Da importância político-religiosa do cu

vai-tomar-cu Luís Manuel Cunha

Advertência – o texto que se segue não é propriamente um texto edificante. Menos ainda escrito em português suave, pelo que mereceria talvez uma bolinha vermelha no canto superior direito da página. Depois, não me venham dizer os leitores que não foram avisados. Vamos lá então.

Francisco José Viegas, ex-secretário de Estado da Cultura deste Governo de fedelhos amaricados que governa Portugal, escreveu que, no exacto momento em que um fiscal mais zeloso lhe perguntasse, enquanto consumidor final, pela facturinha do café acabado de tomar, dir-lhe-ia simplesmente: “Vai tomar no cu”. Como era suposto acontecer, logo se insurgiram contra ele as costumeiras almas púdicas. E até o inócuo catedrático da verborreia lusíada, Marcelo Rebelo de Sousa, decretou, com aquele ar manhoso de tudólogo sonso, que Viegas acabaria apenas por tornar-se conhecido mercê desta reacção tornada pública. Esqueceram-se todos, como muito perspicazmente refere Ricardo Araújo Pereira, que o cu em que Viegas manda tomar não passa de um cu simbólico, “uma metonímia de vários outros cus” bastante mais poderosos, numa espécie de “hierarquia de cus” até chegar ao “cu-mor, responsável último pela ideia da fiscalização das facturas.” [Read more…]

Tomar no cu: o esplendor da lusofonia

tumblr_lqpykqnRXN1qhrgdxFrancisco José Viegas (FJV) tornou pública a ameaça de mandar tomar no cu qualquer fiscal que queira confirmar se o ex-secretário de Estado pediu a factura das despesas realizadas. Especifica, ainda, que tal ameaça poderá ser concretizada “à saída de uma loja, um café, um restaurante ou um bordel (quando forem legalizados)”.

Em termos formais, é importante começar por notar que há alguma desregulação ortográfica no texto de FJV: enquanto secretário de Estado defendeu a aplicação do chamado acordo ortográfico; o blogger, embora, aparentemente, siga as regras que constam da reforma de 1945, prefere escrever má-criação sem hífen, o que é, no fundo, uma maneira de tratar a ortografia como se fosse um fiscal das Finanças. [Read more…]