O grupo doméstico ou a construção conjuntural da reprodução social

familia20201.jpg?w=280&h=224     Como é habitual na prática de uma ciência, os conceitos mais antigos começam a perder a capacidade de subordinar fenómenos no processo explicativo. Isto ocorre por várias razões e parece-me que a mais importante é a descoberta de mais elementos no fenómeno, a maior clarificação do processo, a luz que, por fim, se faz na identificação das ideias ainda não expressa do real. Se pensarmos que o conhecimento científico é o processo de subordinar o desconhecido ao conhecido, estruturado em conceitos, modelos e ideologia (a materialidade das ideias), é possível explicar-se a inflação de fenómenos que diminuem a capacidade explicativa do conceito; se pensarmos que as ideias ali sintetizadas são resultado da experiência histórica heterogénea que os homens vão construindo, podemo-nos render à evidência de que, por vezes, é necessário voltar a definir para saber do que falamos para quem e desde quando.

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Factores de reprodução social em sistemas rurais: trabalho, produção e pecado em aldeias camponesas

1 – O problema

          Embora num sistema rural se possa definir pela cultura que nele surge como dominante, seja porque proporciona o sustento ou o dinheiro, seja porque ocupa a maior parte do tempo de trabalho, e por fim, da criação da sociedade e cultura, com ele coexistem outras actividades produtivas que o complementam. No caso das aldeias, que tenho estudado no Chile e em Portugal, produtoras de uvas e de vinho, ou nas aldeias produtoras de leite que estudei na Galiza, o milho, as batatas, as azeitonas, as hortaliças, os animais, as matas, compõem o contexto mais amplo dentro do qual se desenvolve o trabalho principal. A  produção  de  tecnologia e a renovação dos instrumentos são também parte do processo de trabalho. [Read more…]

Economia e religião nas culturas letradas: o pecado como conceito da reprodução social

atrio

1. O Problema

         Todos os povos idealizam as formas segundo as quais os bens serão produzidos, distribuídos e consumidos. Se esta actividade está ou não dividida em estruturas e instâncias, e qual delas assume precedência por sobre as restantes, é um problema do investigador, cuja técnica de conhecimento contém os limites do seu saber. Pode-se dizer que, para as pessoas que trabalham, o conhecimento daquilo que fazem, como, quando, quanto e com quem passa por avaliações e decisões que dependem também do seu próprio entendimento do mundo. Assim sendo, penso que existe apenas uma forma de abordar este processo, definindo os conceitos que usamos para escutá-lo: se é certo que todos os povos produzem, não é menos certo que todos sabem como o fazer. É neste conjunto que temos de introduzir a dimensão temporal para entender como se combinam as ideias e as actividades. Ao longo do tempo, o conceito de economia tem variado desde o conjunto doméstico que trabalha, dividindo as actividades segundo as formas de classificar pessoas dos gregos clássicos, até à teoria independente que se pronuncia sobre as qualidades das coisas, teorizando e estudando a sua acumulação, cujo controlo passa a classificar as pessoas. [Read more…]

Casamento, ritual e lucro: a produção de produtores numa aldeia portuguesa (1862-1983)

rituais de casamento       1. O Problema.

 Falar em produção de produtores significa, para mim, falar nos meios, ritualizados ou não, através dos quais tem lugar a produção de seres humanos que trabalham a terra. A produção de produtores é uma parte de um processo muito mais vasto de reprodução social. Torna-se necessário, por isso, esclarecer, antes de mais, o que entendo por reprodução social e o que esta é enquanto processo.

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as minhas memórias-5-reprodução social

A Universidade fundada por Andrés Bello. Antes, existía a Real de San Felipe

Estou ciente de ter escrito sobre parte da vida política e social do Chile, especialmente sobre a vida da reprodução humana. No entanto, estou também consciente de que falar de reprodução humana, é definir quais as formas em que a população vive, aprende, sabe, contribui para o crescimento do País.

A primeira ideia que aparece na minha cabeça, é a de que o Chile é um país novo relativamente ao conjunto de Estados que existem no nosso planeta. Bem sei que este ano cumprimos 200 anos de independência da coroa de Espanha e, como país y Reyno, 368 anos antecedem a Independência. No conjunto, o Chile existe como memória escrita há cerca de quinhentos anos. Anteriormente, era habitado por etnias ou nativos do país, de que pouco ou nada se sabe, pela inexistência da escrita sendo a memória guardada em lendas, histórias que passavam de uma para a outra geração, ou pelas hierarquias definidas entre os nativos. [Read more…]