As línguas estão cheias de passado e o passado, já se sabe, nem sempre é um país recomendável. Há por lá uns crimes de sangue, resquícios de colonialismo, racismo com o rabo de fora, disputas antigas entre bisavós que perduram nos bisnetos, antigos insultos com prazo de validade indefinido.
O passado europeu, sendo alegadamente branco, tem um lado negro.
(Cá está: negro, mau, terrível. Será só uma tradicional questão de trevas, mas não faltará quem, correctamente político, se insurja, a lembrar que há a cor da pele de quem se pode sentir ofendido)
Não nos iludamos: a culpa do homem branco tem razões fundas, porque, sob a capa da civilização que levou a outros mundos, houve e há violências várias, desculpáveis ou desculpadas com o contexto, com a cultura do tempo. Nada disso nos deve tolher algum horror (porque um acto histórico pode ser estudado, compreendido e revoltante), como também não nos pode levar a uma culpabilidade eterna, a fazer lembrar o cordeiro que pagou pela água que o avô teria sujado.
Bernardo Silva, grande jogador de futebol e rapaz bem-disposto, publicou, no tweet, uma piada racista, atingindo Mendy, um colega de cor escura, que se divertiu com a piada. Não sei se sabem, mas é possível dizer piadas racistas sem se ser racista, contar anedotas de alentejanos sem estar a dizer mal dos alentejanos, brincar com a nula inteligência das louras estereotipadas. Não sei se sabem, mas brincar com um assunto não é necessariamente ser leviano, é só brincar. A fronteira que separa isso do mau gosto ou da agressão fica perto? Fica, mas ainda deveria ser possível distinguir os territórios.
Recentemente, faleceu Roberto Leal, o homem que se agigantou quando aceitou o convite de Bruno Nogueira para levar ao máximo todas as suas características ridículas ou risíveis em O Último a Sair. Ricky Gervais criou, entre outras manifestações de génio cómico, uma série em que brincava com deficientes ou com racismo e uma outra em que a personagem principal é um anão, sendo esta característica uma das fontes de humor do programa.
Bernardo Silva arrisca-se, em nome de um politicamente correcto que acabará no inferno das boas intenções, a ser castigado. Já se sabe que, sendo jogador do Manchester City, é um privilegiado e poderá bem arcar com as consequências, ao contrário de muitos outros que, pelo mundo, fora são vítimas do verdadeiro racismo ou de outras opressões igualmente terríveis.
No mundo do futebol, dentro e fora de campo, entre jogadores, treinadores e adeptos, circula uma quantidade de insultos nem sempre saudável e nem sempre terrível. Não digo que seja simples, mas anda gente pelo mundo a complicar.
“Conguito” não é aceitável, dizem eles. E “filho da puta” pode ser? É só um exemplo, uma simples pergunta. Vede a resposta de Pinto da Costa, um homem nem sempre admirável, muitas vezes censurável, mas que, no vídeo que se segue, consegue, com humor, explicar a diferença entre “filho da puta” e “filho da puta”. Não é Alberto Pimenta, mas também está bem.
António Fernando Nabais no seu melhor.
Excelente a comparação.
Parabéns pelo artigo nabais. Na “mouche” (que é como quem diz – acertou em cheio).
Concordo com o artigo, mas, sendo Bernardo Silva Português e nºao jogando/mandando o Benfica em Inglaterra, as coisas acontecem, vai servir de exemplo… Relembro que tentaram acusar o FCP (adeptos) de racismo. Felizmente a UEFA teve mais bom, mas que tentaram tentaram e jornalistas fizeram disso um caso brutal! Azar Bernardo Silva está num pais mais bruto, racista, veja-se o primeiro ministro que têm, vai ser castigado pois não há colinho.
uma piada racista
Não vejo em que é que é racista.
A imagem postada por Bernardo Silva limita-se a comparar Mendy ao boneco dos Conguitos. É uma piada que afirma que “Mendy é parecido com o boneco dos Conguitos”. Seja essa comparação apropriada ou não, ela nada tem de racista, porque, embora a comparação incida sobre a raça (a cor) de Mendy, o boneco dos Conguitos não é uma imagem depreciativa nem está investido de quaisquer más qualidades.
Ou seja, afirma-se que Mendy tem uma determinada cor (o que é um facto), mas nada de mau ou depreciativo é associado a essa cor. Logo, não é racista.
Brilhante… Agora vá lá explicar isso aos seus correligionários britânicos adeptos da ideologia do PC. (não esse PC, o outro).
Meus correligionários?! Eu nem sequer tenho religião…
Nada mais racista que negar as raças.
Mas o corretês e a estupidez são sinónimos.
Biologicamente falando, não há raças. Isso é inegável.
Mas que as hão, hão.
Pois!
Lá está o JgMenos a latir, armado em Rotweiller!
Pois!
Prova-se que, afinal há raças! Pelo menos, Menos tem uma!