciais: no final de Junho, anunciou um acordo político sobre o acordo comercial com o Mercosul e assinou os acordos comerciais e de protecção do investimento com o Vietname.

O acordo EU-Mercosul é sem dúvida uma boa notícia para a indústria automóvel, sobretudo a alemã, e um amargo revés para os direitos humanos, a protecção do ambiente e do clima e para a agricultura de pequena escala. Declara-se a salvação do clima em Osaka, continuando a destruí-lo através do acordo UE-Mercosul.

Quanto ao acordo comercial com o Vietname, este país do sudeste asiático não ratificou, até à data, três das oito normas laborais fundamentais da OIT e as violações do direito do trabalho fazem parte da vida quotidiana. Por exemplo, os smartphones Samsung são produzidos no Vietname em condições de trabalho subterrâneo. Ora, tal como é regra nos acordos comerciais da UE, o Acordo UE-Vietname não contém quaisquer disposições vinculativas em matéria de protecção ambiental ou de direitos laborais.

Mas isso é, sempre que se trata de negócios, secundário; o regozijo pelo “maior acordo comercial do mundo” é enorme e nele está sempre presente a cantilena da vitória contra o proteccionismo de Trump. Acontece que “Fazer o oposto de Trump”, não é  exactamente o mesmo que continuar a assinar acordos que accionam a descida de padrões sociais e ambientais e estimulam o corrupio de produtos com ou sem sentido, à custa do descalabro climático.

Pior era impossível

a ignóbil sobranceria e arrogância da tropa fandanga no conselho europeu.

Uma erva daninha com forma humana

Manifestante contra o glifosato. Foto: Reuters

Ora pronto, acabou a dança, via livre para dar continuidade à destruição da biodiversidade vegetal e animal, à contaminação dos lençóis freáticos, à redução da fertilidade natural do solo, à agricultura intensiva e ao ataque à saúde pública: O Comité de Recurso da União Europeia (UE) deu ontem “opinião positiva” à proposta de renovação por cinco anos do uso do glifosato, com uma maioria qualificada de 18 Estados-membros a favor e a abstenção de Portugal.

Era de esperar? Sim, era de esperar que os lobbiistas pudessem ontem fazer estalar a rolha das garrafas de espumante brindadas pelos chefes. Mas ainda assim… como ocorreu esse prodígio, se ainda há cerca de duas semanas não tinha sido possível conseguir uma maioria favorável para aprovação do prolongamento da licença???   [Read more…]

Studying fake news about Voltaire, spread by the New York Times

Un calife autrefois, à son heure dernière,
Au Dieu qu’il adorait dit pour toute prière :
« Je t’apporte, ô seul roi, seul être illimité,
Tout ce que tu n’as pas dans ton immensité,
Les défauts, les regrets, les maux, et l’ignorance. »
Mais il pouvait encore ajouter l’espérance.

Voltaire

O projeto-piloto da Comissão, que visa assegurar a correta aplicação da legislação da UE por parte dos Estados-Membros, sem o recurso a processos de infração, é objeto de um inquérito estratégico que teve início em maio.

Relatório Anual 2016 do Provedor de Justiça Europeu

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1. É no mínimo curioso — e paradoxal q.b. — que, numa notícia sobre ‘fake news’ espalhadas por Voltaire, o New York Times espalhe ‘fake news’ sobre Voltaire.

Os leitores do Aventar conhecem o caso ‘Voltaire vs. S.G. Tallentyre/Evelyn Beatrice Hall’, logo, sabem que Voltaire nunca escreveu em francês — «Je déteste vos idées mais je suis prêt à mourir pour votre droit de les exprimer»— aquilo que em inglês — «I disagree with what you say, but will defend to the death your right to say it.» — o New York Times apresenta como dado adquirido:

 

2. Mudando de assunto, segundo o Público,   [Read more…]

A dança do glifosato e o KGB

Os bons olhos com que a comissão europeia vê a Monsanto, levaram-na, em Junho de 2016, a propor o prolongamento da licença de utilização do glifosato por quinze anos, o prazo máximo permitido pelo direito comunitário; perante massivos protestos e um posicionamento nem pró nem contra do conjunto dos estados-membros, a CE acabou por adiar a decisão por um período de 18 meses, que terminará a 15 de Dezembro próximo. Nem a proposta seguinte da CE, de prolongar a licença por dez anos, nem a mais recente, por cinco anos, reuniram suficiente apoio dos estados-membros – a decisão voltou recentemente a ficar empancada na reunião de peritos do Comité Permanente da Cadeia Alimentar e da Saúde Animal e foi de novo adiada, agora para 27 de Novembro. Será então apresentada ao comité de recurso, uma instância destinada a apoiar a tomada de decisões “em casos sensíveis e problemáticos”. [Read more…]

A prepotência da Comissão Europeia à vista

A Iniciativa de Cidadania Europeia (ICE) é o único mecanismo que abre aos cidadão europeus uma frincha para uma ligeiríssima intervenção directa nas políticas europeias. Ligeiríssima porque a Comissão Europeia (o órgão executor da UE) não é obrigada a seguir as reivindicações dos cidadãos, podendo decidir o que a sua excelsa vontade por bem achar. Mas enfim, tem de se dar ao trabalho de dar uma resposta mais ou menos cabal; e o Parlamento Europeu sente-se um bocadinho pressionado. O reconhecimento de uma ICE requer o cumprimento de vários requisitos, o primeiro dos quais é a aceitação, pela Comissão, do registo da dita ICE.

Em Julho de 2014, a Plataforma Europeia STOP TTIP (reunindo mais de 500 associações de todos os estados-membros) solicitou à Comissão Europeia (CE) o registo de uma ICE intitulada “Stop TTIP”. Nessa proposta, os cidadãos pediam à CE que recomendasse ao Conselho a revogação do mandato que este lhe tinha outorgado para negociar o TTIP (acordo de comércio e investimento com os EUA) e que se abstivesse de celebrar o CETA (idêntico acordo com o Canadá).

Inesperadamente, em Setembro de 2014, a CE sai-se com uma justificação formal e dúbia para negar liminarmente o registo da ICE: um mandato de negociação não é um “acto legal” que possa ser objecto de uma ICE. [Read more…]

Valha-lhes São Schäuble

Com estas palavras de Pierre Moscovici, a Comissão Europeia deitou para o lixo um ano de discurso do medo.

PSD, CDS e outros terroristas da palavra ficaram desarmados e balbuciam incoerências, mas apenas porque a sua profissão é não estar calados.

Jornalistas, à míngua de apocalipses para títulos, gaguejam e nem São Schauble, padroeiro dos sem alternativa, lhes vale.

Enfim, uma chatice! Pior: uma geringonça! Pior ainda: o diabo!

O OE2017 está em “sério risco de incumprimento”

Can’t you see I’m easily bothered by persistence?
— Darrell, Paul, Anselmo & Brown, “Walk

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Saúde-se a Comissão Europeia por “não avançar com uma suspensão de fundos a Portugal”, mas lamente-se profundamente a decisão de “deixar passar a proposta de Orçamento do Estado para 2017”.  Ao contrário daquilo que a Comissão Europeia anda por aí a “revelar”, o Orçamento do Estado para 2017 não está em mero “risco de incumprimento” coisíssima nenhuma (como diria Gaspar).

Se a Comissão Europeia lesse com atenção aquilo que se publica no Aventar, saberia que os OE da República Portuguesa estão, isso sim e há muitos anos (lembrete: desde 2012), em “sério risco de incumprimento” das regras que o seu criador estabeleceu quer para si próprio, quer para os serviços, organismos e entidades que de si dependem, quer para o sistema educativo, quer para o sítio do costume.

O sítio do costume? Bem lembrado.

dre16112016

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Confirma-se, foi só para prejudicar um governo não desejado

Comissão aceita OE e não propõe suspensão de fundos a Portugal“. Embrulha, Schäuble (e súbditos portugueses, por arrasto).

Ainda não é desta, Belzebu

belzebu

Nem vale a pena perder tempo com os profetas da desgraça, que, tal como haviam feito quando o alarme das sanções soou pela primeira vez, em resultado do não atingimento das metas do défice que o (des)governo Passos/Portas a todos proporcionou em 2015, voltaram a espetar-se violentamente contra uma parede de betão. Não só não vale a pena, como é muito divertido assistir aos números de circo com que alguns fanáticos da direita radical nos vão presenteando, dia após dia, enquanto as suas organizações partidárias predilectas se vão afundando em sucessivas sondagens. Depois de quatro anos e meio de governação danosa e doses industriais de propaganda, entreter-nos com exercícios de palermice e figuras tristes é o mínimo que podem fazer.  [Read more…]

Ou sim ou sopas

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Foto: dpa

Diz um ditado alemão que “até uma galinha cega acaba por encontrar um grão”; pois foi o que aconteceu, a Comissão Europeia encontrou um saboroso grão: a insuficiente protecção dos lençóis freáticos e consequente contaminação da água potável com níveis demasiado elevados de nitrato. Depois de vários avisos, a Comissão instaurou agora junto do Tribunal Europeu uma acção judicial contra a Alemanha.

A principal causa dos elevados valores de nitrato é a prática agrícola de fertilização da terra com chorume e estrume. Em exagero, o nitrato polui a água doce, sendo tóxico tanto para plantas como para animais. Estudos indicam que a substância pode ser cancerígena. No ecossistema marinho, o excesso de nitrato contribui para a proliferação de algas e consequente aumento de bactérias aeróbicas, rarefazendo o oxigénio na água e provocando a morte de outros seres vivos (por exemplo peixes).

Enfim, já não falando no “pequenino defeito” resultante deste uso e abuso que é aspirar o cheiro nauseabundo quando se passeia pelos campos, pensando nisso, até beber água da torneira se pode tornar ligeiramente desconfortável.

Em caso de condenação, a multa poderá ser da ordem dos milhões de euros por dia. A França já foi condenada por idênticas razões, podendo a multa ascender a 3 mil milhões de euros.

Só é pena a falta de coerência entre os diversos ressorts da UE: distribuir multas a prevaricadores ambientais é uma óptima ideia, mas enquanto se continuar com uma política agrícola comum que privilegia totalmente a agricultura e pecuária intensivas, não é possível ter mão nos problemas e prejuízos ecológicos – degradação da paisagem, perda da biodiversidade dos ecossistemas, erosão do solo e poluição. Talvez começando por aí…

A “Europa” está podre

França fez “acordo secreto” com Comissão da UE para não cumprir metas do défice.

Passos Coelho school of economics

ppc

Em Abril, a propósito da intenção do governo de criar um veículo para lidar com o problema do crédito malparado, Pedro Passos Coelho reagiu assim:

A questão do crédito malparado não é uma questão urgente quando nós olhamos para a capacidade do sistema financeiro poder emprestar dinheiro à economia. Não há um problema do lado do financiamento à economia. Desse ponto de vista não é uma questão que seja maior e que nos imponha ações urgentes.

Portanto, no entender de Passos Coelho, o crédito malparado não é um problema urgente, o sistema financeiro tem dinheiro para emprestar e não existe qualquer necessidade de acções urgentes. [Read more…]

A traição de Carlos Moedas

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Foto: Rui Gaudêncio@Público

Longe vão os tempos em que, numa qualquer reunião de personagens sinistras, alguém sugeria “pôr o Moedas a funcionar”. Carlos Moedas continuará fiel aos princípios que sempre o nortearam política e ideologicamente, é certo, mas algo de muito estranho se passou para que, totalmente desalinhado com o discurso dos seus amigos e companheiros, outrora governantes falhados, hoje profetas da desgraça igualmente incompetentes, tenha protagonizado tamanha traição.  [Read more…]

Durão Barroso e Goldman Sachs: uma relação de transparência

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O jornal Público divulgou ontem duas novas informações sobre a relação entre Durão Barroso e o Goldman Sachs. A primeira é que, ainda na qualidade de presidente da Comissão Europeia, Durão recebia, confidencialmente e com alguma frequência, “sugestões” de alterações a políticas comunitárias provenientes do banco norte-americano. A segunda diz respeito à inexistência de qualquer registo sobre uma visita de Barroso à sede do Goldman Sachs em 2013, algo que, para além falta de transparência, revela um regime de excepção, na medida em que não existe registo de outros contactos desta natureza que não tenham sido devidamente documentados. [Read more…]

Durão Barroso tratado como lobista? Finalmente!

lobbyistPelas europas eurocratas, vai uma espécie de alarido, com Jean-Claude Juncker a apoplexizar indignações pelo facto de Durão Barroso se ter transferido para a Goldman Sachs. Neste momento, existe, até, a ameaça de que Barroso passe a ser recebido em Bruxelas como um simples lobista, sem direito às honras de antigo presidente da comissão.

Se Durão fosse francês, Juncker tudo perdoaria, mas o que me traz aqui hoje é manifestar o meu regozijo, porque um reconhecimento tardio não deixa de ser reconfortante: é que o antigo primeiro-ministro português sempre foi um lobista. Na realidade, o que é que o homem esteve a fazer estes anos todos em Bruxelas que não fosse contribuir para que a Europa se pusesse ao serviço das grandes empresas mundiais e alemãs?

É, portanto, justo que passem a tratá-lo de acordo com a função que sempre desempenhou, como um rei que, finalmente, ocupa o trono depois de desesperar pacientemente por se sentar nele. A Europa poderia aproveitar, aliás, a ocasião e atribuir o mesmo título a muitos outros, começando por Juncker.

Aproveito para confessar que o meu ouvido tendencialmente purista lida mal com a palavra “lobista”. Neste e em muitos outros casos semelhantes, ficaria melhor utilizar “lobisomem”: o lobby continua a ouvir-se e faz muito mais sentido, nesta selva cheia de predadores que ao roubo chamam austeridade, palavra demasiado séria para estar na boca de lobistas.

Pobre Apple

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Barraca da Apple no sul da Irlanda Imagem: Spiegel

Num paraíso fiscal chamado Irlanda, a Apple pagou uma taxa efectiva de imposto que baixou de 1% em 2003 para 0,005% em 2014  (quer dizer, 50 euros de imposto por um milhão de lucro); já os privilegiados dos contribuintes médios europeus têm direito a qualquer coisa entre 20% e 30% ou mais. É que a Apple estava mesmo a precisar de um “auxílio estatal” especial para ela, pobrezinha!

E como isto é uma grande injustiça, valorosamente, a Apple vai apresentar recurso da decisão da Comissão Europeia, para não ter de pagar os 13 mil milhões  adicionais que deve (vá lá, convenhamos que desta a Comissão fez um bonito, só falta não se esquecer agora da Starbucks e co.). E o mais provável é conseguir, pelo menos, uma forte redução desse valor, ameaçando que esta decisão “vai ter profundas consequências negativas para o investimento e para a criação de postos de trabalho na Europa”. Tanto mais que o ministério das finanças americano já criticou aberta e duramente o procedimento de Bruxelas na determinação de impostos, acusando a Comissão de querer agir como uma espécie de autoridade fiscal supranacional e prejudicar as empresas americanas. E como os americanos não se deixam ficar para trás nunca, já ameaçaram a Europa com uma guerra de impostos.  Äh…, alguém disse TTIP?

Bruxelas e as sanções: governo de Costa safa Passos Coelho

Há tempos, um dos argumentos da oposição era que Costa não tinha defendido o anterior governo com suficiente veemência e, portanto, essa era a causa das eventuais sanções. Foi um tiro de quem disparava para todo o lado, desde se pretender que essas sanções não eram devidas à governação da PAF, até esta tese sobre uma suposta deslealdade entre governantes.

Agora que a Comissão Europeia desfez o , para continuar a apertar o garrote da pressão política sobre o governo não desejado, pode-se afirmar que, afinal, Costa defendeu o legado de Passos, seja lá o que isso for, e que, portanto, o  safou do ónus de uma multa por não ter atingido a meta com que se comprometera.

Uma nota também para a Direcção Editorial do PÚBLICO. Na passada segunda-feira, esta escrevia que a “Espanha estará, assim, a salvo [das sanções] ou quase. Portugal, por sua vez, arriscou argumentar. ” Afinal, quem arriscou foi o PÚBLICO, o qual apostou que haveria sanções, nem se dando ao trabalho de publicar um desmentido sobre uma notícia, falsa, como se constata, que as dava como certas. Ter opinião parcial é legítimo, mas não pretendam que não tomam posição.

Por fim, estou curioso para ver como é que a oposição vai transformar uma notícia assim-assim, com potencial para ser até uma boa notícia, numa má notícia. Vá, vocês conseguem. Mas parece que não vos melhorará as intenções de voto. Afinal de contas, os portugueses querem soluções, em vez de carpideiras ressabiadas.

Quem Salva Quem?

Um filme de Leslie Frank e Herdolor Lorenz

O filme “Quem salva quem?” mostra como os resgates levados a cabo em vários países europeus na sequência da crise financeira despoletada em 2008, mais não foram do que uma estratégia neo-liberal para levar a cabo uma tremenda redistribuição de baixo para cima e um ataque ao estado social. Ninguém formulou esta realidade melhor que Mario Draghi, ex-vice-presidente do Goldmannn Sachs, actual presidente do BCE e que dirige a economia europeia:

“O modelo social europeu passou à história. A salvação do Euro custará muito dinheiro. Isso significa que teremos de abandonar o modelo social europeu”.

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Golpada CETA? ou Não, a Comissão não quer aprender

malmström cetaFoto: EurActiv

Mas a que espectáculo estaremos nós a assistir??? – pergunta-se apreensivo quem estiver a seguir o processo que, segundo intenção determinada da Comissão, deverá levar à assinatura e celebração do CETA (Acordo Económico e Comercial Global) entre a UE e o Canadá.

Poucos dias após o referendo sobre o Brexit, Juncker e a sua Comissão declararam peremptoriamente o CETA como Acordo “EU only”, ou seja, da exclusiva competência da UE e, portanto, a ser decidido em Bruxelas, com ratificação no parlamento europeu.

Porém, devido aos fortíssimos protestos de uma larga camada de cidadãos esclarecidos que se opõem ao CETA – assim como ao TTIP e TISA – em países como a Áustria, França, Alemanha ou Luxemburgo, os seus governantes não quiseram arriscar o conflito. E foi uma catadupa de reacções contra o plano da Comissão, exigindo a ratificação do CETA pelos parlamentos nacionais. [Read more…]

O melhor mordomo do mundo

DB

Foto: lainformacion.com

Já tínhamos o melhor jogador de futebol do mundo, o melhor treinador de futebol do mundo (e, se não estou em erro, o segundo melhor também), o melhor agente de futebol do mundo, o melhor corredor de maratonas BTT do mundo, o melhor praticante de jiu-jitsu do mundo (nem no Japão, toma!), o melhor lagar do mundo, o melhor peixe do mundo e, claro está, faltava-nos o melhor mordomo do mundo. Confesso que já acreditava nele antes mesmo do anúncio da mudança de bandeja e pano para o Financial District, mas o convite – chamemos-lhes assim – do Goldman Sachs é a grande confirmação que Portugal esperava. Nem sei como se deu tanta importância ao jogo da bola. [Read more…]